Na manhã desta segunda-feira (24), a polícia concluiu que a deputada federal Flordelis foi a mandante do assassinato de seu marido, o pastor Anderson do Carmo. Após a prisão de 11 suspeitos pelo crime, vários detalhes dessa trágica morte vieram à tona – desde mensagens trocadas pela cantora gospel com seus filhos, a outras possíveis tentativas de tirar a vida da vítima, através de envenenamento.
Possíveis motivações
De acordo com o jornal “O Globo”, a morte de Anderson teria acontecido após uma complexa trama na família – composta por 55 filhos. Segundo a publicação, havia desconfianças de uma traição e uma briga por dinheiro entre os denunciados. Além disso, há a suspeita de destruição de provas no caso e até mesmo de tentativas anteriores de envenenamento do pastor.
Em sua denúncia contra Lucas César Santos (filho adotivo do casal) e Flávio dos Santos Rodrigues (filho biológico da deputada), que já estavam presos pelo caso, o Ministério Público afirmou que uma das razões para o assassinato teria sido o “descontentamento com a forma como a vítima controlava as finanças” da casa. Em depoimento, o próprio Flávio afirmou que sua mãe estava descontente com sua situação financeira, achando que Anderson estaria “dando a volta nela”.
Quando questionada pela imprensa sobre as desavenças em casa, Flordelis negou que tivesse desentendimentos por razões financeiras. “Briga por dinheiro, não. Por outros detalhes, sim”, assumiu a deputada.
Mensagens de Flordelis com os filhos expõem supostos planos para a morte
De acordo com o G1, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) tiveram acesso a mensagens de texto que reforçam a suspeita de que Flordelis planejou matar o marido. Em uma delas, enviada ao filho André Luiz de Oliveira em outubro de 2018, a cantora gospel pede: “André, pelo amor de Deus, vamos pôr um fim nisso. Me ajuda. Cara, estou te pedindo, te implorando. Até quando vamos ter que suportar esse traste no nosso meio? Falta pouco. Me ajuda, cara. Por amor a mim”.
Segundo o promotor Sergio Lopes Pereira revelou em entrevista, Flordelis teria deixado sua intenção ainda mais clara. “Quando ela convence e fala com um outro filho que está aqui denunciado, o André, sobre esse plano de matar Anderson, ela fala da seguinte maneira: ‘Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus’, e então resolve matar. Ou seja, nessa lógica torta, o assassinato escandalizaria menos”, contou o promotor.
Já em dezembro de 2018, André respondeu à mãe que a apoiaria. “Mãe, eu estou com a senhora. Não dá pra eu fazer muita coisa, mas estou com a senhora”. Em resposta, Flordelis sugere que eles sofreriam as consequências de suas atitudes. Ainda assim, descreve um de seus planos. “Vamos sofrer pra caramba, mas vai passar… Só essa ajuda que preciso que você faça ele comer ou beber alguma coisa, um arroz fresquinho com um franguinho que não faz mal. Só isso”, disse ela.
Quatro meses antes da morte de Anderson, em fevereiro de 2019, outra mensagem enviada expôs o que os suspeitos planejavam. “Dez mil depois do serviço feito, mas as outras pessoas do carro não podem ser atingidas. Simula um assalto, ele foi para o Rio hoje e aproveita e já espera ele na volta. Se voltar no [carro] dele, melhor ainda. Vou mandar ele enviar a foto, nós vamos saber qual o carro e qual a placa”, escreveu Flordelis ao filho Carlos Ubiraci Silva.
Deputada deu auxílio moral e financeiro para o crime
Conforme apontam as investigações, Flordelis também deu seu apoio moral e material ao crime. De acordo com o G1, a pistola e a munição usados para assassinar Anderson com os 30 tiros custaram cerca de R$ 10 mil. Lucas César, filho da deputada, sempre tentou manter a versão de que teria dividido o valor com seu irmão, Flávio. Entretanto, Flávio recebia menos de R$ 2 mil como motorista de aplicativo.
Com todos esses e outros fatores, as autoridades concluíram que Flordelis teria dado o dinheiro para a compra do armamento. Mas não apenas isso… Segundo as investigações, foi a deputada quem “recrutou”, incentivou e convenceu os denunciados, além de ter forjado uma simulação de latrocínio na cena do crime.
Tentativas de envenenamento
As investigações também revelaram que os denunciados tentaram envenenar Anderson por, pelo menos, seis vezes. Essas manipulações de alimentos e bebidas provocaram intoxicações no pastor, conforme detalharam alguns pareceres médicos anexados no inquérito. A polícia afirma que Flordelis arregimentava cúmplices para colocar “remédios” antes que a vítima consumisse os itens, com a desculpa de que seriam medicamentos para ansiedade.
Segundo a denúncia, Flordelis e seus filhos, Carlos, André, Simone dos Santos Rodrigues e Marzy Teixeira da Silva teriam sido os atuantes nessa tentativa – especialmente as duas últimas, que teriam auxiliado na busca e aquisição de substâncias muito tóxicas, como cianeto, que constavam em suas buscas pela internet.
Outros cúmplices eram responsáveis por incentivar Anderson a consumir os alimentos envenenados, ou então, evitar que mais membros do núcleo familiar ingerissem os produtos ministrados com o veneno. Contudo, nem sempre isso foi possível. De acordo com o G1, dois moradores da casa da família já passaram mal ao beber um suco e um leite fermentado, que estavam na geladeira de Anderson.
A polícia acredita que a trama do envenenamento está relacionada aos depoimentos e conversas que remetem ao final de 2018, com referências à contínua manutenção de medicamentos na bebida e na comida do pastor. Anderson, por sua vez, havia sido internado e se recuperado após a intoxicação. Os boletins dos atendimentos hospitalares desse período corroboram com as versões do caso. Para o Ministério Público, o “fracasso” no plano com o veneno teria feito Flordelis adotar uma estratégia mais eficaz – culminando nos 30 tiros.
PSD suspende Flordelis e vai adotar medidas para expulsar deputada
Os novos desdobramentos do caso tiveram impacto sério na carreira política de Flordelis. Na tarde de hoje (24), o Partido Social Democrático anunciou que decidiu suspender a filiação da deputada federal e que ainda pretende tomar medidas para expulsá-la do partido. Em nota, o presidente da sigla, Gilberto Kassab, afirmou que defende o andamento do processo após a cantora gospel ter se tornado réu.
“O PSD esclarece que desde o início acompanhou o caso citado e defendeu o andamento e aprofundamentos das investigações. Diante do indiciamento da parlamentar, o corpo jurídico do partido adotará as medidas para a suspensão imediata de sua filiação e, a partir dos desdobramentos perante a Justiça, serão adotadas as medidas estatutárias para a expulsão da parlamentar dos seus quadros”, informou Kassab.
Segundo reportagem do “Jornal Hoje”, a Delegacia de Homicídios encaminhou uma cópia do inquérito à Câmara dos Deputados, para que a Comissão de Ética avalie a possibilidade de uma cassação do mandato de Flordelis. Por conta da chamada imunidade parlamentar, a deputada só poderá ser presa caso perca seu mandato, ou se for condenada em última instância.
Defesa de Flordelis se manifesta
Na delegacia, o advogado Anderson Rollemberg disse a jornalistas que Flordelis não tinha ingerência sobre o dinheiro da família, e acredita que há um “equivoco” na história. “Ela é cantora gospel, líder religiosa e parlamentar federal. A questão dela sempre foi dar o melhor para os necessitados. Por isso tinha mais de 50 filhos. Na opinião da defesa, está havendo um grande equívoco no desfecho desta investigação”, alegou a defesa da deputada.
Rollemberg também se disse surpreso com a decisão da polícia de prender denunciados. “A defesa foi surpreendida com essas prisões preventivas das cinco filhas da deputada e da neta. Tomaremos conhecimento do que há de indícios para que essas prisões fossem feitas e para o indiciamento da deputada, já que na primeira fase da investigação, passou longe de qualquer prova que a apontasse como mandante”, disse ele.
Entenda o caso
Um ano e dois meses após a morte do pastor Anderson do Carmo, as investigações concluíram que a viúva dele, a deputada federal Flordelis, foi a mandante do assassinato. Nesta segunda-feira (24), equipes da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI) e do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro cumpriram 11 mandados de prisão e outros de busca e apreensão contra a deputada, filhos e neta do casal e outros familiares.
Como tem foro privilegiado, a parlamentar não será presa agora, mas outras pessoas já foram levadas pela polícia: Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva do casal, Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica, André Luiz de Oliveira, filho adotivo, Carlos Ubiraci Francisco Silva, filho adotivo, Adriano dos Santos, filho biológico, Rayane dos Santos Oliveira, neta, o ex-PM Marcos Siqueira e a esposa dele, Andreia Santos Maia. Saiba todos os detalhes, clicando aqui.