Você com certeza já ouviu falar do fenômeno “365 Dias”. O best-seller da autora polonesa Blanka Lipinksa fez tanto sucesso que foi parar nas telinhas! Lançado em julho de 2020 na Netflix, o longa homônimo permaneceu, por dias, no topo da lista de títulos mais assistidos da plataforma. Estrelada por Michele Morrone e Anna-Maria Sieklucka, a trama erótica narra a jornada conturbada de Laura – mulher que é sequestrada por Massimo, poderoso da máfia pelo qual acaba se apaixonando.
Tema de diversas discussões e divisora de opiniões, a obra ganhou vida num momento em que sua criadora enfrentava problemas no relacionamento. Em entrevista ao hugogloss.com, Blanka, que já foi cosmetologista, maquiadora e gerente de um hotel no passado, disse que nunca se deu conta da vocação como autora, afirmando ainda que frustrações pessoais a levaram a escrever.
“Eu nunca percebi que poderia escrever. Eu comecei a escrever meu primeiro livro – e último, provavelmente – porque meu namorado, de 7 anos atrás, não queria fazer amor comigo. Então, eu tive que criar esse amor ou, para dizer a verdade, eu tive que criar essa ‘f*da’. Então, eu nunca me dei conta de que poderia escrever, mas sou a autora e, antes de tudo, uma mulher com grandes desejos e um cara que não queria fazer nada com ela”, declarou a polonesa, que estreou recentemente no Brasil, o segundo livro da trilogia, “Este Dia”, por meio da Buzz Editora.
De onde vem a inspiração?
Muito do que foi visto ou lido pelo público é, inclusive, inspirado em experiências vividas por Lipinksa. “Você não consegue escrever sobre alguma coisa que você não conheça. Você precisa se colocar no seu livro, na sua história. E até mesmo no filme. Como eu falei antes, meu namorado não queria fazer sexo comigo, então eu fiquei sem transar por mais ou menos um ano e meio. Foi muito tempo sem nada! Logo, eu tinha várias coisas em mente que eu gostaria de fazer, e misturei isso com o que eu fazia na minha vida antes desse cara, então foi bem natural”, comentou.
O que, então, é real e o que é fantasia?
A produção, entretanto, tem altos e baixos, muitas reviravoltas, drama e tensão. Questionada sobre quais aspectos são baseados em fatos de sua vida, Lipinska pontuou: “Cerca de 85% da história é real, mas eu nunca vou lhes dizer qual parte é real, porque… Porque eu não quero! Porque é a minha vida privada. Existe muito da minha vida privada na ficção, mas eu quis mantê-la para mim mesma, então eu nunca respondo essa pergunta”.
Sabe-se, entretanto, que alguns dos personagens são inspirados em pessoas reais que cruzaram o caminho de Blanka, algum dia. Martin, por exemplo, é o retrato de um ex-namorado da polonesa. Massimo e Nacho – este segundo, interpretado pelo ator Simone Susinna na sequência de “365 Dias” – também apresentam traços bem fieis a seus respectivos musos inspiradores.
Lipinska não hesitou ao falar sobre as características de cada um deles. “Algumas coisas eu precisei consertar para fazer os personagens ficarem melhores, mas creio que 90% [das características] sejam representativas. Então, sim, o Massimo verdadeiro realmente existe, e o Nacho verdadeiro é um fofo como no livro”, afirmou.
O processo de escalação dos atores
Laura, protagonista do longa, acabou se tornando uma personificação dos desejos de Blanka, além de trazer também, na história, traços físicos e de personalidade parecidos com o da escritora. A escalação da atriz perfeita para o papel levou muito tempo. “A coisa mais difícil foi encontrar a Laura, porque eu tentei encontrar a mim mesma, e estava errado, foi um erro. Mas você sabe, eu ainda não sabia como fazer um filme, foi na primeira parte, há dois anos.
Meu produtor me mostrou uma foto da menina e me perguntou: ‘Olha para essa menina! Quem você vê aqui nessa foto?’ e eu respondi ‘é claro, sou eu’. A Anna-Maria tinha a mesma foto que eu, até mesmo com as mesmas roupas, a gente estava com o mesmo cabelo, então eu disse: ‘meu Deus, eu quero conhecer essa garota!’. E quando ela foi para o teste de elenco, ela foi brilhante. Ela tinha o corpo perfeito, a personalidade perfeita”, elogiou a polonesa.
Bem-humorada, ela também se empolgou ao recordar o dia em que conheceu Michele pela primeira vez. “Ai meu Deus, eu me lembro daquele dia! Era um dia muito quente e ele estava tão bonito! Mas para mim, autora, era um momento muito animado, eu estava muito nervosa… Quando eu o vi pela primeira vez, ele estava sentado esperando para o teste, usando um óculos de sol. Eu sentei ao lado dele e ele falou alguma coisa, mas eu não escutei as palavras, porque eu estava focada, pensando: ‘Ok, você tem pernas longas, isso é bom, você tem um cabelo ótimo, lábios lindos… hum, eu não sei se esses são os lábios de Massimo… Ah, você tem dentes lindos’ – porque ele estava sorrindo!”, contou.
“Ele estava falando alguma coisa, mas meu cérebro não estava ouvindo. Eu estava o olhando. Michele parou de falar, tirou os óculos dele, olhou para mim e me perguntou: ‘Você está perdida, gatinha?’. E então eu disse ‘ah, eu estou tão perdida! Está bem, nós conseguimos!’. Depois ele foi fazer o teste e boom, tudo explodiu! Então foi tipo… Ok… Sim! Eu amo essas memórias”, acrescentou, toda contente.
O processo de seleção de Simone, por sua vez, também foi marcante. “Quando Simone veio para o nosso primeiro teste de elenco, eu vi um homem tão lindo, com uma energia enorme. Foi como se ele tivesse arrancado o coração dele e dado para mim. Então eu falei: ‘Ah, meu Deus! Isso é exatamente o que o Nacho faria, na mesma situação’. E Anna-Maria falou: ‘Ok, eu tive uma conexão com esse cara, uma conexão de energias’. E todos nós sentimos isso. Simone é modelo e, como poderão ver no segundo filme, um ótimo ator também”, frisou Blanka.
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Comparações com “Cinquenta Tons de Cinza”
Apesar da trilogia de Lipinska ser baseada em sua própria realidade, ela não foge das comparações com a saga “Cinquenta Tons de Cinza“. A escritora reconheceu que existem traços similares nas histórias, como por exemplo, as sequências de sexo e todo o poder que detêm os protagonistas masculinos, mas fora isso, ela não vê semelhanças.
“A questão é a seguinte: são duas obras muito populares na mesma categoria, a de livros eróticos. Então, nós precisamos lembrar de uma coisa: o cara é sempre lindo, quase sempre é rico, alto, tem um super carro, jatinhos às vezes, iates, e blá blá blá. Ele é poderoso… E por quê? Porque mulheres gostam de homens assim. Ele não é um frouxo, ele é um homem de verdade. Porque nós mulheres, ficamos encantadas com homens de verdade. Então, nisso, é parecido. As histórias, na minha opinião, só se assemelham nessa parte. Mas eu não vejo muitas outras semelhanças entre ‘365’ e ‘Cinquenta Tons de Cinza'”, opinou.
Há limites em relação às cenas de nudez?
As cenas de nudez são outros pontos comuns entre as duas franquias. Há, claro, limites do que é ou não aceitável, sempre prezando pelo conforto dos atores em cena. “Como somos uma produção original Netflix, há regras que precisamos respeitar, então isso é algo que pode ser de grande ajuda no set, pois conversamos muito com os nossos atores. Eles podem dizer: ‘Nós não queremos isso, mas talvez possamos criar algo assim…’. Nós sempre os escutamos, escutamos toda a equipe, porque para um filme, centenas de pessoas trabalham no set, num mesmo momento. Portanto, departamentos diferentes têm diferentes pontos de vista sobre uma mesma situação, e no final, tem os criadores, tem o diretor, tem os produtores, atores… Nós trabalhamos como um time”, esclareceu Lipinska.
Nudes vazadas de Michele
Falando em nudez, no final de junho, vieram à tona imagens de Michele Morrone, totalmente despido no set de filmagens de “Este Dia”. O ator, inclusive, usou as redes sociais para se queixar quando viu sua intimidade completamente exposta. Durante o papo com o hugogloss.com, Blanka também repudiou a atitude dos papparazi ao vazarem os cliques do italiano e lembrou que o episódio afetou a todos que trabalhavam nos bastidores do longa.
“Foi horrível para todos, porque eu sei, por experiência própria, como paparazzi e fotos podem ser dolorosas. E foi… Eu nem sei como explicar meus sentimentos, nem em polonês. Eu teria de falar várias palavras feias, mas agora eu tento encontrar algo similar, mas nada é tão espetacular… Nós temos de lembrar que pessoas públicas são seres humanos, que têm os mesmos sentimentos que todas as outras pessoas. Eu não sei se esse fotógrafo gostaria de ver ele mesmo, ou, por exemplo, seu filho ou filha nessa situação, sabe? As pessoas não têm empatia o suficiente na mídia. Especialmente os paparazzi, porque eles ganham dinheiro por causa disso. E eu não aceito isso. Como Blanka Lipinska, como autora, como estrela e também como amiga do Michele Morrone, foi um momento extremamente difícil para toda a equipe, especialmente para o Michele”, desabafou.
O que esperar das sequências de “365 Dias”?
Apesar das situações adversas enfrentadas, como o vazamento da nude de Michele, as filmagens de “Este Dia” e também de seu sucessor, ainda sem nome oficial divulgado, seguiram a todo vapor. As duas partes finais da trilogia foram gravadas de maio a agosto deste ano – ou seja, em apenas três meses! Sem entrar em muitos detalhes, a autora fez promessas animadoras sobre o próximo longa, que tem previsão de estreia marcada para 2022.
“Eu não posso dizer muito sobre o filme… O que posso dizer é que vai ter uma fotografia incrível, terá sexo maravilhoso, porque o filme é meu! Muito sexo! Muito! Quando você assistir à segunda parte da história, poderei falar sobre a cena de sexo mais difícil que eu já criei. Eu acredito que em todos os filmes de todo o mundo, não há nenhuma cena de sexo como essa. Porém, eu só vou falar sobre isso depois que assistirem. Vai ter, é claro, muita moda, sejamos sinceros. E teremos com certeza, Anna-Maria, Michele e Simone – e isso é o suficiente”, avisou. Eita!
Síndrome de Estocolmo
A temática de “Este Dia” tem de tudo para causar ainda mais furor entre parte dos telespectadores, que no ano passado, juntaram 95 mil assinaturas numa petição online que solicitava a retirada de “365 Dias” do catálogo da Netflix. Apesar do sucesso, o longa gerou bastante controvérsia. Enquanto uns morreram de amores pelo sedutor Massimo, outros problematizaram o affair dele com Laura, afirmando que o filme romantizaria o sequestro, o abuso sexual e até mesmo a Síndrome de Estocolmo.
Blanka, por sua vez, insistiu que o público leia sua obra por completo, antes que decida tecer quaisquer críticas. Segundo a escritora, cada um dos filmes retrata somente 15% de tudo que é descrito em cada um de seus respectivos livros. “A verdade está dentro dos três livros. Você tem de conhecer a história toda, e não só o início. Porque o início e o final são dois tipos diferentes de história. Então eu recomendo que peguem meu livro, leiam, e depois me digam que há violência, que há… Ok, Síndrome de Estocolmo realmente tem, mas eu estou bem com isso, porque é bem romântico para mim. Eu sou a autora e esse é um livro para pessoas adultas”, frisou.
Na sequência, Lipinska problematizou a temática de “A Bela e a Fera”, apontando para a presença da Síndrome de Estocolmo também na história infantil. “Para mim, há um exemplo mais controverso em ‘A Bela e a Fera’, que é um desenho para crianças. Ok, no desenho não tem sexo. E está tudo bem. Mas qual é a diferença? A Bela fica com a Fera porque ela precisa proteger o pai dela. Você vê a semelhança entre isso e ‘365’? Sim, é semelhante. Mas um é um desenho para crianças. O meu livro é para adultos. Então, se a pessoa tem um cérebro e sabe como usá-lo, vai saber que não pode sequestrar ninguém, porque é errado! Não pode ser um gângster e atirar nas pessoas sem mais nem menos. Somos pessoas adultas”, disparou a escritora, avaliando ainda que é possível para uma mulher ser feminista e, ao mesmo tempo, fantasiar com os homens estereotipados em seus livros.
“Elas olham e falam ‘não, isso é errado!’, mas isso é sobre o desejo, sobre fantasia. Meu livro é entretenimento. Sabe de uma coisa, eu coloquei nas três primeiras páginas (de ‘365 Dias’) a cena do avião. Porque eu sei que as pessoas, quando decidem que tipo de livro irão comprar, pegam o livro, leem na capa sobre o que é, depois abrem o livro e leem apenas três páginas. Logo, se eu mostrar pra elas nas três primeiras páginas que tipo de livro aquele será, elas poderão decidir ‘ok, esse é um livro para mim!’ ou ‘não, isso já é demais’, e para mim isso está tudo bem. É como eu lhe falei, nós temos um cérebro”, acrescentou.
Novo filme após fim da franquia
Por fim, a polonesa falou sobre os próximos passos em sua carreira. “Eu comecei a criar há alguns meses um novo roteiro. Também será erótico. Uma história totalmente diferente. Agora estou focada em filmes, porque nos filmes é mais divertido! Quando você escreve um livro, você fica sozinha com o seu livro. É claro que é divertido, porque você pode criar sua própria realidade, do jeito que quiser, pode ter aventuras… Mas num filme você pode tocar todas essas coisas. Então, eu criei um novo roteiro, novamente inspirado na minha vida. É um filme erótico, sobre uma autora e um guitarrista famoso, um rockstar. Uma história bem legal!”, antecipou. Nos resta aguardar pra ver, né?!
Confira a entrevista completa com Blanka Lipinska: