Novas informações sobre o caso de racismo envolvendo as mulheres que “moram” em um McDonald’s do Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro, foram reveladas. Ao g1, os agentes do Leblon Presente contaram que as ofensas começaram no fim da tarde desta sexta (30), após cinco adolescentes tirarem fotos de Bruna Muratori e sua mãe, Susane Paula Muratori Geremia. “Ela chamou a minha filha de ‘preta nojenta’“, declarou a mãe de uma das jovens.
De acordo com as adolescentes, elas estavam aproveitando a tarde na praia e, antes de retornarem para as suas casas, decidiram comer na lanchonete. Depois de comprarem as refeições, as cinco jovens subiram até o segundo andar do estabelecimento, onde já estavam as mulheres que vivem no local.
Bruna e Susane teriam se incomodado por elas estarem rindo e começaram a gravar as adolescentes. “Ela chegou pra gente e falou: ‘abre a boca agora, suas fedelhas’. Chegou pra minha amiga e disse: ‘sua preta’. Ela falou pra minha amiga: ‘preta nojenta’. Depois chamou a gente de ‘vagabundinha’. Ela falou isso pra adolescentes“, contou uma das jovens à TV Globo.
A cozinheira Bruna Medina de Souza afirmou que a filha foi alvo de racismo das mulheres. “A gente sempre sofre um racismo ou outro, mas a gente costuma entubar, botar no bolso e viver. Só que agora foi muito direto. Ela chamou a minha filha de ‘preta nojenta’. ‘Pobre, preta, nojenta’“, reiterou ela à emissora.
Bruna disse que ficou sabendo por telefone da confusão e correu para ajudar a adolescente. “Eu saí correndo de onde eu estava, fui ao local e ela continuou ofendendo a minha filha: ‘Aquela pretinha ali de biquíni’. Eu falei: ‘Ela não é pretinha não. Ela é preta mesmo. Ela é minha filha e se quiser falar com ela, tem que se dirigir a mim’. Foi aí que chegaram os policiais“, detalhou.
“Graças a Deus teve testemunha ocular. Pelo fato de ser adolescente, já tem pouca voz, preta menos ainda. Periférica, menos voz ainda e mulher, então a gente tem pouca credibilidade. Mas graças a Deus teve testemunha“, relatou Bruna.
O taxista Rafael Tavares, um dos pais, também revelou ter tomado um susto assim que chegou à lanchonete, e viu a filha com as amigas dentro do carro da polícia. “Quando eu cheguei, as crianças estavam dentro da van da polícia e eu fiquei assustado. Os policiais foram muito educados, conversaram, todos eles também revoltados com a situação“, comentou ele.
“Elas agrediram as meninas, muitas vezes chamando de ‘negras’, de ‘pobres’ e outros palavrões que não vale nem eu repetir. Elas falaram que as meninas não eram para estar ali, que o lugar não era para estar ali, que o lugar não era para pobre e nem para negros e que elas estavam atrapalhando“, descreveu.
Ainda, Bruna completou dizendo que a lanchonete não é a casa de Bruna Muratori e Susane, e que quem acolhe mãe e filha também tem responsabilidade. “Eu vou fazer o máximo possível pra que não aconteça de novo. Elas vão responder. Quem acolhe elas também vai responder. Porque elas estão ali dentro com o consentimento de alguém. Ali é uma lanchonete, tem livre acesso, mas as crianças não podem falar alto porque incomoda elas na casa delas“, garantiu.
O caso foi registrado na 14ª DP (Leblon), para onde todos os envolvidos foram levados por policiais do Segurança Presente. O McDonad’s informou à TV Globo que, assim que for notificado, vai colaborar com as autoridades. Além disso, a empresa de alimentos afirmou que mantém iniciativas que estimulam a diversidade.
Em nota, o Segurança Presente confirmou que uma equipe foi acionada e ao chegar ao estabelecimento “todos os envolvidos foram conduzidos para a delegacia“. Na ação, os agentes também levaram as malas da mãe e sua filha. Susane foi presa em flagrante por injúria racial. Bruna foi liberada porque, de acordo com o g1, nenhuma das testemunhas relatou ter ouvido dela as ofensas racistas. Em seu depoimento, segundo o veículo, Susane alegou que foi chamada de “velha coroca” pelas adolescentes e negou que tenha cometido ofensas raciais.
Relembre o caso
Em abril deste ano, Bruna Muratori e a mãe, Susana Paula Muratori, viralizaram nas redes sociais por viverem no McDonald’s do Leblon, um dos bairros mais nobres do Rio de Janeiro. Na época, uma reportagem da CBN revelou que mãe e filha passavam dia e noite no estabelecimento há cerca de três meses; além disso, ambas recusaram ajuda do poder público.
Com cinco malas, de grande e pequeno porte, elas dormem sentadas na calçada, esperam os funcionários abrirem o restaurante e passam o dia por lá. As refeições são todas feitas no local. Após a repercussão, Bruna e Susane explicaram, em entrevista ao jornal “O Dia”, o motivo de terem se instalado na lanchonete e por que não aceitam ajuda de nenhum órgão do governo.
Já no podcast “Fala Guerreiro!”, Bruna esclareceu sua rotina de higiene básica e revelou como foi parar no McDonald’s. Thaianne Barbosa de Moraes Pessoa, delegada do 14ª DP (Leblon), se manifestou sobre o caso, em abril, e explicou por que não configuraria crime. “A permanência delas no horário aberto para o comércio e consumindo os produtos não configura o crime por si só. Se, futuramente, o McDonald’s ou outras pessoas noticiarem outros elementos a esse fato que delimitem ali a ocorrência de um crime, a delegacia estará aberta para formalizar a investigação“, garantiu ela, ao jornal O Globo.
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