Uma discussão acalorada tomou conta do programa “CNN 360”, da CNN Brasil, nesta quarta-feira (3). Na ocasião, a jornalista Daniela Lima e o ministro do Trabalho e Previdência Onyx Lorenzoni falavam sobre a portaria que proíbe exigir comprovante de vacinação contra Covid-19 em empresas privadas. O integrante do governo do presidente Jair Bolsonaro defende que os testes, quando feitos duas vezes por semana, são suficientes para garantir a proteção coletiva no ambiente de trabalho.
Segundo Onyx, as próprias empresas teriam que fornecer os testes para as pessoas que têm o “direito” e escolhem não se vacinar, algumas delas por problemas de saúde. “Não, ministro. Eu acho que o senhor tem o direito e, mais do que merecido, o espaço para defender a portaria que editou. Mas eu tenho uma preocupação muito grande em não desinformar sobre a vacina. Quem tem doença grave, tem que ouvir um médico antes de tomar qualquer tipo de medicação e não só a vacina. Só um instante, ministro, por favor”, disse Daniela, impedindo que o ministro a interrompesse.
“Sobre o Reino Unido, o senhor citou, e nós entrevistamos aqui um médico para explicar o que acontece lá. O Reino Unido tem cerca de 65% da população completamente vacinada. Existem novos casos de Covid, sim, mas não tem alta de internação, de hospitalização e nem de mortes. A vacina está freando as mortes. Sobre a portaria, eu queria saber quem o governo ouviu? O governo ouviu os patrões? Os sindicatos estão indo à Justiça. Quem o governo ouviu?”, continuou Daniela.
“Tu reconheceu que as pessoas estão adoecendo na Inglaterra. Teoricamente, a vacina está diminuindo o número de internações. Agora, a pessoa que tem a doença é óbvio que contagia”, rebateu o ministro.
Daniela continuou o debate, defendendo que a vacina é o melhor caminho para frear as contaminações: “Sim, por isso que advogar para as pessoas não serem vacinadas é basicamente abrir a porta para a morte. Advogar para as pessoas terem o direito de fazer roleta russa. A vacina é um cinto de segurança, não é licença para beber e dar com a cara no muro. Você usa o cinto de segurança. Ela não é cura, ela previne os sintomas graves e morte em um percentual expressivo da população. Defender a não vacinação, é defender que a pessoa possa andar com um revólver na cabeça”.
A discussão, que ainda era acompanhada pela jornalista e analista política Basília Rodrigues, pegou fogo mesmo quando o ministro sugeriu que Daniela não fazia parte de uma minoria e, por isso, “apoiava a demissão” de não vacinados.
“Discordo. Por favor, a senhora vai me deixar explicar? Minha senhora, onde eu defendi na portaria a não vacinação? A senhora está querendo colocar a sua narrativa na minha conduta. A senhora está sendo incorreta. A portaria é uma proteção do direito individual daquele cidadão que trabalha na empresa e, seja lá qual for a sua razão, não queira ser vacinado, eu estou impedindo que seja demitido. É muito cômodo estar na aparente maioria. É difícil estar na minoria. Quando a senhora estiver em uma minoria, a senhora vai querer que o ministro do Trabalho defenda”, disse Onyx.
Neste momento, Daniela lembrou que ela é mulher e, assim como Basília, que é uma mulher negra, não é minoria na população, mas é minoria em cargos de chefia. “O senhor está falando com duas mulheres que conhecem o que é ser minoria”, afirmou a jornalista.
Onyx, visivelmente irritado, disse: “A senhora não se preocupe, porque as mulheres não são minoria no Brasil”. Daniela, mais uma vez, o rebateu: “Não numericamente, mas são minoria nos postos de trabalho. Quantas o senhor tem como colega nos ministérios? Além da ministra Damares, ministra Tereza e Flávia? São quantas mulheres e quantos homens?”.
“Não são minoria, não. A questão que estou tratando aqui não tem nada a ver com minoria de gênero — e isso ajuda a sua narrativa. Esse é o equívoco da senhora e do seu veículo [a CNN]. O que estamos tratando aqui é que estou defendendo empregos; a senhora, defendendo a demissão de pessoas porque não desejam — ou têm situações de saúde — que não podem tomar a vacina. A senhora quer que ela tome e, se ela morrer, problema dela, e não seu”, rebateu Onyx, atacando a emissora.
Neste momento, a jornalista disse que ia se retirar da conversa, para que a entrevista pudesse continuar. “Ministro, claro que eu não estou defendendo a demissão. O ministério do Trabalho pode defender o trabalho de várias formas, mas não colocando em risco a saúde pública. Não é uma narrativa minha e nem da CNN“, completou Daniela. Após a discussão, Basília assumiu o comando da conversa. Assista à entrevista: