Nesta terça-feira (18), Maira Pinheiro, advogada da mulher que denunciou Felipe Prior por estupro, revelou uma série de ameaças que tem recebido dos fãs do ex-BBB. De acordo com a profissional, ao longo dos três anos e meio de processo, sua caixa de entrada nas redes, foi abarrotada por mensagens de ódio e xingamentos. Ao g1, Pinheiro também apontou que os advogados que cuidaram do caso não passaram pela mesma retaliação.
“Os fãs dele são muito virulentos. Minhas redes sociais chegavam a ter mais de 100 mensagens, todas de ataque, de ódio, me xingando com palavras machistas, me atacando no exercício da profissão. A minha imagem foi muito explorada. Mas isso faz parte do jogo, né? A gente não tem medo de fanático“, explicou a advogada.
“Vagabunda, vadia. Esse tipo de palavra. Porque é isso que nós mulheres somos quando desagradamos o patriarcado. E como a gente estava indo para cima de um criminoso em série, que tem um padrão de predação de mulheres, a gente desagrada o patriarcado. Mas não é algo que nos intimide“, garantiu. “Você merece o pior tipo de morte, sua vagabunda desgraçada“, diz uma das mensagens.
A reportagem também transcreveu o trecho de uma ligação que aconteceu na madrugada de julho de 2021. O homem não identificado ligou mais de vinte vezes para a advogada de um número anônimo. Ela decidiu atender porque não aguentava mais as chamadas. “Eu quero conversar com você, Maira“, começou. “Você é parente dele (Felipe Prior)? Quem é você?“, questionou a profissional. “Eu sou uma pessoa muito informada, eu sei onde a Themis (nome fictício da vítima) mora, onde todas as outras meninas moram“, respondeu o homem.
“Você é da polícia? Alguém te passou?“, insistiu Maira. “Eu tenho as minhas fontes. Investigando, normalmente…“, disse ele. “Você sabe que está praticando o crime de coação no curso do processo?“, pontuou a advogada. “Você tá perdendo tempo, eu tenho muitas fontes. […] Você que sabe…“, rebateu o autor da ligação.
Pinheiro pontuou que os colegas homens que atuaram no caso não receberam o mesmo tratamento que ela. “Para as mulheres, ser atacada e ameaçada no exercício da profissão é mais comum do que para os homens“, comentou a profissional, que trabalha no caso junto a Juliana Valente. Além do processo em que Felipe foi condenado, elas trabalham em outros três casos de estupro em que o arquiteto é investigado, ocorridos entre 2015 e 2018. Em um desses processos, Prior é réu.
Juliana espera que ele seja condenado em todos os casos. “Acreditamos que ele pegue uma pena maior nesses outros casos. Se for na pena mínima, no mínimo, 24 anos de prisão, o que a gente tem plena convicção que vai acontecer. Essas vítimas, depois de tanto sofrimento, vão conseguir o mínimo da Justiça, porque essa dor nunca vai ser reparada”, disse.
A representante da vítima revelou que as quatro mulheres que denunciaram o arquiteto por estupro receberam pseudônimo de divindades femininas na intenção de preservar suas identidades. Themis, Freya, Ísis e Diana foram as escolhas. “Foi uma escolha deliberada para celebrar a coragem e a força das mulheres que decidiram enfrentar esse agressor. Nenhuma delas queria ter a imagem atrelada ao pior momento de sua vida. Escolhemos pseudônimos que honrassem a luta delas“, explicou.
A jovem que denunciou Prior também foi atacada nas redes sociais logo após fazer a denúncia em 2020. “Muitas mensagens de ódio, perseguições, pessoas ameaçando não só a mim, mas as outras meninas também, falando que a gente estava atrás de fama. Eu estou em anonimato porque eu não quero ser marcada por essa história“, declarou ela. “Foi muito doloroso ver as pessoas comentando sobre o processo e tudo o que aconteceu de uma forma muito agressiva. Em cima de nós. Ser desconsiderada dessa forma e sem ao menos saber a minha história e considerar a nossa dor. Foi muito doloroso”, lamentou.
Prior compartilhou uma nota nas redes sociais após a notícia da condenação de seis anos, em regime semiaberto, se tornar pública. Através da sua equipe jurídica, ele se disse inocente e avisou que vai recorrer da decisão, dada em primeira instância. “Fico triste por essas pessoas, de não conseguirem enxergar a verdade. Sabe… Tantas mulheres falando o que aconteceu, tantas evidências, a nossa questão social, cultural, tudo o que vem acontecendo. Isso ultrapassa o meu processo. Será que a gente não chegou ao momento da nossa história de rever a situação de como a mulher é culpabilizada, responsabilizada, apenas por ser mulher?“, questionou a moça.
Vítima falou pela primeira vez em entrevista ao Fantástico
Para o “Fantástico” deste domingo (16), a jovem contou sobre a noite em que pegou carona com Felipe Prior e mais uma amiga após a saída de um evento universitário em São Paulo. O ataque teria acontecido depois que Prior deixou a amiga em casa. Ela contou que foi jogada por ele no banco traseiro do veículo e teve a roupa arrancada à força.
“À medida que as coisas iam acontecendo, ele se tornava cada vez mais agressivo comigo. Eu falei: ‘Felipe, eu não quero’. Eu comecei a tentar resistir fisicamente e ele começou a puxar meu cabelo. Começava a me segurar pelos braços, me segurar pela cintura. Começou a forçar a penetração. Quantas vezes eu preciso falar ‘não’ pra pessoa entender que está me machucando? E ele é muito mais forte que eu, então não tinha como sair dessa situação. Foi bem doloroso. Eu gritei. Começou a sair muito sangue“, relatou.
De acordo com a vítima, Felipe só parou quando viu o carro ensanguentado. “Senti uma dor que eu nunca senti antes. Foi o susto que ele teve que levar para parar. Porque fez uma poça de sangue no carro dele, nele”, revelou. No relato, ela ainda mencionou que Prior ofereceu para levá-la em um hospital. “Eu falei que não, que eu só queria ir para minha casa”. Já em sua residência, a menina tentou estancar o sangue sozinha, mas sem sucesso. Foi então que a mãe decidiu procurar um médico. “Fiquei no chuveiro tentando estancar o sangue sozinha, mas minha pressão já estava muito baixa. Fui acordar minha mãe e pedi para ela me ajudar”, disse.
A jovem contou que no dia seguinte, Felipe mandou mensagem perguntando como ela estava se sentindo. “Falei que eu estava machucada, que tinha feito uma ferida e pedi para ele não contar para ninguém. Eu estava com medo dele falar para as outras pessoas e eu ficar marcada por essa situação. Eu não queria que as pessoas me vissem, me enxergassem e pensassem nisso“, explicou.
Segundo a moça, ela decidiu expor o caso para ajudar outras mulheres que já sofreram abuso e não tiveram coragem de denunciar. Em 2017, com o início do movimento “Me Too”, que incentiva as vítimas a denunciarem os agressores, ela percebeu que não estava sozinha. “Foi quando caiu a ficha que não era minha culpa e ele tinha me estuprado“, comentou.
Assista ao relato:
https://twitter.com/mbrenno_/status/1680764521806274561?s=46&t=vcjMTOPnLD9gTfQlD1E4Nw
Existem mais três denúncias de estupro contra Felipe Prior e em uma delas ele já é réu. Os outros dois casos seguem sendo investigados. Caso Felipe seja condenado, pode pegar 24 anos de prisão. Logo após a notícia de que foi condenado se tornar pública na última segunda-feira (10), Felipe se pronunciou através dos seus advogados. “Através do presente comunicado, com pesar, mas profundo respeito, a defesa de Felipe Antoniazzi Prior recebeu informações pelos meios de comunicação da sentença de procedência da ação penal. A qual, inclusive, sequer foi publicada e se encontra em segredo de Justiça”, começou a nota.
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“A sentença será objeto de Apelação, face a irresignação de Felipe Antoniazzi Prior e de sua defesa, que nele acredita integralmente, depositando-se crédito irrestrito em sua inocência e de que, em sede recursal, lograr-se-á sua reforma, em prestígio à Justiça, reconhecendo-se sua legítima e verdadeira inocência, que restou patentemente demonstrada durante a instrução processual”, declarou a defesa.
“Reafirmando-se a plena inocência de Felipe Antoniazzi Prior, repisa-se ser esse seu status cívico e processual, à luz da presunção de inocência, impondo-se a ele, como aos demais cidadãos em um Estado Democrático de Direito, como o pátrio, respeito, em primazia ao inciso LVII, do artigo 5º, da Constituição Federal brasileira que preconiza que ‘ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatório’, para que não se incorra em injustiças, como muitas já assistidas, infelizmente, em nosso país”, encerrou.
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