Nesta terça-feira (24), a Polícia Civil decretou a prisão temporária de Adriana Alves Dutra. A mulher é a fiscal do Carrefour que aparece de branco ao lado dos dois seguranças que espancaram João Alberto Silveira Freitas e o levaram à morte, na última quinta-feira (19).
De acordo com o UOL, Adriana é acusada de ser coautora do homicídio triplamente qualificado, por motivo fútil. A fiscal também deve responder por uso de recurso que impossibilitou defesa e asfixia. A prisão temporária deve durar 30 dias. Além dela, o segurança Magno Braz Borges e o policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva, estão detidos desde a noite do assassinato, quando foram presos em flagrante.
Durante uma coletiva de imprensa, a chefe da polícia Nadine Anflor explicou que as autoridades creem que Adriana tenha sido omissa em relação à morte de Beto, pois não tentou interferir. Segundo Vanessa Pitrez, diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a fiscal teve “papel decisivo” no óbito. “Ela teria o poder de comando sobre os dois seguranças. Por ter posição determinante, a lei contempla como coautora do homicídio”, declarou ela.
A polícia afirmou que tentou prender Adriana no último final de semana, mas que não conseguiu localizá-la. Já na delegacia, ela teria dito que deixou sua casa porque estava sofrendo ameaças, segundo investigadores. A prisão também só foi decretada depois de confirmarem que a fiscal não vota na cidade de Porto Alegre – visto que a legislação proíbe detenções cinco dias antes das eleições. Como não haverá segundo turno em Alvorada (RS), cidade em que ela reside, ela pôde ser detida.
De acordo com o G1, a Polícia Civil também investiga se Adriana teria mentido sobre o caso. Em seu primeiro depoimento, ela afirmou não ter ouvido João Alberto pedir ajuda. Na ocasião, a fiscal também alegou que o policial militar temporário preso em flagrante era um cliente da loja, e não um funcionário da empresa de segurança contratada pelo supermercado. Essas foram apenas algumas das várias contradições em depoimentos dos funcionários do Carrefour.
Quanto à participação de Adriana no crime, segundo o UOL, ela disse que os seguranças não iriam soltar Beto pois ele poderia bater neles. Ela também teria ameaçado um motoboy que filmava as agressões, com o intuito de impedi-lo de registrar a cena. A publicação menciona ainda que outro fiscal teria alertado Adriana de que ela não “deveria conduzir daquele jeito”.
A equipe do UOL tentou entrar em contato com a advogada de Adriana Dutra, Karla da Costa Sampaio, mas não obtiveram sucesso. O G1 também procurou a equipe do Carrefour, mas não conseguiu nenhuma resposta.
Entenda o caso
João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte no dia 19 de novembro, por dois homens brancos, no estacionamento do supermercado Carrefour, localizado no bairro Passo D’Areia, em Porto Alegre (RS). O episódio aconteceu às vésperas do ‘Dia da Consciência Negra’ e, com razão, gerou grande revolta nas redes sociais.
Os seguranças da empresa, Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva, foram presos em flagrante. Por ser policial militar, Giovane foi levado para um presídio militar, enquanto o segundo foi encaminhado para um prédio da Polícia Civil. A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Porto Alegre investiga o caso e trata o crime como homicídio qualificado.
Em respeito à vítima, o hugogloss.com não replicará o vídeo aterrorizante da agressão. O registro – de revirar o estômago – mostra também uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) chegando ao local e tentando reanimar Beto, mas ele não resistiu.
Em nota, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul informou que o espancamento começou após um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do supermercado. João teria ameaçado bater na trabalhadora que, por sua vez, acionou a equipe de segurança. “A esposa [da vítima] referiu que eles estavam no mercado fazendo compras, que o marido fez um gesto, que ela não soube especificar, para a fiscal. E ele teria sido conduzido para fora do mercado”, declarou a delegada Roberta Bertoldo.
“Informações que foram colhidas com a equipe de peritos desse caso, que não ainda o laudo concluído, apontam suposições sobre a causa da morte, e que ele (João) possa ter tido um ataque cardíaco em função das agressões, porque ficou custodiado com duas pessoas em cima. Talvez tenha sido essa a causa da morte”, prosseguiu ela.
O comunicado também explicou que Giovane é “policial militara temporário” e estava fora do horário de trabalho. As atribuições do agressor na corporação são limitadas a “execução de serviços internos, atividades administrativas e videomonitoramento” e “guarda externa de estabelecimentos penais e de prédios públicos“. A Brigada não informou o que ele fazia no mercado.
Confira a nota da Brigada na íntegra, o posicionamento do Carrefour e as reações de revolta pelas redes sociais, clicando aqui. No dia 20 de novembro, manifestantes tomaram as ruas e lojas do supermercado em diversas cidades do Brasil, pedindo Justiça para o caso, e relembrando outros episódios semelhantes envolvendo a empresa.
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