O suspeito de manter a enteada em cárcere privado durante 22 anos, em Araucária, no Paraná, enviou mais de 15 mensagens de áudio ameaçando a vítima enquanto ela denunciava o crime na delegacia. Ao portal g1, o delegado responsável, Eduardo Kruger, disse que o homem ligou mais de 30 vezes para a mulher.
A Polícia Civil divulgou algumas das gravações. Nelas, o padrasto pedia que a enteada respondesse as mensagens e retornasse pra casa. “Traga os meus filhos aqui pra casa, fala comigo. Você sabe que a única coisa que tenho nessa vida é você. Volta pra casa, senão você vai ter problema sério comigo“, disse ele, com a voz trêmula.
O homem também ameaçou ir atrás da vítima. “Atende o telefone. Fala comigo, o que está acontecendo? Fala comigo, senão eu vou atrás de você. Onde você está? Atende esse telefone! Me responda!“, gritou.
“Me fala o que está acontecendo. Você saiu de casa para pesar as crianças e já voltava. Eu estava te esperando com o almoço, onde é que você está? Amor, atende o telefone, pelo amor de Deus. Traga as crianças pra cá. Onde é que você está, vida? Amor, eu estou passando mal, fale comigo, me responda“, pediu o suspeito.
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Áudios revelam ameaças de suspeito que manteve enteada em cárcere privado no PR pic.twitter.com/gjgavSpTxO
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A mulher, de 29 anos, conseguiu fugir na última terça-feira (16), após alegar ao homem, de 51, que precisava levar os filhos a um posto de saúde, mas foi até a uma delegacia. O delegado disse que os abusos começaram quando a vítima tinha sete anos, época em que a mãe dela ainda era casada com o homem.
“Aos 15 anos, a vítima engravidou. O homem se separou da mãe dela e a obrigou a manter um relacionamento com ele. Eles tiveram três filhos“, declarou. De acordo com Kruger, o relato foi feito pela própria vítima.
O padrasto também a obrigava a se relacionar com outros homens, registrava os abusos em vídeo e a controlava emocionalmente para mantê-la em cárcere privado. A enteada ainda sofria agressões físicas e era monitorada por câmeras na casa. “Ela saía de casa raras vezes, e o homem controlava de minuto em minuto o que ela estava fazendo“, revelou o delegado, que classificou o caso como “um dos mais bárbaros que já se ‘presenciou’“.
Em entrevista à RPC, afiliada à TV Globo, a vítima disse que nunca pensou que poderia ser ajudada. “Eu sabia que ele é uma pessoa agressiva. Eu tinha medo, muito medo, ainda tenho. Ele falou muita coisa para mim. Ele me ameaçava. Falava que se eu não fosse dele, não seria de mais ninguém. Falava que a nossa separação seria só a morte“, contou.
A mulher, hoje com 29 anos, teve três filhos com o suspeito. Ela afirmou que, ao longo dos 22 anos de cárcere, nunca imaginou que poderia obter ajuda. “Eu pensava que um dia vocês [jornalistas] poderiam estar noticiando a minha morte, porque eu jamais pensava em escapar, em fugir, reverter a situação. Porque ele falava que se ele não fizesse, outros fariam. Eu não via saída. Eu não aguentava mais“, desabafou, emocionada.
A vítima também lamentou a infância perdida e compartilhou o que deseja para o futuro. “Eu espero poder ser livre, que é uma coisa que desde pequena eu sonhava. Eu via as outras meninas e pensava: ‘Por que eu não posso ser igual? Tem essa parte da minha vida que eu não posso contar para ninguém’. Eu me sentia vigiada o tempo todo. Mesmo sem fazer nada errado. Eu nunca fiz nada errado para ele. Eu levava a minha vida certo, e eu só menti essa vez que eu tive que ir na delegacia. Na verdade, eu espero só que ele não me faça mais mal. Eu não quero passar isso nunca mais, nunca mais“, afirmou.
Assista:
Mulher mantida em cárcere privado por 22 anos relata ameaças pic.twitter.com/2Oqovx4gBf
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A mãe da mulher foi chamada para prestar depoimento nesta quinta-feira (18), mas a polícia não informou se ela é investigada no crime. A vítima e as crianças foram acolhidos e encaminhados para um local seguro, enquanto aguardam as análise das medidas protetivas de urgência, segundo as autoridades.
Sete crimes estão sendo investigados no inquérito: estupro de vulnerável; estupro; privação da liberdade; ameaças; perseguição; violência psicológica; e dano emocional. Em caso de condenação, eles podem render uma pena de mais de 100 anos de prisão.

