Polícia aponta contradições em depoimentos de tiktokers investigadas por racismo e suborno

Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves são investigadas pela polícia do Rio de Janeiro

Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves

As tiktokers Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves foram acusadas de racismo após publicarem vídeos entregando um macaco de pelúcia e uma banana para duas crianças negras como parte de um “conteúdo” para o perfil da dupla. Nesta quinta-feira (22), elas prestaram depoimento na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Rio de Janeiro, mas as autoridades apontaram contradições nas falas. As informações são do g1.

Além de serem investigadas pelo crime de racismo, elas podem responder por injúria racial contra uma mulher negra. Desta vez, porém, elas foram ouvidas em inquérito que apura coação e suborno.

Segundo os policiais, a mãe de uma das crianças relatou que foi procurada pelas influenciadoras e coagida por ambas. De acordo com a moça, Kérollen e Nancy teriam oferecido dinheiro, cesta básica e até assistência jurídica de uma advogada para que ela desmentisse o que havia dito para as autoridades.

Em mais de três horas de depoimento, no entanto, mãe e filha entraram em contradição sobre o que teria acontecido. Nancy negou que tenha oferecido ajuda à mãe da menina e afirmou que a responsável pela criança havia dado autorização para que ela divulgasse o vídeo. Segundo ela, o contato foi feito antes da divulgação. Kérollen, ao contrário, afirmou que elas só entraram em contato com a mãe da criança após o depoimento, em 12 de junho.

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A mãe, catadora de recicláveis, disse aos policiais que só soube do vídeo após a repercussão e que esse pedido de autorização nunca existiu. Ela contou que estava em casa quando a gravação aconteceu, e que as filhas tinham ido buscar pão. “Ela parou a minha filha de 10 anos e perguntou se podia gravar. Minha filha achou aquilo estranho e disse que iria me chamar. Mas elas falaram que sempre gravavam com crianças e que não era nada demais. Depois da gravação, a minha filha insistiu e foi me chamar. Como eu não entendo nada disso, elas falaram comigo que minhas filhas eram uma graça e foram embora sem citar a gravação”, lembrou.

Segundo ela, foi uma sobrinha que alertou sobre o racismo do episódio: “Foi a minha sobrinha que contou o que tinha acontecido. Contou que a minha filha de 8 anos havia sido vítima de racismo. Aí, depois que veio à tona, a Nancy me procurou dizendo que iria me dar uma cesta básica, me daria dinheiro para eu ir na advogada dela e que tudo estava resolvido. É obvio que ela estava tentando me subornar”.

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O advogado Alexandre Moura Dumans, que representa as vítimas, afirmou que a família tem vivido “constragimentos” após o caso. Segundo ele, a criança não tem frequentado a escola, após ser chamada de “macaca”. “Elas ofereceram vantagens e isso cabe danos morais. O que elas cometeram foi um crime de racismo recreativo e agora cometem outro crime oferecendo vantagens a essas pessoas humildes. Elas se aproveitam das condições dessa família”, explicou.

“Após elas prestarem depoimento e terem acesso aos depoimentos, as influenciadoras passaram a mandar mensagens em um aplicativo para que a mãe das crianças mudasse o depoimento. Isso caracteriza coação e obstrução. Além disso, a criança não está indo à escola porque está sendo chamada de macaca. Agora, essas influenciadoras tentam oferecer vantagens para que o caso não prossiga”, acrescentou Marcos Moraes, que também atua na defesa das famílias.

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Após a repercussão, as tiktokers alegaram que os vídeos foram “tirados de contexto”. Elas alegam que sempre promoveram inclusão, diversidade e igualdade em seus perfis e que “naquele contexto não havia intenção de fazer qualquer referência a temáticas raciais ou a discriminações de minorias”. Clique aqui para ler a íntegra.

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