O Brasil perdeu um dos seus maiores ídolos no dia 1º de maio de 1994. A morte de Ayrton Senna chocou todo o país e, ainda mais, seus amigos e familiares. Um deles foi Galvão Bueno. Nesta quarta-feira (8), o narrador recordou os bastidores desse triste marco do esporte nacional e de sua carreira, revelando uma promessa que fez à mãe do piloto, Neide Senna.
Após a batida no Grande Prêmio de San Marino, Galvão, o ex-piloto Gerhard Berger, e o empresário Antônio Carlos de Almeida Braga visitaram o hospital, quando foram informados da morte encefálica de Senna. “O doutor Sid Watkins nos chamou o Berger, o Braga, eu, nós fomos para uma sala […], e nos disse: ‘Vocês são as pessoas mais chegadas a ele e eu queria dizer o seguinte, não há o que fazer. O coração bate, mas ele está morto. Uma morte cerebral. Mas, se isso serve de algum consolo pra vocês, eu posso garantir a vocês que ele não está sofrendo, não está sentindo nada. Ele já se foi'”, contou Bueno no podcast “Podfalar, Galvão”.
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Pouco depois, Galvão falou com a mãe de Senna, e se desdobrou para cumprir o desejo dela de que o corpo do piloto não voltasse ao Brasil num bagageiro do avião. “Dona Neide tinha me dito: ‘Eu não quero que meu filho volte como uma bagagem’. E eu prometi a ela que isso não iria acontecer. Nós saímos de Bologna para Paris em um avião da Força Aérea italiana, e o comandante disse: ‘Nossos heróis de guerra voltam assim’. Então, não tinha como entrar ali. Mas eu menti pra ela, eu disse que em momento algum ele veio como bagagem”, mencionou.
No entanto, Galvão moveu todos os seus esforços para realizar a promessa na viagem da França ao Brasil. Ele chegou a conversar com a direção da extinta companhia aérea Varig e com o Consulado do Brasil na França. “Eu e Reginaldo Leme pedimos ajuda para o cônsul brasileiro na França. Podia? Não podia? Mas como? Como?”, recordou. Até que o jornalista teve a ideia de que o caixão de Senna viesse ao Brasil na primeira classe da aeronave.
O locutor esportivo sugeriu pedir que algumas pessoas da primeira classe abrissem mão de seus assentos para que isso fosse possível. “Eu dei uma sugestão, eu falei: alguns de nós têm passagens na primeira classe. Então, faz assim, pega as pessoas que estariam nas poltronas e coloca [o caixão] na primeira classe. Tira as poltronas do centro… E aí foi colocado o caixão e o corpo dele”, detalhou.
De acordo com o jornalista, durante o voo, passageiros chegavam a rastejar por baixo das cortinas para conseguir dar um último adeus e fazer orações por Senna. “Eu vi pessoas se arrastando no avião, passando por baixo das cortinas. Elas só queriam rezar [pelo atleta]. Colocava a mão no caixão e rezava”, disse ele.
Então, a chegada ao Brasil foi marcada por uma cena que Galvão jamais esqueceu. “Quando nós chegamos ao aeroporto de Guarulhos, vieram os caças da Força Aérea brasileira escoltando. E, quando nós descemos, uma coisa jamais vista: o carro do Corpo de Bombeiros e o povo nas ruas. Era uma emoção e uma comoção. O Brasil inteiro ali”, relembrou o narrador.
Ouça o relato na íntegra abaixo: