Produtora de moda registra boletim de ocorrência após denunciar racismo em loja de luxo em São Paulo, e desabafa: “Muito dolorido”

Na última quinta-feira (21), a produtora de moda Naiara Albuquerque afirmou ter sido vítima de racismo dentro da loja de acessórios de luxo Lool, no shopping Iguatemi, em São Paulo. Hoje (26), a profissional revelou que fez um boletim de ocorrência. Ela também conversou com o hugogloss.com, detalhando a discriminação que sofreu por ser uma mulher negra e ter o atendimento negado por uma das vendedoras.

Na ocasião, Naiara tinha um compromisso pré-agendado com o estabelecimento, já que iria selecionar peças para a atriz Taís Araujo usar na série “Aruanas”, da Globo. A autorização tinha sido dada pelo departamento de marketing previamente. No entanto, ao chegar na porta, o primeiro estranhamento… “A vendedora da loja se negou ao atendimento e pediu que eu ficasse do lado de fora”, lembrou Albuquerque. No início, a produtora acreditou que fosse um protocolo de segurança contra a Covid-19, já que uma outra cliente estava sendo atendida.

A jovem decidiu andar pelo shopping e voltar após os 15 minutos que foram pedidos pela vendedora. Foi aí que ela teve certeza que estava sendo discriminada, ao perceber que quatro clientes brancas foram recebidas ao mesmo tempo pela mesma funcionária da Lool. “O [atendimento das] demais clientes acontecia normal. Depois de retornar o momento em que a vendedora me pediu, ela continuou se negando a fazer o meu atendimento”, contou.

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Naiara Albuquerque registrou o boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). “Com a esperança que esse crime seja julgado de forma sensata e correta pelo racismo que sofri da vendedora dentro da loja e pela vergonha que eu passei diante de duas clientes”, falou. A produtora de moda revelou ainda esperar que a Lool se posicione coerentemente sobre o caso, e que isso sirva de exemplo para outras empresas.

“Inclusive, para as outras pessoas que sofrem esse tipo de crime, que não se calem, tenham coragem de denunciar, de expor, porque é algo muito dolorido, muito sofrido. Acaba sendo algo recorrente, porque a gente acaba se calando. Não expomos por medo, por receio, por achar que não vai ser levado adiante, e às vezes não legitimamos como crime. A lei tá aí pra isso! Espero que haja uma retratação digna da loja por conta desse ocorrido horrendo”, finalizou.

Naiara percebeu que clientes brancas eram atendidas normalmente, mas a vendedora pedia para ela voltar depois. Foto: Johnny Moraes

Para a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, a advogada de Naiara, Juliana Souza, falou sobre o caso. “Se trata de uma discriminação direta. É racismo porque ela não pôde permanecer dentro da loja, a vendedora reiteradas vezes se negou a atendê-la. Seguimos em busca de Justiça e reparação, por corpos e vozes dissonantes em todos os espaços”, disse a profissional, que acompanha o caso junto da advogada Silvia Souza.

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No Instagram, a Lool publicou um comunicado dizendo que soube do ocorrido pelas redes sociais, e afirmou que a atitude está “completamente em desacordo com seus valores”. “Nunca compactuamos com qualquer ação discriminatória, seja ela racial, de gênero, sexualidade ou classe, e seguimos não compactuando”, escreveu. O post ainda anunciou que a fundadora da marca entrou em contato com Naiara. “Foi um passo importante para a empresa. O pensamento nos atravessa neste momento. Desde políticas internas de contratação a consultorias e treinamentos com nossos colaboradores”, compartilhou, antes de pedir desculpas públicas. Confira:

 

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