Em junho deste ano, o Brasil se chocou com o caso do instrutor de surfe, Matheus Ribeiro, um jovem negro, que aguardava a namorada em frente a um prédio no Leblon, quando foi acusado de roubar uma bicicleta por um casal branco. Na tarde desta quinta-feira (5), a Justiça do Rio de Janeiro determinou que o caso fosse arquivado.
A decisão partiu do magistrado Rudi Baldi Loewenkron, que afirmou não descartar a possibilidade de “descuido” por parte do casal, mas insistiu que as acusações não poderiam configurar calúnia, já que não houve dolo, o que significa que, aos olhos da justiça, Mariana Spinelli e Tomás Oliveira não tiveram a intenção de acusar Matheus falsamente.
Relembre o caso
A injustiça aconteceu em junho e teve grande repercussão na web e na imprensa nacional. Na época, Matheus aguardava a namorada na porta de um shopping, na Zona Sul do Rio, com sua própria bicicleta elétrica, quando foi acusado por Spinelli e Oliveira de furtar o objeto. A justificativa da dupla para a acusação seria de que o veículo, supostamente, teria grandes semelhanças a uma bike que pertencia ao casal e que havia sido roubada recentemente.
Matheus então foi obrigado a provar que a bicicleta era mesmo sua e os dois só recuaram quando descobriram, por conta própria, que estavam enganados – isso apenas após tentarem e falharem em abrir o cadeado da bike com a chave que possuíam. Ao postar um vídeo do momento nas redes sociais, o instrutor de surfe denunciou o racismo que sofreu. “Isso não foi um desespero de quem foi furtado, isso é o desespero do racista quando vê a gente perto. […] Ela não tem ideia de quem levou sua bicicleta, mas a primeira coisa que vem à sua cabeça é que algum neguinho levou”, desabafou ele, em sua conta no Instagram.
Nascido e criado no Complexo da Maré, comunidade da Zona Norte do Rio, Matheus trabalha desde 2018 como instrutor de surfe e virou referência no local por incentivar o esporte na periferia. No início de 2021, ele comprou a tal bicicleta elétrica numa plataforma de compra e venda e pagou R$4.500 pelo veículo. A repercussão da situação no Leblon, no entanto, rendeu uma investigação contra o próprio Matheus, depois que a Polícia Civil do Rio descobriu que o veículo adquirido por ele na internet havia sido furtado anteriormente de um empresário em Ipanema, em fevereiro deste ano.
Matheus, por sua vez, afirmou não ter conhecimento de que o produto era de origem ilícita. “Não, a gente (Matheus e a namorada) nunca faria uma coisa do tipo. Por ser uma bicicleta usada, a gente especificou que tivesse próximo de metade do valor de uma bicicleta nova”, revelou ele em entrevista ao Fantástico. A polícia apreendeu o veículo para devolvê-lo ao “legítimo proprietário”, mas não investigou quem vendeu o produto roubado e nem mesmo a plataforma.
Entretanto, em 16 de junho, as autoridades identificaram o verdadeiro suspeito de ter furtado a bicicleta: um homem branco, que já foi preso 7 vezes e tem 28 passagens pela polícia, 14 delas por furto a bicicletas. No apartamento de Igor Martins Pinheiro — também conhecido como “Lorão” — foram localizadas a bermuda que ele usava no momento do crime e ferramentas comuns, como um alicate de corte, geralmente utilizado para arrombar cadeados. Imagens de câmeras de segurança, obtidas pelo jornal “O Globo”, mostraram a ação dele, que levou cerca de 40 segundos. Assista:
“Chegamos a ele através de uma testemunha que viu o caso e pensou que era algo normal e análise de câmeras de segurança. O suspeito foi reconhecido pela inteligência da delegacia. Ele é um criminoso contumaz. Ele foi preso quando saía do prédio onde mora com a mãe e o irmão. Ele foi abordado por volta das 18h de ontem, e conseguimos o mandado de prisão através do Plantão Judiciário”, contou a delegada Natacha Oliveira, titular da 14ª DP, para o jornal na época.