Em 2015, o caso de Beatriz Angélica, menina que foi morta a facadas aos 7 anos, em Petrolina, Pernambuco, chocou o Brasil. Seis anos após o ocorrido, novos detalhes sobre a tragédia vieram à tona e o homem suspeito do crime, Marcelo da Silva, deu depoimento à Polícia Civil. O “Fantástico“, exibido neste domingo (16), teve acesso à confissão de Marcelo, que alegou que o assassinato não foi premeditado. De acordo com o suspeito, ele só atacou a vítima depois que ela começou a gritar, com o intuito de silenciá-la.
Ao longo dos anos de investigação, imagens de câmera de segurança foram encontradas, nas quais é possível ver Marcelo na fachada da escola onde o crime aconteceu. Inicialmente, ele negou aos dois delegados à frente do caso que era a pessoa nos registros. No entanto, depois que a Polícia Científica confirmou que o DNA contido na arma do crime era de Marcelo, assim como o que estava na faca deixada no tórax da criança, ele admitiu o assassinato.
Às autoridades, Silva relatou que, como é possível ver nas imagens, ele tentou roubar uma moto pouco antes do ataque, pois estava sem dinheiro para voltar para casa. “Aquela mexida na moto… Eu não sei se é o instinto de ladrão ou era a vontade de ir para casa. Se aquela moto pegasse, eu iria para casa. Se ela pegasse, tinha evitado essa tragédia aí”, afirmou, no relato divulgado pelo dominical da TV Globo. Segundo Marcelo, ele não sabe ao certo onde conseguiu a faca que se tornou a arma do crime e não fazia ideia de que estaria entrando em uma escola.
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“Eu pensei que estava entrando numa igreja. Aí , quando eu fui entrar, eu fui barrado por alguém que eu acho que viu meu estado de embriaguez”, relatou Silva. Ele teria entrado no local para conseguir dinheiro. Mesmo após ser barrado, Marcelo retornou ao Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, segundo ele para beber água. Foi então que, perto do bebedouro, Silva encontrou Beatriz – o espaço ficava bem próximo ao depósito onde o corpo dela foi descoberto.
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De acordo com o depoimento, a pequena teria percebido que ele carregava uma faca, o que a alarmou. “Ela [Beatriz] disse: ‘Você está com uma faca aí’. Aí eu gritei: ‘Cala a boca’. Aí eu, com medo de ela correr, disse: ‘Entra aí’. Aí botei ela pra dentro do quarto. Eu disse: ‘Fique caladinha, não saia, não, enquanto eu não for embora. Eu já estou indo embora, fique bem quietinha’. Aí sabe o que aconteceu? Ela começou foi a gritar”, detalhou Silva.
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Marcelo alegou que ficou com medo de que outras pessoas o descobrissem devido aos gritos da menina, e então decidiu atacá-la. As 42 facadas resultaram na morte da vítima. Durante o interrogatório, Silva compartilhou, ainda, que antes de deixar o local do crime, ele foi visto lavando as mãos cheias de sangue no banheiro do colégio. Para despistar a testemunha, ele afirmou que teria se cortado e, depois disso, foi se lavar em um rio, onde conseguiu outras roupas com moradores de rua. Por fim, Marcelo foi questionado pelas autoridades se, na época, teve alguma intenção de cometer crimes sexuais contra Beatriz. “Não, senão eu ia praticar”, respondeu ele.
Preso desde 2017 no presídio de Salgueiro, no Sertão, Silva já cumpre pena por estupro de vulnerável, ameaça e cárcere privado. Na última quinta-feira (13), ele foi transferido para um presídio no Grande Recife e colocado em uma “cela disciplinar”, na qual permanece sob a vigilância de agentes do Grupo de Operações e Segurança, subordinado à Secretaria de Ressocialização.
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Família contesta depoimento
Após a confissão de Marcelo, que segundo a defesa ‘deseja pagar pelo que fez’, os pais de Beatriz afirmam que a motivação apontada por ele “não convence”, já que o colégio da filha era muito rígido e tinha protocolos de segurança. Ao “Fantástico”, Lucinha Mota, mãe de Beatriz, declarou que, apesar de concordar que Silva seja realmente o assassino, ela não acredita que a garota tenha sido morta de forma aleatória e que ainda existem muitas perguntas que precisam ser respondidas.
As dúvidas surgiram, principalmente porque o suposto comportamento de Beatriz no dia do ataque, relatado por Marcelo, não condiz com a conduta dela no dia a dia com a família. “Ela não faria isso. Beatriz, ela não iria confrontá-lo. Beatriz, mesmo que ele tivesse com uma arma na mão, ela era muito inocente, ela não se sentiria em um local de risco. Ela não saberia se estava ali num momento de risco”, observou a mãe. “Eu tenho convicção que Beatriz foi beber água e ele abordou ela de forma brusca e tirou a vida dela”, afirmou.
Ela pontuou, ainda, que tem dificuldades para lidar com os últimos detalhes divulgados pela força-tarefa que está à frente do caso. “Eu estou me segurando, estou controlando meu lado emocional nesse momento. Eu coloquei minhas lágrimas, minha dor numa caixinha para ser racional e tentar colaborar o máximo possível na investigação”, disse.
Próximos passos
A peça-chave para o esclarecimento do caso foi a faca usada no crime. Os peritos coletaram o DNA no cabo da arma, na época da tragédia. No entanto, as amostras estavam misturadas ao sangue de Beatriz, o que dificultou o trabalho da Polícia Científica.
O material genético do criminoso já estava no banco de dados do estado desde 2019, mas só pôde entrar no sistema após um aprimoramento tecnológico, já que em 2015, a PC não tinha a estrutura necessária para isso. Em 2021, foi obtido um “padrão ouro” do DNA encontrado na faca, que também foi incluído no banco genético, o que apontou Marcelo da Silva como compatível.
Apesar do resultado positivo, ele ainda não foi oficialmente denunciado pelo estado. Isso porque o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) requisitou novos depoimentos e perícias e, só após o resultado deles é que as autoridades devem decidir se farão a acusação oficial. Em nota, a Polícia Civil de Pernambuco informou que o caso segue sob sigilo e que está “dando continuidade às diligências solicitadas” pelo MPPE e compilando todas as provas necessárias para conclusão do inquérito policial.