Violinista brasileira tem visto negado na Austrália por falta de seguidores e desabafa: “É terrível ser medido por números nas redes sociais”

A violinista brasileira Anna Murakawa protagonizou uma história revoltante nos últimos anos. Após quase 20 anos de carreira, a professora da Universidade de Sydney entrou com um pedido para se tornar residente na Austrália – país em que viveu nos últimos quatro anos, e onde concluiu seu doutorado. Contudo, ela teve seu visto de artista negado por um motivo um tanto inusitado: seu número de seguidores.

Em 2018, quando pediu o visto pela primeira vez, Anna tinha 28 mil seguidores. “A Imigração reconhece que sou uma violinista excepcional, mas diz que minha carreira não é mensurável como seria esperado de um artista internacional”, contou ela, em entrevista à revista Veja, divulgada nesta segunda-feira (16). “Logo depois que recebi a notícia, entrei desesperada no Instagram e fiz um apelo para quem acompanha e gosta do meu trabalho ajudar nesta campanha”, adicionou.

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A resposta veio em julho de 2020, quando ela ficou diante do dilema: entrar com um processo de apelação, ou deixar, em 28 dias, o país no qual firmou sua carreira. Murakawa não desistiu da luta e escolheu recorrer da decisão. “Fiquei muito indignada que a definição de artista passe pelo número de seguidores. Dedico minha vida ao violino desde os 13 anos, dou tudo de mim, e ouvir que não foi o suficiente foi um tapa na cara”, lamentou ela.

A história de Anna repercutiu muito, causando indignação pelo fato de seu número de seguidores ter sido determinante na decisão do governo australiano. Luciano Huck, Fabiana Karla e Marcos Mion foram alguns dos que se manifestaram sobre o caso. Olha só:

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Na semana passada, Anna compartilhou com os seguidores que finalmente terá sua audiência no próximo dia 19 de novembro. “Agora é a hora em que eu vou ficar cara a cara com o juiz para tentar provar para a corte australiana que eu sou um distinct talent, uma artista internacional. É terrível você batalhar a sua vida inteira, se dedicar por anos para se tornar uma excelente profissional e no final você ser medido por números em redes sociais e não pela sua competência”, desabafou ela.

Mesmo tendo deixado o número de 28 mil seguidores para trás e atingido quase meio milhão de pessoas pelas redes, a violinista ainda não se sente segura – mas já se considera vitoriosa, não importa o resultado da audiência. “É estranha a sensação de ter sua carreira e o seu trabalho posto à prova e a julgamento dessa maneira. Eu sei que eu sempre dei o meu melhor para tentar me tornar a melhor violinista e artista que eu posso ser. Como eu aprendi recentemente, os números importam, estou grata a todos que ajudaram e estão ajudando, mas no meu coração essa vitória já existe — E talvez ela nem seja em forma de visto”, escreveu ela.

Trabalhos com Eminem e mais estrelas, e trajetória de luta

Anna Murakawa nasceu em Osasco (SP), e teve seu primeiro contato com a música e o violino através do Projeto Guri – projeto social do governo do estado que incentiva o estudo de música nas periferias. Apesar de ter sido muito desencorajada, ela decidiu aos 15 anos que queria seguir carreira como musicista, época em que começou a trabalhar em duas orquestras, sendo uma delas a Orquestra de Câmara da Universidade de São Paulo (OCAM).

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Com a OCAM, Anna esteve num festival de Brasília, onde recebeu o convite para estudar na Academia Nacional de Música Prof. Pancho Vladigerov, na Bulgária, aos 17 anos. Com o apoio de uma bolsa do Projeto Guri, ela concluiu seu bacharelado no exterior e logo foi convidada a estudar nos Estados Unidos. Nas terras norte-americanas, a violinista fez uma pós-graduação em Pittsburgh, e concluiu um mestrado na University of Louisville, no Kentucky.

Anna Murakawa passou pela Bulgária, Estados Unidos até se tornar professora na Austrália. (Foto: Reprodução/Facebook)

Quando já tinha iniciado seu doutorado no Texas, Anna resolveu tentar estudar com Ole Bohn – que é um dos maiores violinistas do mundo – na Universidade de Sydney, na Austrália, mesmo sem condições financeiras. “Não tinha nenhum dinheiro. Peguei 3.000 dólares emprestados para estudar e prestar a prova de doutorado… Viajei meio mundo sem nenhuma garantia de que ia passar na prova, mas queria estudar em um lugar do qual me sentisse orgulhosa”, revelou ela à Veja.

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Anna garantiu sua vaga na universidade, mas desde então, teve de se virar para sobreviver no novo país, quando começou a tocar nas ruas, “deixando o ego de lado”. A partir daí, não demorou até que seu talento deixasse as calçadas e chegasse até as grandes audiências, como quando recebeu o convite para tocar com Eminem. “Eu sempre procurava inovar, fazer algo diferente. As pessoas começaram a perceber isso e me chamaram para coisas cada vez maiores. O Eminem me contratou pelo Facebook!”, lembrou ela.

Em 2019, a violinista se apresentou ao lado do rapper para 80 mil pessoas… mas ela não parou por aí! Foram várias as vezes em que Murakawa tocou com o cantor Michael Bublé, a banda de rock Hanson, sem falar da banda OneRepulic – que, inclusive, estava presente no seu repertório nas ruas, quando ela tocava o hit “Counting Stars”.

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Anna Murakawa até teve seu status de artista internacional questionado na Austrália, mas os percalços só lhe deram ainda mais força para seguir sua trajetória. “Sinto uma responsabilidade muito grande. Pensando no Projeto Guri, sei que quanto mais longe eu chegar, mais outras pessoas vão acreditar que elas conseguem também”, contou ela, que lançou o álbum de Natal “Let it Shine” no último sábado (14) – disponível no YouTube.

Com ou sem visto, a artista não desistirá de sua nova missão – levar o nome de nosso país a todos. “A recusa do visto despertou um propósito que já existia no meu coração, mas estava adormecido. Quero representar o Brasil como violinista”, disse ela. “Mesmo assim, se o visto não sair, vou poder olhar para trás e saber que dei tudo de mim, como sempre tento fazer”, completou.

Desde já, ficamos na torcida pra que Anna consiga seu visto! Mas que ela já é um orgulho, não temos dúvidas… Confira a entrevista de Anna Murakawa com a Veja na íntegra, clicando aqui.