Nesta sexta-feira (30), a Polícia Civil do Rio de Janeiro indiciou o vereador Dr. Jairinho por tortura majorada contra a filha de uma ex-namorada do parlamentar. As agressões contra a criança aconteceram entre os anos de 2010 e 2013. Durante a entrevista coletiva com a imprensa, o delegado Adriano Marcelo França, titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV), deu mais detalhes sobre a investigação, e relatou o pânico que a vítima tinha de ver o carro do parlamentar.
“A figura do doutor Jairinho trazia lembranças das agressões. Ela ficava segurando na perna da avó para não ir ao encontro do Dr. Jairinho. Quando os familiares identificaram a ânsia de vômito e o pânico na criança, ela foi afastada do convívio de Jairinho. A criança foi praticamente criada pela avó por questões familiares”, afirmou Adriano, antes de acrescentar que a prisão preventiva do político já foi solicitada. As investigações estão sendo feitas na 16ª DP, localizada na Barra da Tijuca — mesmo local em que a morte do pequeno Henry Borel, de apenas 4 anos, tem sido averiguada de forma paralela. Dr. Jairinho é apontado pelas autoridades como o principal suspeito na morte do garotinho.
No indiciamento do vereador por tortura, os investigadores conseguiram provas documentais a partir dos relatórios médicos de hospitais para onde a criança foi levada na época das agressões. Ao todo, foram quatro laudos obtidos para serem usados como provas. Por se tratar de um outro inquérito, o caso foi transferido da 16ª DP para a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV).
Quando o caso de Henry Borel veio a público, o pai do garotinho, Leniel Borel, recebeu uma mensagem da ex-namorada de Jairinho, relatando as agressões que a filha teria sofrido. “Eu fui negligente por não ter feito nada quando isso aconteceu com a minha filha […] Ela tinha a idade do seu pequeno, 4 anos, e eu me culpo todos os dias da minha vida”, confessou a mulher no texto. A iniciativa foi suficiente para a polícia iniciar as investigações.
Na mesma data em que Jairinho foi preso por conta das investigações no caso de Henry, ele também foi interrogado sobre as agressões contra a filha de sua ex-namorada. Segundo o delegado Adriano França, as provas colhidas são mais do que suficientes para desmentir a versão dada pelo parlamentar. “Em determinados momentos ele diz não estar com determinadas crianças e em determinados locais. Porém, fotos mostram o contrário. A mãe dessa criança não foi indiciada. O crime aqui é de tortura majorada, por ser criança e por um período de dois anos”, explicou.
“Essa criança narrou e confirmou as agressões cometidas pelo indiciado, conhecido pelo nome político de Jairinho. Toda versão apresentada por Dr. Jairinho foi derrubada pelas provas documentais e pelo depoimento”, reforçou o delegado. O portal G1 entrou em contato com os advogados de defesa de Jairinho, mas os profissionais não tiveram condições de responder sobre o indiciamento. “Eu recebi a cópia integral do inquérito, vou analisar e dou um posicionamento ainda essa semana sobre”, disse o advogado Brás Santana.
A investigação de agressão e tortura
Desde o momento em que Jairinho foi apontado pela polícia como o principal suspeito na morte de Henry Borel, outros relatos de possíveis agressões do vereador contra crianças que eram filhas de suas ex-namoradas também foram expostos. No caso da denúncia que gerou o indiciamento do parlamentar, o diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), delegado Felipe Curi, explicou que as violências aconteceram entre os anos de 2010 e 2013.
“Essa investigação surgiu no bojo do caso Henry. A responsável legal por uma criança, que entre os anos de 2010 e 2013, sofreu agressão comprovada pela investigação. A época, essa criança tinha entre 3 e 5 anos. Essa criança sofreu uma série de violências e até tortura”, revelou.
Felipe também explicou por qual motivo a mãe tomou a iniciativa de denunciar somente agora. “Com o caso do Henry, ela criou coragem e acabou denunciando. Esse caso não tem nada a ver com o caso Henry, mas surgiu no bojo da investigação. Esse caso serve para corroborar o perfil violência do Dr. Jairinho contra menores filhos das pessoas que ele tem relacionamento amoroso. Isso ficou comprovado na investigação que foi concluída e na investigação que está em andamento”, afirmou. O delegado ainda acrescentou que a mulher não foi indiciada na investigação, e que é tratada como vítima de violência doméstica.
Ainda, Felipe Curi relatou que as investigações mostraram um certo padrão nas agressões que Jairinho cometia. “São crianças da mesma faixa etária e as lesões praticadas chamam atenção. As crianças narraram agressões semelhantes. Afogamento na piscina, chutes, socos, torção no braço”, detalhou. “Da mesma forma que era violento, ele tinha um lado carinhoso. Esse lado carinhoso era na presença das mães, em festas. O perfil violento dele era feito de forma clandestina, na clandestinidade”, acrescentou o delegado.
Entenda o caso Henry Borel
Em coletiva de imprensa realizada no dia 8, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que a babá do menino Henry Borel, morto no dia 8 de março, avisou à mãe da criança, a professora Monique Medeiros, que o garoto vinha sofrendo uma “rotina de violência” por parte do vereador Dr. Jairinho, namorado dela. Em um primeiro depoimento, Thayná de Oliveira omitiu informações a pedidos da pedagoga, mas voltou atrás após as autoridades encontraram trocas de mensagens, nas quais ela alertava a patroa sobre as agressões.
Além da babá, Leila Rosângela de Souza Mattos, doméstica que trabalhava para o casal, também sabia de episódios de agressão a Henry. Embora o inquérito ainda não tenha sido concluído, a polícia acredita que o menino foi assassinado, e aponta Jairinho e Monique como suspeitos de homicídio duplamente qualificado – com emprego de tortura e impossibilidade de defesa da vítima.
A polícia afirma que Dr. Jairinho teria praticado pelo menos uma sessão de tortura contra o enteado, semanas antes da morte da criança. Ainda segundo as investigações, Monique sabia de agressões, pelo menos, desde fevereiro. No dia 12 daquele mês, o vereador teria se trancado no quarto do apartamento onde o casal vivia e agredido o menino com chutes, rasteiras e golpes na cabeça. Confira a íntegra das conversas da babá de Henry com a mãe do garoto, clicando aqui.
Na manhã do dia 8 de abril, Jairinho e Monique foram presos, suspeitos não só por homicídio, como também por ameaçarem testemunhas e atrapalharem as investigações. Os mandados foram expedidos pelo 2º Tribunal do Júri, e o padrasto e mãe da vítima permanecerão detidos preventivamente por 30 dias. Até então, o vereador e a professora negavam qualquer envolvimento com o assassinato de Henry e alegavam que o óbito teria sido decorrente de um acidente doméstico. Segundo o jornal Metrópoles, ao chegar na delegacia o político disse que tudo não passava de uma “injustiça“.
Diante dos desdobramentos, a vereadora Teresa Bergher, membro do conselho de ética da Câmara, pediu que Jairinho fosse afastado do cargo de vereador do Rio de Janeiro. “[Ele] Precisa ser afastado imediatamente. Pela imagem da casa, pela credibilidade de cada um de nós vereadores e por respeito a esta criança vítima de um cruel assassinato e a toda a população que representamos”, afirmou ela ao G1.