Já pensou em ficar preso em uma ilha “deserta” com a pessoa que você mais teme… a sua sogra?! Essa é a premissa do reality show brasileiro da Netflix, “Ilhados com a Sogra”. A produção estreou no início do mês e instantaneamente conquistou o público, ocupando o primeiro lugar no Top 10 Brasil da plataforma. Na competição, genros e noras ficaram ilhados com a mãe de seus parceiros em busca de melhorar o relacionamento e garantir o prêmio de R$ 500 mil. Uma das famílias que teve destaque foi a Sassone, formada pelo casal Vini Sassone e Felipe Carvalheira e a sogra Socorro Sassone. A equipe do hugogloss.com bateu um papo com eles sobre a experiência e as situações que enfrentaram dentro do programa.
Ao todo, seis famílias participaram da disputa. Socorro — ou Soc para os íntimos — foi uma das participantes mais comentadas do reality, inclusive uma das mais seguidas nas redes sociais após a estreia. Ela afirmou que não esperava a recepção calorosa e que está “anestesiada” com tanto carinho. A sogra também abriu o jogo sobre o relacionamento com o genro, Felipe, que foi muito criticado pela maneira como a tratou durante a competição.
“Gente, olha… ali estava todo mundo, ele estava super chateado. A gente não sabia onde o meu filho estava, se ele tinha ido embora, se ele estava ali, ninguém sabia. E outra coisa também, ali ele ficou chateado porque eu não me reconheci como uma guerreira, e eu sou uma guerreira. Estava todo mundo nervoso, porque valia R$ 500 mil. Mas eu e Felipe, a gente sempre se deu bem. Ali é uma adrenalina muito grande, gente. Eram R$ 500 mil, meu filho estava longe da gente, e eles são amor. Tudo isso influi. Mas a gente se dá bem até hoje. A gente sempre se deu e se dá bem até hoje”, destacou. Ela ainda enfatizou que não ficou chateada com Felipe durante o programa. “Conheço o meu genro, e aqui só tem amor”, garantiu.
Já Felipe confirmou também que a relação de onze anos com Socorro sempre foi boa, mas que ele se arrepende da maneira como a tratou na segunda prova do reality. “Ali naquele momento eu estava com tanta coisa na minha cabeça que eu acabei me desconectando, de alguma forma, da realidade da Socorro. Até aquele ponto, a gente achava que o Vini tinha sido tirado do reality, que era um sonho dele. Para mim e para a Socorro, a gente estava embarcando em um sonho do Vini. Então foi muito brutal para a gente ver o Vini indo embora de um sonho que era dele. Então ali, naquele momento daquela prova, que foi a primeira prova após a despedida, a importância de lutar pelo programa em si, pelo prêmio, tinha dobrado de valor para mim”, afirmou ele.
Vini, por sua vez, defendeu o parceiro das críticas do público: “Eu jamais me relacionaria com uma pessoa que fosse rude comigo, com a minha mãe, com a minha família. O jeito do Felipe é um jeito muito mal interpretado pelas pessoas. As pessoas têm muita pressa de julgar, de condenar. Ele não foi rude em nenhum momento. Aliás, ele foi em alguns momentos, principalmente momentos de prova, principalmente no início da nossa experiência. Mas no dia a dia isso não existe. Ele tem esse humor mais ácido, ele dá essas alfinetadas. Mas ele nunca faltou com respeito e eu jamais permitiria que isso acontecesse dentro na nossa relação”.
Outro ponto do programa foi o atrito de todos os participantes com a família Tenório. Mayara Tenório, Thyago Cesar e Severina Tenório foram muito criticados pelos colegas de confinamento devido à estratégia de jogo escolhida, e chegaram a apontar que foram excluídos da convivência. “Eu quero deixar claro aqui uma coisa que eu acho importante, é que a família Tenório, representada ali na vila pelas figuras da Severina e do Thyago, eles optaram por uma estratégia que envolvia uma quebra de confiança dos outros participantes”, destacou.
“Eu quero frisar aqui que quando eu digo isso, eu não estou fazendo juízo de valores de nenhum dos dois, tá? Isso é uma interpretação minha, do que eu encaro como um erro de estratégia em um reality que envolve pontuação e convivência. No mundo real, acho que ninguém vai discordar disso em sã consciência, se você se abre a uma pessoa nova, e depois você descobre que essa pessoa mentiu para você sobre diversas coisas, a ruptura é indubitável”, afirmou Felipe. Ele também reconheceu que a conversa franca que teve com a Severina no final do programa foi um dos acertos de sua participação.
Já do lado de fora, o público apontou que houve situações de racismo estrutural durante a competição. Sobre isso, Felipe disse que este tipo de atitude é uma realidade no Brasil e que a educação sobre o tema é necessária. “O que dá para fazer, e eu acho que é uma obrigação moral a gente fazer, é cultivar o interesse de estudar sobre o tema, para justamente evitar de incorrer nos mesmos erros, vez após outra. Acho que essa desculpa é que não dá para a gente manter”, falou.
Para Vini, que estava na maior parte do tempo preso em um bunker, a impressão sobre a família Tenório foi diferente, já que o contato maior foi com Mayara. “A gente se manteve unido o tempo todo, porque era complicadíssimo ficar ali confinado, assistindo de fora a muitas situações. Eu não estou falando só porque estávamos confinados, não, mas porque todo mundo se conectou mesmo ali. O que aconteceu fora, como eu já disse, chegou como uma informação que me fez torcer pelas famílias que estavam jogando sem estratégia, sem estarem fingindo qualquer tipo de situação. Então, dentro do bunker a gente sempre se manteve unido”, disse.
Falando em bunker, a gente confessa que tinha dúvida se o local era de verdade, com aquela entrada escondida no meio da areia, ou se o local era, na verdade, um estúdio. Porém, Vini matou nossa curiosidade e falou que tudo o que vimos no reality era real, e que todos ficavam mesmo trancados no pequeno espaço. No entanto, todo dia a produção liberava cada um individualmente para tomar um solzinho do lado de fora. “A maior parte do tempo que a gente passou ali dentro, a gente tentava ocupar a cabeça com várias coisas. Então, a gente falava sobre as famílias, falava sobre diversos temas, dançava, inventava música, especulava o que poderia vir na próxima prova, se a gente ia participar, se a gente não ia. Então o nosso dia era mais ou menos isso”, comentou.
Se o objetivo do programa era estreitar os laços entre genro, filho e sogra, para os Sassone a meta foi cumprida com muito sucesso. A experiência foi tão marcante que eles inclusive decidiram eternizar na pele com uma tatuagem de família. Sim, Brasil, agora nossa Mary Help é uma mulher tatuadíssima! kkk Confira as entrevistas com os três na íntegra abaixo:
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Entrevista com Socorro:
HG: Socorro, você é a participante mais querida e seguida do programa. Como você recebeu essa avalanche de amor? Você esperava?
Socorro: Não, eu não esperava. Até agora eu ainda estou meio anestesiada com tanta mensagem de carinho que eu estou recebendo. Ainda não entendi, gente.
HG: Você cativou o público pelo o seu jeito doce e compreensivo no reality. Você tem recebido muitas DM’s e mensagens de carinho? Já é reconhecida nas ruas?
Socorro: Olha, eu estou recebendo muitas mensagens de carinho. E já fui reconhecida no metrô, no jornaleiro, no supermercado, e até no [playground] do prédio do meu filho as crianças vêm me pedir autógrafo. Achei muito lindo, gente!
HG: Como que está a sua relação com o Felipe?
Socorro: Eu conheço o Felipe há onze anos. Então, eu respeito o espaço dele e ele respeita o meu. Ele é um filho para mim, ele cuida de mim de outras formas. “Para de fumar, Soc. Para de não sei o quê”, de outras formas, não é de abraço. Eu que sou mais de querer abraço, mas ele não. Ele cuida de outras formas.
HG: Nas redes, muita gente criticou o Felipe pela forma como ele te tratava no programa. Como você enxerga isso? Ele te pediu desculpas após a exibição do reality?
Socorro: Gente, olha… ali estava todo mundo, ele estava super chateado. O meu filho, a gente não sabia onde é que ele estava, se ele tinha ido embora, se ele estava ali, ninguém sabia. E outra coisa também, ali ele ficou chateado porque eu não me reconheci como uma guerreira, e eu sou uma guerreira. Estava todo mundo nervoso porque valia R$ 500 mil, gente. Mas eu e Felipe, a gente sempre se deu bem. Ali é uma adrenalina muito grande, gente. Eram R$ 500 mil, meu filho estava longe da gente, e eles são amor. Tudo isso influi. Mas a gente se dá bem até hoje. A gente sempre se deu e se dá bem até hoje.
HG: Em alguma daquelas cenas você chegou a se magoar de verdade com o Felipe?
Socorro: Gente, naquela hora ali não foi com o Felipe, eu estava chateada comigo. Porque coisas que eu não poderia ter errado, eu errei. Eu não estava chateada, eu e Felipe nos damos muito bem. Ele é um amor comigo e eu sou com ele. E outra coisa também, ninguém entra em um reality para não ganhar, né gente? Todos ali queriam o quê? R$ 500 mil. Então, não existe isso. Não era chateada com o Felipe, era comigo. Gente, não fiquei magoada com o Felipe. Conheço o meu genro, e aqui só tem amor.
HG: Como você viu a história dos Tenório no programa?
Socorro: Gente, cada um conta a história que quiser. Eu com eles não tenho nada a dizer dos Tenórios, a minha reação com eles continua a mesma. Então ponto, eu não tenho o que falar de ninguém ali.
Entrevista com Vini:
HG: Aquele bunker era de verdade mesmo? Ele era embaixo da terra ou apenas um cenário com um truque de câmera ali na hora de descer pela escada?
Vini: Não, gente, não tinha truque de câmera nenhum. O que vocês viram era o que a gente fazia, a gente só saia do bunker e entrava no bunker por aquela escotilha. Mas assim, claro que não existe um bunker perdido no litoral de São Paulo, foi uma estrutura construída. Mas era exatamente como vocês viram. A gente ficava ali dentro e só saía pela escada e passava pela escotilha.
HG: Vocês ficavam todo aquele tempo confinado dentro da estrutura ou podiam sair um pouco do bunker para tomar um ar? No programa, é como se vocês ficassem direto ali, mas nos parece um pouco claustrofóbico.
Vini: Sim, os nossos dias ali eram todos ali dentro. Era claustrofóbico, era entediante. Mas a gente recebia às vezes autorização para poder sair, pegar uns cinco minutinhos de sol, quando estava sol. E individual, a gente não podia sair juntos, cada um tinha o seu tempo lá para poder pegar o seu sol e respirar um pouquinho. A maior parte do tempo que a gente passou ali dentro a gente tentava ocupar a cabeça com várias coisas. Então, a gente falava sobre as famílias, falava sobre diversos temas, dançava, inventava música, especulava o que poderia vir na próxima prova, se a gente ia participar, se a gente não ia. Então o nosso dia era mais ou menos isso.
HG: O que você achou da relação entre o Felipe e a sua mãe vendo pela TV?
Vini: Olhando pela TV, é uma coisa que eu nunca tinha visto, né? Porque essa relação a gente já tem há 10 anos, mas eu estou muito acostumado a fazer um meio de campo no dia a dia para não deixar que nenhuma situação fique meio tensa entre os dois. Por mais que eu conheça os dois, eu sei que tem muito amor nessa relação. Mas ali no bunker, em algumas situações, em algumas cenas, eu me senti impotente. Mas eu acho que era o objetivo do experimento, né? Eu acho que o objetivo era que eles se entendessem, que essa relação melhorasse. E acho que o objetivo foi concluído com sucesso.
HG: Muita gente te criticou nas redes por permanecer com alguém que trata a sua mãe de forma tão rude. Como você responde à essas críticas?
Vini: Gente, eu jamais me relacionaria com uma pessoa que fosse rude comigo, com a minha mãe, com a minha família. O jeito do Felipe é um jeito muito mal interpretado pelas pessoas. As pessoas têm muita pressa de julgar, de condenar. Ele não foi rude em nenhum momento. Aliás, ele foi em alguns momentos, principalmente momentos de prova, principalmente no início da nossa experiência. Mas no dia a dia isso não existe. Ele tem esse humor mais ácido, ele dá essas alfinetadas. Mas ele nunca faltou com respeito e eu jamais permitiria que isso acontecesse dentro na nossa relação.
HG: Você se mostrou irredutível com os Tenório no programa. Você mudou de ideia sobre eles ao ver o reality?
Vini: Então, ali preso da forma que a gente estava no bunker, a gente não tinha informação, as informações chegavam muito limitadas para a gente. E o que chegou foi que eles estavam fingindo, interpretando. Então eu achei que não era legal, não concordei com essa estratégia. Eu falei com a May sobre isso, falei pessoalmente para ela. Nós, filhos de bunker, conversamos sobre isso. Então, para mim, foi uma surpresa saber disso. E eu fiquei, sim, chateado. A partir desse momento, a minha torcida não era mais para eles.
HG: O público também apontou racismo estrutural de alguns participantes com a família Tenório durante o jogo. Vocês percebiam isso durante as gravações do programa? Como vocês analisam essas acusações, especialmente agora, vendo de fora?
Vini: Gente, eu posso falar pelo bunker da onde eu fiquei. Ali, a gente sempre esteve juntos, nós seis. A gente se manteve unido o tempo todo, porque era complicadíssimo ficar ali confinado, assistindo de fora a muitas situações. Eu não estou falando só porque estávamos confinados, não, mas porque todo mundo se conectou mesmo ali. O que aconteceu fora, como eu já disse, chegou como uma informação que me fez torcer pelas famílias que estavam jogando sem estratégia, sem estarem fingindo qualquer tipo de situação. Então, dentro do bunker a gente sempre se manteve unido. A gente nunca se excluiu, mesmo nos momentos mais difíceis ali para todo mundo, a gente se manteve ali um do lado do outro.
Entrevista com Felipe:
HG: Você se arrepende do modo como tratou a Socorro no programa?
Felipe: Estando aqui do lado de fora do programa e revendo, principalmente, a segunda prova, que foi a prova dos saquinhos, sim. Ali naquele momento eu estava com tanta coisa na minha cabeça que eu acabei me desconectando, de alguma forma, da realidade da Socorro. Até aquele ponto, a gente achava que o Vini tinha sido tirado do reality, que era um sonho dele. Para mim e para a Socorro, a gente estava embarcando em um sonho do Vini. Então foi muito brutal para a gente ver o Vini indo embora de um sonho que era dele. Então, ali naquele momento daquela prova, que foi a primeira prova após a despedida, a importância de lutar pelo programa em si, pelo prêmio, tinha dobrado de valor para mim. A gente ali dentro fica muito submetido a estresse, a gente cria expectativas o tempo inteiro, a gente mergulha na ansiedade. É uma experiência que existe para te colocar em teste mesmo sob vários aspectos.
HG: Como está a relação de vocês hoje?
Felipe: A nossa relação sempre foi boa. Depois do programa, acho que até com essa experiência da gente estar tão próximo por tanto tempo e sem o Vini ali intermediando, eu acho que a gente se conectou mais ainda. É claro que a gente tem as nossas divergências, mas como a gente já fazia antes, a gente continua fazendo agora. A gente resolve todas numa boa, sem problemas.
HG: Você foi criticado pela forma como tratava a Socorro, sem dúvida, uma das sogras mais doces e compreensivas do programa. Muita gente ficou decepcionada. Como você responde à essas críticas?
Felipe: Primeiro de tudo, eu entendo todas essas críticas. O Brasil está apaixonado pela Socorro. Mas eu lamento, a sogra é minha e eu não divido, porque ela já é pequena! Mas acho que o que as pessoas mais estranharam ali é porque eu e a Soc nunca tivemos o que eu posso chamar de uma relação tradicional de genro e sogra. A gente não tem cerimônias um com o outro, né? Os dois se comunicam usando muitos palavrões, a gente fala palavrão, a gente tem um humor mais escrachado, a gente se alfineta. Eu acho que a Socorro tá muito mais para uma amiga do que para uma figura como essas, né? Uma figura mais distante, que a gente tem que chamar de senhora e sempre trata com muito pudor, com muita reserva. Eu até costumo brincar que, do ponto de vista comportamental, eu sou muito mais velho do que ela.
HG: Você chegou a limitar os comentários de postagens do Instagram. Como você lida com essa repercussão? Te assustou? Você mudou alguma coisa na postura após essa resposta do público? Repensou o seu comportamento, talvez?
Felipe: Olha, o ódio gratuito eu acho que sempre assusta, né? Mas eu não acredito que ele seja eficiente para afugentar reflexões que vão, de alguma forma, gerar qualquer mudança positiva no comportamento de quem quer que seja. Eu, pessoalmente, não me sinto obrigado a manter portas abertas para o ódio nas minhas redes sociais. E foi exatamente isso que me motivou, naquele momento, a limitar os comentários do meu Instagram. Em um primeiro momento eu limitei mais, só podiam comentar as pessoas que eu seguia. Mas, em um segundo momento, eu já abri para que as pessoas que me seguem, que escolhessem me seguir, pudessem comentar nas minhas publicações, e é como está hoje. De um modo geral, eu acho muito saudável que a gente deixe claro aqui, que as pessoas entendam a diferença entre fazer uma crítica, aquela crítica construtiva, pautada por respeito, e eu faço questão de responder todas, e o ódio puro e simples na sua essência. Eu não consigo naturalizar uma pessoa entrar em um espaço meu, ainda que seja uma rede aberta, pública, sem pedir qualquer licença, sem me dar um “bom dia”, me xingando, me desejando o mal, e dizendo absurdos para mim. E aí, sinceramente, eu acho que eu tenho absoluto direito, e me recuso a dar abertura para esse tipo de comportamento.
HG: O que você achou de se ver no reality?
Felipe: Horrível, horrível. Para a minha autoestima foi uma porrada. Eu sou muito autocrítico, então de primeira eu já comecei a achar que a minha voz estava estranhíssima. Aquela cena em que eu apareço no depoimento me incomodou muito, eu acho que estou com os peitos caídos, uma coisa esquisita. E eu estava tratando na época uma alopecia na região da barba, então eu tinha feito um desenho de barba que eu estava assim, um Don Juan do Agreste, não estava legal aquilo. Continuo achando que não está legal [risos]. Mas brincadeiras à parte, falando aqui de um modo geral, eu fiquei feliz com a minha participação, sim.
HG: Em uma das últimas provas, você ficou bravo com o Vini por conta da reação dele ao seu desempenho. Ele te culpou pela derrota, algo que você fazia constantemente com a Socorro. Isso te fez reconsiderar algo?
Felipe: Primeiro de tudo, eu sou obrigado a corrigir essa informação, porque eu não culpei constantemente a Socorro por derrotas. Esse gerúndio no nosso comportamento, na nossa vivência lá, não existiu. O meu destempero com ela aconteceu no contexto da segunda prova, que era aquela prova dos saquinhos, e por um motivo muito claro. Ela não tinha entendido, mesmo com a conversa que a gente havia tido na véspera, e que o programa mostra, do que se tratava estar ali no programa. A gente naquele ponto não sabia, por exemplo, se e em que momento poderia haver um corte de uma família em razão da pontuação. E aí, com base nisso, se a gente fica mal pontuado e a gente fica na lanterna do ranking, a gente se coloca, automaticamente, no risco de um corte, de deixar o programa de forma precoce. Eu, pessoalmente, não queria isso. Ela, também, eu sabia que não queria isso. Agora, quanto a reação do Vini na prova do balde, o que me assustou de verdade foi perceber que talvez ele não estivesse preparado para uma possibilidade que é matemática, que é a possibilidade de perder. Quem se sujeita a encarar uma competição, sobretudo um reality show como aquele, cheio de variáveis, com pessoas tão diferentes, uma diversidade abundante, tem que estar preparado para a possibilidade de perder. Isso é um fato. Então, foi essa reação do Vini que me assustou ali dentro.
HG: Você se mostrou irredutível com os Tenório no programa. Você mudou de ideia sobre eles ao ver o reality?
Felipe: Eu quero deixar claro aqui uma coisa que eu acho importante, é que a família Tenório, representada ali na vila pelas figuras da Severina e do Thyago, eles optaram por uma estratégia que envolvia uma quebra de confiança dos outros participantes. Eu quero frisar aqui que quando eu digo isso, eu não estou fazendo juízo de valores de nenhum dos dois, tá? Isso é uma interpretação minha, do que eu encaro como um erro de estratégia em um reality que envolve pontuação e convivência. No mundo real, acho que ninguém vai discordar disso em sã consciência, se você se abre a uma pessoa nova, e depois você descobre que essa pessoa mentiu para você sobre diversas coisas, a ruptura é indubitável. No reality show, isso não tem como ser diferente, sobretudo porque a gente ali está exposto a muito mais pressões, então as reações são muito mais enérgicas, vamos dizer assim. A gente precisa de um tempo na vida real, assim como no reality, para reatar a confiança, coisa que aquele curto tempo que a gente tinha de gravação, associado a todo estresse da competição, não permitiu, infelizmente. Mesmo assim, eu preciso destacar, e o programa editado – infelizmente – sacrificou muitas cenas do nosso convívio diário como grupo, nós tínhamos o cuidado de chamar para o convívio, por entender que essas duas coisas são diferentes. “Jogo é jogo”, a gente dizia, “mas festa é festa”, ou o contrário, “festa é festa, e jogo é jogo”. Com relação à Severina, eu quero pontuar aqui muito sobre ela, eu tive, inclusive, aquela conversa em que eu tentei fazer ela desistir da ideia de ir embora do programa de forma precoce. Eu, inclusive, enfrentei pessoas que estavam parceiras minhas do programa, que não concordavam com a minha atitude, mas eu entendia que não era justo com a biografia da Severina que ela desistisse naquele ponto. Eu continuo achando isso, não me arrependo da conversa que eu tive com ela. Acho que se eu tivesse que apontar um dos meus grandes acertos, essa conversa, que foi uma conversa franca, foi um dos meus grandes acertos no programa. E eu continuo achando que ela não merecia desistir naquele ponto. A prova irrefutável disso é que ela chegou até a final, né? Eu acho a Severina uma mulher potente, uma mulher que teve, infelizmente — eu lamento muito por isso — muitos episódios da vida forjados pela dor, e não pelo amor. Então, eu tenho um profundo respeito pela história da vida dela e pela pessoa que ela é hoje.
HG: O público também apontou racismo estrutural de alguns participantes com a família Tenório durante o jogo. Vocês percebiam isso durante as gravações do programa? Como vocês analisam essas acusações, especialmente agora, vendo de fora?
Felipe: Bom, o racismo estrutural é uma realidade social no Brasil, vamos dizer no mundo, né? Nós nascemos e nós fomos criados respirando esse ar totalmente impregnado de racismo estrutural. A própria inclusão de pessoas pretas em espaços de poder e de representação na nossa sociedade é uma conquista relativamente recente e que, ainda, sofre golpes constantes como a gente pôde presenciar nos últimos anos. O que eu quero dizer com tudo isso, no fim das contas, é que não existem meios, sendo honesto, sendo justo, de eu me esquivar completamente de um apontamento para um racismo estrutural, porque dessa fonte, infelizmente, ainda hoje, todos nós bebemos. O que dá para fazer, e eu acho que é uma obrigação moral a gente fazer, é cultivar o interesse de estudar sobre o tema, para justamente evitar de incorrer nos mesmos erros, vez após outra. Acho que essa desculpa é que não dá para a gente manter.
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