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Após comentários de J.K. Rowling, Emma Watson defende pessoas trans: “São quem dizem ser”; Eddie Redmayne e Evanna Lynch também se posicionam — confira!

Fotos: Getty

Não há feitiço que desfaça o climão entre J.K. Rowling perante os atores que deram vida ao universo bruxo criado por ela. No último final de semana, a escritora causou revolta ao compartilhar tuítes transfóbicos. A lista de atores que se posicionaram publicamente em repúdio à opinião da autora, que já inclui o nome de Daniel Radcliffe, agora conta com Emma Watson, Eddie Redmayne e Evanna Lynch.

Nesta quarta-feira (10), mesma data em que Rowling divulgou um longo texto em sua defesa na internet, a intérprete de Hermione nos cinemas mandou um recado para as pessoas trans. “Elas são quem dizem ser e merecem viver suas vidas sem serem constantemente questionadas ou informadas de que não são quem dizem ser”, começou.

“Quero que meus seguidores trans saibam que eu e tantas outras pessoas ao redor do mundo vemos vocês, respeitamos vocês e amamos vocês por quem vocês são”, publicou em seu Twitter pessoal. A estrela ainda anunciou que fez doações em dinheiro para duas entidades que dão suporte à comunidade LGBTQ+ no Reino Unido.

O ator Eddie Redmayne, protagonista da franquia “Animais Fantásticos”, cedeu uma entrevista para a revista Variety e falou sobre o assunto. “O respeito pelas pessoas trans continua sendo um imperativo cultural e, ao longo dos anos, venho tentando me educar constantemente. Este é um processo contínuo. Como alguém que trabalhou com J.K. Rowling e membros da comunidade trans, eu queria deixar absolutamente claro [meu posicionamento]. Discordo dos comentários de Jo. Mulheres trans são mulheres, homens trans são homens e identidades não-binárias são válidas”, afirmou.

“Eu nunca gostaria de falar em nome da comunidade, mas sei que meus queridos amigos e colegas transexuais estão cansados desse questionamento constante de suas identidades, o que muitas vezes resulta em violência e abuso. Eles simplesmente querem viver suas vidas em paz, e é hora de deixá-los fazer isso”, finalizou.

Eddie Redmayne interprete o bruxo Newt Scamander na franquia “Animais Fantásticos”. Foto: divulgação.

Evanna Lynch, responsável por dar vida à personagem Luna Lovegood na saga “Harry Potter”, publicou em seu Twitter uma mensagem para os fãs. “Eu queria ficar de fora dos comentários dos tuítes de JKR, porque parece impossível abordar esse assunto no Twitter, mas estou muito triste ao ver pessoas trans se sentindo abandonadas pela comunidade HP, então aqui estão meus pensamentos”, declarou.

“Imagino que ser trans e aprender a aceitar e amar a si mesmo já é bastante desafiador, e nós, como sociedade, não devemos aumentar essa dor. Sentir que você não se encaixa ou não é aceito por ser você é o pior e mais solitário sentimento que um ser humano pode experimentar, e eu não ajudarei a marginalizar ainda mais mulheres e homens trans”, disse.

A estrela ainda lembrou que estamos justamente no mês que é celebrado o Orgulho LGBTQ+. Por isso, as pessoas transsexuais deveriam estar sendo “aplaudidas pela sua bravura” e ouvidas sobre as dificuldades que vivem. Ela apontou como a plataforma era um lugar complexo para se discutir o assunto da maneira profunda que é necessária. “Pessoalmente, não acho que o Twitter seja o lugar certo para ter essa conversa muito complexa e deveríamos estar lendo artigos e memórias, ouvindo podcasts e tendo conversas longas”, explicou.

Evanna Lynch defendeu as pessoas trans, mas condenou a cultura do “cancelamento”. Foto: Reprodução/YouTube

“Eu acho irresponsável discutir um assunto tão delicado no Twitter através de pensamentos fragmentados e eu gostaria que Jo não o fizesse”, completou. Evanna criticou o “cancelamento” precipitado de Rowling, dizendo que a autora é uma mulher “generosa e amorosa”. “Não concordo com a opinião dela de que as mulheres cis são a minoria mais vulnerável nessa situação e acho que ela está do lado errado desse debate. Mas isso não significa que ela tenha perdido completamente a humanidade”, argumentou.

Lynch encerrou dizendo o quanto lamentava o fato do mundo não ser um lugar que acolhe da maneira que deveria as pessoas trans. “Sinto muito por todas as pessoas trans que sentem que foram ignoradas, ou que essa comunidade não é mais aquele lugar seguro. O mundo/fandom/comunidade de Harry Potter é literalmente composto por milhões de pessoas agora e eu trabalharei para fazê-lo parecer inclusivo, porque mulheres trans são mulheres”, falou.

https://twitter.com/Evy_Lynch/status/1270395418560606208?s=20

Entenda o caso

Tudo começou no sábado (6), quando a autora dos livros de “Harry Potter” comentou sobre um artigo de um site, intitulado “Criando um mundo pós-Covid-19 mais igualitário para pessoas que menstruam”. “‘Pessoas que menstruam’. Tenho certeza que costumava existir uma palavra para essas pessoas. Alguém me ajude. Wumbem? Wimpund? Woomud? (nota da tradução: variações propositais da palavra ‘woman’, que significa mulher em inglês), escreveu Rowling, em seu Twitter.

Muitos internautas se incomodaram com a publicação feita pela escritora, confundindo sexo com gênero, e pontuaram que homens transsexuais e pessoas não-binárias também podem menstruar. Após a repercussão, J.K. criticou a ideia de que o sexo biológico de alguém não é real.

“Se o sexo não é real, então não existe atração pelo mesmo sexo. Se o sexo não é real, a realidade vivida por mulheres ao redor do mundo é apagada. Eu conheço e amo pessoas trans, mas excluir o conceito de sexo remove a habilidade de muitos discutirem suas vidas de maneira significativa. Não é ódio falar a verdade”, declarou.

A escritora disse ser empática às mulheres trans, mas insistiu na ideia de que o sexo biológico de alguém estaria ligado ao gênero. “A ideia de que mulheres como eu, que são empáticas por pessoas trans há décadas, se identificando porque elas [mulheres trans] são vulneráveis da mesma maneira que as mulheres [cis] – ou seja, à violência masculina -, ‘odeiam’ pessoas trans porque acham que o sexo é real e viveram as consequências – é um absurdo”, disparou.

“Eu respeito o direito de todas as pessoas trans a viver da forma que for autêntica e confortável para elas. Eu marcharia em protestos com vocês caso fossem discriminadas por serem pessoas trans. Ao mesmo tempo, minha vida foi podada por ser uma mulher. Eu não acredito que dizer isso seja propagar ódio”, finalizou.

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