Thiago Brennand, acusado de estupro, tortura, lesão corporal e cárcere privado, foi interrogado na última segunda-feira (22) por quase duas horas, em uma sessão virtual. O caso tem como vítima uma modelo pernambucana de 38 anos. Ela mora em Miami e teve um breve relacionamento com Brennand em 2021. O processo pode render a ele a maior de todas as penas já impostas pela Justiça até agora.
Brennand foi representado pela advogada Patrícia Vanzolini, primeira mulher a presidir a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Segundo informações do O Globo, na oitiva, o empresário tentou se afastar da imagem de homem violento, afirmando que é uma pessoa “calma” e “tranquila”, mas se irritou com a acusação. No decorrer do interrogatório, Brennand não se mostrou abalado. Ele bocejou seis vezes, pediu licença para tomar um remédio e chegou até a se desculpar por isso.
Thiago também não gostou de ser questionado sobre seu histórico em artes marciais. O advogado Marcio Cezar Janjacomo Junior perguntou ao réu sobre os esportes de luta que ele praticava. O empresário respondeu: “Neste ano, vou para o sexto grau de faixa preta de jiu-jítsu, sexto grau de faixa preta em kickboxing e segundo grau em judô”. O advogado João Vinícius Manssur, assistente de acusação, insistiu no tema: “Quanto tempo demora para chegar ao sexto grau de faixa preta em jiu-jítsu?”, questionou. Foi quando o empresário se irritou e disparou: “O senhor sabe a resposta, pois também é faixa preta”.
O advogado insistiu: “Mas queria que o senhor explicasse para todo mundo saber também“. Brennand ainda se recusou a responder. “O senhor mesmo pode dar essa explicação“, disse. Na sequência, o réu revelou que pegou a faixa preta em 1999 e alegou: “O senhor sabe desta contagem e essa pergunta tem como finalidade me constranger“.
Em outro momento, ao falar sobre sua personalidade supostamente pacífica, o empresário garantiu que nunca se envolveu em desavenças públicas e alfinetou o advogado de acusação. “Eu sou muito calmo. Eu nunca tive uma briga de bar, por exemplo, como teve o doutor João Manssur. Eu nunca estive envolvido em briga de bar. Sou um cara muito tranquilo, mesmo quando há problema”, declarou.
Após a audiência, Manssur classificou a conduta de Brennand como “deplorável.” O assistente de acusação não quis dar detalhes da briga de bar que o empresário se referiu no interrogatório, e declarou ao O Globo: “Quem está sendo julgado é o réu e não o advogado”.
Questionado pela promotora Helena Cecília Diniz Teixeira Calado, o réu negou todos os crimes que lhe são imputados e diz que teve apenas relações consensuais com a vítima. “Aqui há cinco registros de atividade sexual não autorizada com a vítima. O senhor confirma isso?”, perguntou o juiz Diogo da Silva Castro. “Não, excelência, não confirmo. Todas as relações que eu mantive com ela foram consensuais”, afirmou o empresário.
O caso
Uma mulher de Pernambuco, que mora nos Estados Unidos, afirma ter sido vítima de uma dezena de crimes cometidos pelo réu, entre estupros, tortura, lesão corporal, cárcere privado e constrangimento ilegal. O caso aconteceu há 10 anos. Na época, ela veio para São Paulo conhecer Thiago pessoalmente, já que eles só haviam conversado pelo Instagram. No relato, ela contou que as passagens foram compradas por Brennand. Os dois se hospedaram na mansão dele em Porto Feliz (SP).
De acordo com a denúncia, no primeiro dia, o sexo foi consensual. No entanto, o empresário havia instalado uma câmera e filmado todo o ato, sem seu consentimento. O réu sustenta que a então parceira sabia da gravação, pois a câmera estaria à vista do casal.
No dia seguinte, conforme consta no depoimento da vítima, o empresário percebeu que ela tinha uma tatuagem na lateral das costas, contendo a inscrição BAD — supostamente as iniciais do nome do ex-namorado. A partir disso, Thiago teria iniciado uma série de violências contra a mulher. Nos relatos, ela conta que o empresário lhe deu um tapa no rosto e pegou o celular para ver possíveis conversas mantidas com o ex. A mulher, então, foi obrigada, “sob forte ameaça”, a fazer uma tatuagem com as iniciais de Brennand por cima do desenho associado ao ex.
A tatuagem foi feita à força dentro da mansão do empresário pelo tatuador Tony Gomes da Silva, também indiciado no processo. Em fotos anexadas nos autos, a modelo mostra a tatuagem e outras duas imagens do pescoço e das nádegas com hematomas. Questionado sobre a tatuagem na vítima, o réu disse que partiu dela a ideia de fazer as iniciais do nome dele, como uma forma de homenageá-lo.
Outras condenações
Ao todo, as penas contra Thiago já ultrapassaram 20 anos de detenção. Em outubro de 2023, ele foi condenado a dez anos e seis meses de prisão por estupro, cometido contra uma ex-namorada norte-americana. No mês seguinte, ele recebeu uma pena de um ano e oito meses de prisão por agredir uma modelo em uma academia na cidade de São Paulo. No dia 17 de janeiro deste ano, ele foi condenado a oito anos de prisão, pelo estupro de uma massagista. O crime aconteceu em março de 2022, durante um atendimento.
O empresário está preso desde abril de 2023 no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na capital paulista, após ser extraditado dos Emirados Árabes para o Brasil.