Nesta sexta-feira (04), Eduardo Fauzi, que havia assumido a autoria no atentado à sede do Porta dos Fundos, em dezembro do ano passado, foi preso pela Interpol em Moscou, na Rússia. Segundo a TV Globo, a Polícia Federal foi informada hoje sobre a apreensão, e a extradição do suspeito para o Brasil já foi solicitada.
De acordo com o G1, a Secretária da Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmou que Fauzi foi detido, a partir de um mandato de prisão expedido pela Justiça brasileira. Após as investigações do caso, conduzidas pela 10ª DP, a ordem de prisão foi cumprida pelos agentes da Interpol na Rússia.
Entretanto, a defesa de Fauzi nega que o foragido tenha sido detido e afirma que o procedimento teria sido uma “apreensão”. “No tocante às informações de que Eduardo estaria preso, ressaltamos que não trata-se de prisão e sim de uma apreensão realizada pelas autoridades russas, visando a averiguação da situação dele. Não há confirmação sobre o procedimento de extradição pelas autoridades brasileiras”, disseram os advogados em nota.
Confira o texto da defesa na íntegra:
“O escritório ROR Advocacia Criminal, com sede em Santa Catarina, responsável pela defesa de Eduardo Fauzi Cerquize, informa que está acompanhando os trâmites do procedimento movido pela polícia Civil do Estado Rio de Janeiro. Que no tocante às informações de que Eduardo estaria preso, ressaltamos que não trata-se de prisão e sim de uma apreensão realizada pelas autoridades russas, visando a averiguação da situação dele. Não há confirmação sobre o procedimento de extradição pelas autoridades brasileiras.
Por fim, ressaltamos que há pendente a análise de pedido de Habeas Corpus Criminal, visando assegurar a integral liberdade de Eduardo, junto ao Superior Tribunal de Justiça, em Brasília/DF. Por outro lado, a defesa lamenta a morosidade na conclusão das investigações, não se sustentando o decreto prisional, por total ausência de provas sobre a justa causa penal”.
Relembre o caso
Na madrugada de 24 de dezembro, a produtora responsável pelos conteúdos do Porta dos Fundos foi alvo de um ataque com bombas em sua sede, no Rio de Janeiro. De acordo com as investigações, cinco criminosos participaram da ação, em que coquetéis molotov foram atirados contra a fachada do imóvel.
Além dos danos materiais, incluindo a destruição do quintal e da recepção do local, o ataque foi registrado como crime de explosão na 10ª DP, em Botafogo. Um funcionário que estava no prédio no momento – por volta das 4h – conseguiu conter o fogo e impedir um incêndio ainda maior. O segurança afirmou ter visto também uma moto na contramão e uma picape na rua justamente no momento em que os coquetéis foram atirados.
O grupo humorístico recebeu uma série de ataques por conta de seu “Especial de Natal”, veiculado na Netflix naquele ano. Pelo fato de ter feito seu Jesus da ficção viver uma experiência gay, a produtora se tornou alvo de críticas de diversos grupos religiosos. Nas redes sociais, foram várias as queixas e protestos contra a produção, sob a justificativa de que ela seria ofensiva à crença dessas pessoas.
Mesmo com abaixo-assinados e todos os ataques virtuais, o especial “A Primeira Tentação de Cristo” teve o melhor desempenho de audiência entre originais nacionais do catálogo do streaming, segundo uma fonte revelou para o jornal “O Globo”. Com isso, a Netflix já renovou seu contrato com o Porta dos Fundos, garantindo um novo especial de Natal em 2020. Após tentativas de censura, o Supremo Tribunal Federal determinou que o filme não fosse excluído da plataforma de streaming.
Com o atentado, o grupo vencedor do “Emmy Internacional 2019” se manifestou. “O Porta dos Fundos condena qualquer ato de ódio e violência e, por isso, já disponibilizou as imagens das câmeras de segurança para as autoridades, para o Secretário de Segurança, e espera que os responsáveis pelos ataques sejam encontrados e punidos”, disse sua assessoria em nota. Eles também reforçaram que seguirão “mais unidos, mais fortes e mais inspirados pela liberdade de expressão”.
Fauzi assumiu a autoria do atentado
Nas apurações, os policiais analisaram cerca de 50 câmeras de segurança na região do Botafogo, até que identificaram Eduardo Fauzi como um dos autores do crime. Nos registros, ele foi flagrado ao descer do veículo usado pelos criminosos na fuga, pouco tempo após o ataque. Dias depois, a polícia descobriu que ele havia fugido para a Rússia.
Com isso, seu nome foi incluído na lista dos foragidos do país, e um pedido de captura foi expedido com a colaboração da Interpol do Rio de Janeiro. Fauzi, então, entrou com um pedido de habeas corpus em janeiro deste ano. No entanto, sua solicitação foi negada. O próprio suspeito confirmou sua participação no crime e explicou suas motivações.
Em entrevista ao “Projeto Colabora”, publicada em 03 de janeiro, Fauzi admitiu que agiu por conta do Especial de Natal do Porta dos Fundos. “O ato não foi motivado por qualquer razão eleitoral ou financeira, como resta evidente. O que mobilizou o ato foram as energias de todo o povo acumuladas pela tensão que as ofensas bárbaras contra Deus e o sentimento popular mobilizaram. Era inevitável que algo ocorresse. Alguém tinha que tomar alguma atitude”, explicou ele, que é filiado ao partido político PSL.
“Para um cristão… uma ofensa medonha contra o nome de Cristo e, por extensão, contra o nome de todo o cristão e de tudo aquilo que ele representa é uma violência muito maior do que um foguinho de m*rda numa parede de vidro, sem qualquer material inflamável que pudesse propagar o fogo que foi apagado em 12 segundos e não gerou qualquer estrago ou prejuízo material”, adicionou.
Fauzi revelou outra questão preocupante: ele teria recebido informações privilegiadas sobre seu mandado de prisão no Brasil, antes de viajar à Rússia. “Achavam que fui muito estúpido pra não cobrir o rosto e não alterar a voz, mas fui conectado o suficiente pra ser avisado do mandado a tempo de viajar pra fora do país”, mencionou ele.
Na época, ele admitiu que esperava ter seu asilo político confirmado. “Eu sou o candidato típico [ao asilo]. Mas a decisão é política. Se não houver interesse político eles não me não me asilam”, adicionou Eduardo, que esteve envolvido em trâmites para seu pedido às autoridades russas.