Na última sexta-feira (4), o jornalista João Batista Jr, da revista Piauí, publicou uma extensa reportagem reunindo detalhes sobre as denúncias de assédio feitas contra Marcius Melhem, em dezembro de 2019. A matéria apresentou relatos chocantes do caso, principalmente sobre a postura do ex-diretor com a atriz Dani Calabresa. No sábado (5), o ator concedeu uma entrevista a Maurício Stycer e Dolores Orosco, do UOL, em que negou veemente qualquer acusação de violência sexual.
Ainda na conversa, Marcius colocou em xeque a veracidade das histórias relatadas pela Piauí e disse que processará Mayra Cotta – defesa de Calabresa e outras cinco mulheres que denunciaram o humorista. Ao jornalista Roberto Cabrini, do programa “Domingo Espetacular”, da Record TV, a profissional reagiu à declaração.
“Eu acho lamentável que uma advogada, representando vítimas de assédio sexual, seja também colocada na posição de vítima, diante de uma ameaça desse tipo. Acho perigoso que a função de advogada esteja sendo ameaçada desse jeito”, afirmou ela, em entrevista exibida ontem (6).
Em mensagem enviada a Cabrini, Melhem pontuou os motivos de mover um processo contra Cotta: “Em respeito a você e a seus telespectadores, preciso esclarecer que mais uma vez a advogada Mayra Cotta vai à imprensa ao invés de ir à Justiça para buscar a reparação às mulheres que ela representa. Venho a público reafirmar que são acusações mentirosas. Nunca tranquei ninguém, nunca chantageei ninguém, nunca forcei ninguém a nada. Por essa razão, estou processando a advogada Mayra Cotta”.
Mayra disse ficar chateada, mas não surpresa com as negações de Marcius. “Eu recebo isso de uma maneira triste, mas não surpresa. Acho que é a tática mais antiga entre os assediadores, de tentar desacreditar, reduzir, diminuir a dor das vítimas”, argumentou.
Em sua conversa com o UOL, o ex-diretor também confirmou que está interpelando para que Dani Calabresa confirme ou desminta o que foi publicado pela Piauí. “Isso também é esperado. É lamentável que ele tente reduzir a violência do que aconteceu com ela. Existe a palavra das vítimas, existe uma investigação interna e existem testemunhas”, garantiu ela.
Em seu Twitter, a profissional também comentou o episódio: “Uma nova tática entra para o manual dos homens acusados de assédio sexual: intimidar por meio de processo, a advogada das vítimas. Um spoiler do fim desse roteiro mal escrito: não irá funcionar”.
Uma nova tática entra para o manual dos homens acusados de assédio sexual: intimidar por meio de processo a advogada das vítimas. Um spoiler do fim desse roteiro mal escrito: não irá funcionar.
— Mayra Cotta (@mayracotta) December 7, 2020
De acordo com a Piauí, as experiências de assédio cometidas por Melhem foram antecedidas e sucedidas por armadilhas profissionais. “Escutei longamente as vítimas e seus relatos, e o que eu posso dizer é que Marcius Melhem foi um chefe que instrumentalizou a sua posição hierárquica para coagir suas funcionárias, que tomou, sim, atitudes de coação pra prejudicar a carreira delas, pra se vingar quando era rejeitado e usar sua posição hierárquica pra assediá-las sexualmente. Ele chegou a ser violento em alguns episódios”, afirmou Mayra à CNN.
Calabresa foi a primeira mulher a denunciar formalmente os episódios de assédio à TV Globo. Ainda em agosto, a emissora emitiu um comunicado informando que o fim da “parceria de 17 anos de sucessos” com Melhem foi de “comum acordo”. “Desde sexta-feira, Dani tem sido inundada por mensagens de amor, apoio, afeto… isso é muito importante e acolhe não só a Dani, como as outras vítimas de Marcius Melhem. O objetivo final é que todas possam trabalhar sem serem assediadas nem sexual nem moralmente”, encerrou a advogada.
Por meio da assessoria dos seus advogados, Marcius Melhem emitiu uma nota ao hugogloss.com a respeito do posicionamento de Mayra Cotta: “É difícil acreditar que uma advogada considere absurdo um cidadão recorrer à Justiça ao ser caluniado. Lamentável é ela usar a imprensa, e não a Justiça, para me acusar de crimes sem apresentar uma prova ou uma vítima sequer. Tenho o direito de me defender das mentiras que ela espalha ao meu respeito”.
Entenda o caso
Em dezembro de 2019, denúncias de assédio feitas por funcionárias da Rede Globo contra Marcius Melhem vieram à tona e deixaram o público chocado. Em agosto deste ano, após uma longa investigação do caso, o humorista foi desligado da emissora, após 14 anos de casa. Até então, nenhum detalhe sobre os relatos das vítimas ou sobre o processo iniciado pelo canal, havia sido divulgado.
Em uma extensa reportagem da revista Piauí, que veio à tona na última sexta (4), o jornalista João Batista Jr. traz relatos reveladores de algumas das testemunhas de Dani Calabresa. Por anos, a atriz teria sido vítima de assédio sexual por parte de Melhem. Segundo a publicação, o primeiro deles aconteceu ainda em novembro 2017, durante uma festa de celebração ao 100º episódio do “Zorra”, após a reformulação do humorístico.
Durante o evento, Melhem teria tentando beijar a atriz a força, assim como também teria exibido suas partes íntimas para a colega. Esse, entretanto, foi apenas o primeiro dos episódios de assédio praticados, apontados na publicação. Leia os relatos na íntegra, clicando aqui.