Nesta quinta-feira (2), a Justiça do Rio de Janeiro mandou soltar Érika de Souza Vieira Nunes, sobrinha de Paulo Roberto Braga, o idoso que foi levado a um banco já morto para retirar um empréstimo de R$ 17 mil. Já neste domingo (5), ao Fantástico, a mulher se manifestou pela primeira vez sobre o caso. Além de lamentar as duas semanas que passou na cadeia, ela falou sobre a relação com o tio e revelou se já sabia que ele estava sem vida antes de irem ao banco.
A entrevista foi realizada no escritório da advogada de Érika. Emocionada e aos prantos, a mulher afirmou que “não é um monstro”. “Foram dias horríveis longe da minha família. Perdi momentos que não vão voltar mais. Muito difícil. Foi horrível, eu não percebi que meu tio estava morto, eu não sabia. Ele estava vivo, segurou na porta do carro. Eu não sou essa pessoa que estão falando, não sou esse monstro”, desabafou.
Érika estava detida preventivamente em Bangu desde o dia 16 de abril, quando foi presa em flagrante ao ser constatada a morte de Paulo Roberto, de 68 anos. Os funcionários suspeitaram do comportamento da mulher e da aparência do idoso, e acionaram a polícia. Na ocasião, ela foi acusada de tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio de cadáver, ou seja, tratar com desprezo e sem o devido respeito o cadáver.
“A relação [com o tio] era ótima. Ele era independente, fazia o que queria. Ele tinha uma mente boa. Não era cadeirante e eu não era cuidadora dele. Nunca fui cuidadora dele. Ele bebia muito e era meio caladão, mas a gente se dava bem”, continuou. Questionada se não achou que Paulo Roberto estava fraco demais para sair de casa, ela respondeu: “Não, porque ele me pediu para ir”.
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Em seguida, ela relatou que o trajeto da dupla até o banco “correu bem”. Segundo Érika, ainda na rua, ela perguntou ao tio se ficaria mais confortável se apoiasse a cabeça dele. “Eu perguntei se assim ficaria melhor, ele disse que sim”, afirmou.
Sobre os acontecimento polêmicos dentro da agência bancária, que viralizaram no mundo inteiro, a mulher disse que “não conseguir lembrar de muita coisa”. Ela explicou que isso pode ter acontecido devido ao uso de remédios controlados. “Eu não consigo lembrar muita coisa. Como eu faço tratamento, eu tomava zolpidem, às vezes tomava mais do que um. [O esquecimento] não sei se foi efeito do remédio que eu tinha tomado naquele dia. Eu não consigo perceber que tinha alguma coisa errada”, disse.
“Nem eu e nem muita gente percebeu que ele faleceu, porque como você dá um papel para o morto assinar? Se ela tivesse percebido algo, talvez não tivesse dado nada para ele assinar. Eu não percebi que ele tinha morrido, só quando o rapaz do SAMU falou”, continuou.
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Antes de ir ao banco, Paulo Roberto ficou internado por uma semana em uma unidade de saúde do estado, a UPA (Unidade de Pronto Atendimento). De acordo com Érika, no entanto, os familiares não receberam nenhuma orientação dos médicos após a alta. “Só me deram uma receita de um remédio de cinco dias, eu comprei o remédio e a fralda. Eu pensei que ele fosse ter uma melhora, que era só uma pneumonia”, contou a sobrinha. “Não achei que precisava levar ele ao médico de novo, porque ele tinha acabado de ter alta. Pra mim, se o médico deu alta…”, acrescentou.
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Segundo ela, este foi o primeiro empréstimo solicitado pelo tio. Há oito meses, Paulo Roberto tinha entrado em um programa de assistência social do governo que paga um salário mínimo ao beneficiário.
“Eu não precisava desse dinheiro, ele que queria para construir, nós sempre vivemos sem o meu tio ter renda. Foi o primeiro empréstimo que ele pediu porque ele não tinha bens, o benefício do governo ele tinha há alguns meses só, minha família que sempre ajudou. Ele não tinha renda, fazia um ‘bico’ aqui e outro ali, capinava um quintal… Mas não tinha uma renda fixa. Depois que ele conseguiu o benefício é que quis fazer a obra”, contou.
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Decisão da Justiça
Nesta semana, o Ministério Público denunciou Érika e afirmou que ela agiu de forma “consciente, voluntária e demonstrou total desprezo e desrespeito por Paulo Roberto”. A juíza Luciana Mocco, da 2ª Vara Criminal da Regional de Bangu, aceitou a denúncia do MP e a mulher virou ré por tentativa de estelionato e vilipêndio de cadáver.
A juíza também acatou o pedido da defesa para que ela responda ao processo em liberdade. Seus advogados argumentaram que a prisão seria uma “medida extrema”, pois Érika é ré primária, tem residência fixa e sofre com saúde mental debilitada.
A magistrada apontou que a repercussão do caso não é motivo para manter Érika presa e determinou condições para sua liberdade: comparecimento mensal ao cartório do juízo para prestação de contas; notificação com antecedência de qualquer mudança de endereço, sob pena de nova prisão caso contrário; aviso no caso da necessidade de internação para tratamento da saúde mental, e, por fim, a proibição de ausentar-se da Comarca por prazo superior a sete dias, exceto com expressa autorização do juízo.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro, por outro lado, abriu outro inquérito e investiga se ela cometeu homicídio culposo – quando não há a intenção de matar. Até o momento, a morte de Paulo não foi esclarecida, já que o laudo foi considerado inconclusivo. O corpo do idoso, no entanto, já foi sepultado.
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