A pandemia do novo coronavírus tem sido responsável por mostrar o ‘pior’ e o ‘melhor’ da humanidade nos últimos tempos. No Reino Unido, Belly Mujinga, de 47 anos, contraiu a covid-19 após receber uma cuspida no rosto de um homem contaminado, dentro da estação de trem em que trabalhava. Infelizmente, ela não resistiu às complicações da doença e faleceu no início do mês de abril.
Em entrevista ao The Guardian, o marido da vítima, Lusamba Gode Katalay, explicou que a esposa estava trabalhando no dia 22 de março, quando ela e uma colega de trabalho foram abordadas agressivamente por um passageiro. “Ela chegou em casa e me contou tudo. O homem perguntou o que ela estava fazendo, por que ela estava ali e ela apenas disse que estavam trabalhando. O homem disse que estava com o vírus e cuspiu nelas”, revelou.
Belly fazia parte do grupo de risco por conta dos seus problemas respiratórios. Uma semana depois, ela começou a apresentar os sintomas da doença e foi internada no dia 2 de abril. “Foi a última vez que a vi. Dissemos: ‘Que seja bom’, e que Deus estava no comando. Fizemos um vídeo do WhatsApp no hospital, depois não tive mais notícias dela. Pensei que ela estivesse dormindo, mas o médico me telefonou para dizer que ela havia morrido”, recordou.
A colega de trabalho de Mujinga, que estava ao seu lado no momento da discussão, também adoeceu, mas felizmente conseguiu se recuperar. Um outro profissional da estação, que não quis se identificar, presenciou o ocorrido e disse que Belly já tinha se oposto a trabalhar fora da proteção da cabine da bilheteria sem o EPI adequado. “Pedimos para não sair. Dissemos: ‘Nossas vidas estão em perigo’. Mas disseram que precisávamos sair”, afirmou.
A empregadora, identificada como Govia Thameslink, se recusou a oferecer o equipamento e insistiu que os funcionários interagissem com os passageiros, mesmo sabendo, inclusive, que Mujinga fazia parte do grupo de risco. “Govia se comportou de forma imprudente e negligente. Eles falharam em seu dever de cuidar. Somos tratados como se fôssemos robôs”, acusou. Após receber o cuspe, a funcionária ficou muito abalada e apresentava as mãos trêmulas, mas foi obrigada a retornar ao trabalho.
Mujinga deixou uma filha de 11 anos. A família clama por justiça. “Ela não deveria ter sido enviada sem nenhum EPI. Queremos justiça para Belly. Eles precisam encontrar a pessoa que fez isso. E a empresa deve compensar a família; a filha dela não tem mais mãe. Eles devem proteger aqueles que sobraram”, pediu a prima da vítima, Agnes.
Atualmente, o caso está sendo investigado pela Polícia de Transportes Britânica (BTP). A advogada Jenny Wiltshire disse que os crimes podem variar de agressão a acusações muito mais graves, como tentativa de dano corporal grave ou homicídio culposo. “Se o agressor tiver o vírus, e a promotoria puder provar que ele estava ciente disso no momento da agressão, suas ações poderiam potencialmente levar a uma acusação de tentativa de dano corporal”, observou.