Atriz de “Buffy: A Caça-Vampiros” acusa criador da série, Joss Whedon, de comportamento abusivo nos bastidores; Sarah Michelle Gellar também se pronuncia

Abriu o coração! Nesta quarta-feira (10), a atriz Charisma Carpenter, conhecida no Brasil pelo seu trabalho nas séries “Buffy: A Caça-Vampiros” e “Angel”, denunciou o criador dos dois programas, Joss Whedon. Segundo a artista, o produtor tinha um comportamento completamente abusivo com ela, o que deixou marcas emocionais até hoje. A protagonista de “Buffy”, Sarah Michelle Gellar, divulgou um comunicado apoiando não apenas Charisma, mas qualquer outra vítima dos maus tratos do diretor.

Em seu Twitter pessoal, Charisma compartilhou um longo texto, explicando que guardou esses traumas por mais de 20 anos, mas que era hora de finalmente trazer as histórias à tona. De acordo com a atriz, o comportamento agressivo e abusivo de Joss aconteceu tanto nos sets de “Buffy” quanto de “Angel”. “Embora ele achasse sua conduta inadequada divertida, só serviu para intensificar minha ansiedade de desempenho, enfraquecer-me e afastar-me de meus colegas. Os incidentes perturbadores desencadearam uma condição física crônica da qual ainda sofro. É com o coração batendo pesadamente que digo que enfrentei isoladamente e, às vezes, destrutivamente [essas situações]”, começou.

A artista lembrou que meses atrás ficou “arrasada” quando o ator Ray Fisher, intérprete do super-herói Ciborgue, denunciou publicamente o comportamento de Joss nos bastidores de “A Liga da Justiça”, em 2017. Charisma viu nas descrições os mesmos pesadelos que enfrentou. “Ele criou ambientes de trabalho hostis e tóxicos desde o início de sua carreira. Eu sei porque experimentei em primeira mão. Repetidamente. Como suas contínuas ameaças passivo-agressivas de me despedir, o que destrói a autoestima de um jovem ator. E insensivelmente me chamando de ‘gorda’ para os colegas quando eu estava grávida de quatro meses”, recordou.

https://twitter.com/AllCharisma/status/1359537752853807105?s=20

Quando as agressões de Whedon não eram verbais, aconteciam como “joguinhos” psicológicos.“Ele era mau e mordaz, desprezava os outros abertamente e muitas vezes tinha seus favoritos, colocando as pessoas umas contra as outras para competir e disputar sua atenção e aprovação”, exemplificou. Por vezes, o produtor interferiu em questões extremamente pessoais da vida de Charisma. “Ele me chamou para uma reunião para me interrogar e repreender a respeito de uma tatuagem do rosário que fiz para me ajudar a sentir-me mais ligada espiritualmente em um clima de trabalho cada vez mais volátil”, citou a atriz.

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A gravidez de Charisma Carpenter foi um dos momentos mais tensos da sua relação com Joss Whedon. O produtor chegou a perguntar se a atriz não iria abortar, zombou das suas crenças religiosas, a acusou de querer “sabotar” o programa, e por fim a demitiu assim que ela deu à luz. “Naquela época, eu me sentia impotente e sozinha. Engoli os maus-tratos e continuei. Afinal, eu tinha um bebê a caminho e era a principal provedora de minha família em crescimento. Infelizmente, tudo isso estava acontecendo durante um dos momentos mais maravilhosos da nova maternidade. Toda aquela promessa e alegria foram sugadas. E Joss era o vampiro”, ironizou a atriz.

Mesmo com todo o sofrimento, a artista explicou que se submeteu aos maus-tratos e ainda buscou por validação de Joss. Felizmente, hoje ela compreendeu que estava presa na mentalidade criada por ele após tantos abusos psicológicos. “Depois de anos de terapia e uma chamada de atenção do movimento ‘Time’s Up’, é que entendi as complexidades desse pensamento desmoralizado. É impossível compreender a psique sem suportar o abuso. Nossa sociedade e indústria difamam as vítimas e glorificam os abusadores por suas realizações. A responsabilidade recai sobre o abusado com a expectativa de aceitar e se adaptar para ser empregável”, desabafou.

Charisma Carpenter fez parte de “Buffy” e “Angel”. Foto: reprodução

Com o corajoso relato, Charisma torce para que sirva como incentivo a outras vítimas, além de apoiar Ray Fisher, reforçando que todas as coisas ditas por ele eram verdade. “Essas memórias e muito mais pesaram em minha alma como tijolos por quase metade da minha vida. Eu gostaria de ter dito algo mais cedo. Eu gostaria de ter a compostura e a coragem todos aqueles anos atrás”, lamentou. “É bastante evidente que Joss persistiu em suas ações prejudiciais, continuando a criar destroços em seu rastro. Minha esperança agora, ao finalmente apresentar essas experiências, é criar espaço para a cura de outras pessoas que eu sei que experimentaram semelhante abuso de poder serializado”, completou.

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Carpenter está tão decidida em fazer com que Joss Whedon seja responsabilizado pelos abusos, que ela participou das investigações organizadas pela Warner Media a respeito das acusações feitas por Ray Fisher no ano passado. “Acredito que Ray é uma pessoa íntegra e que está dizendo a verdade. Sua demissão como Ciborgue em ‘The Flash’ foi a gota d’água para mim. Embora não esteja chocada, estou profundamente magoada com isso. Preocupa-me e entristece-me que em 2021 os profissionais AINDA tenham de escolher entre denúncias no local de trabalho e segurança no emprego”, criticou.

Não é de hoje que Joss Whedon tem sido alvo de acusações sobre seu comportamento abusivo. Foto: Getty

“Levei muito tempo para reunir coragem para fazer essa declaração publicamente. A gravidade disso não passou despercebida. Como uma mãe solteira cujo sustento da família depende do meu ofício, estou com medo. Apesar do possível impacto sobre o meu futuro, não posso mais ficar calada. Isso está atrasado e é necessário. Está na hora”, encerrou Charisma Carpenter.

Sarah Michelle Gellar e Michelle Trachtenberg se manifestam

Embora não tenha citado Charisma ou Ray Fisher, Sarah Michelle Gellar, protagonista de “Buffy: A Caça-Vampiros”, postou um pequeno comunicado em seu Instagram sobre Joss Whedon, prestando apoio às vítimas. “Embora eu tenha orgulho de ter meu nome associado à Buffy Summers, não quero ser para sempre associada ao nome Joss Whedon. Estou mais focada em criar minha família e sobreviver a uma pandemia atualmente, então não farei mais nenhuma declaração neste momento. Mas estou com todos os sobreviventes de abuso e tenho orgulho deles por falarem”, incentivou.

Sarah Michelle Gellar parabenizou vítimas pela coragem de denunciar Joss Whedon. Foto: Reprodução/Instagram

Outra atriz do elenco de “Buffy” a se manifestar foi Michelle Trachtenberg, que interpretou Dawn Summers, irmã da protagonista. No Instagram, ela repostou o recado de Sarah, e ainda adicionou: “Obrigada, Sarah, por dizer isso. Eu sou corajosa o suficiente agora como uma mulher de 35 anos… para repostar isso. Porque. Isso. Precisa. Ser de conhecimento público. Como uma adolescente. Com o comportamento não apropriado dele… Muito. Não. Apropriado”. Quando Michelle começou a gravar a série, ela tinha 15 anos.

(Foto: Reprodução/Instagram)

Leia o desabafo de Charisma Carpenter na íntegra

“Por quase duas décadas, segurei minha língua e até dei desculpas para certos eventos que me traumatizam até hoje. Joss Whedon abusou de seu poder em várias ocasiões enquanto trabalhava nos sets de ‘Buffy the Vampire Slayer’ e ‘Angel’. Embora ele achasse sua conduta inadequada divertida, só serviu para intensificar minha ansiedade de desempenho, enfraquecer-me e afastar-me de meus colegas. Os incidentes perturbadores desencadearam uma condição física crônica da qual ainda sofro. É com o coração batendo pesadamente que digo que enfrentei isoladamente e, às vezes, destrutivamente.

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No verão passado, quando Ray Fisher acusou publicamente Joss de comportamento abusivo e antiprofissional em relação ao elenco e à equipe durante as refilmagens na ‘Liga da Justiça’ em 2017, fiquei arrasada. Joss tem uma história de ser casualmente cruel. Ele criou ambientes de trabalho hostis e tóxicos desde o início de sua carreira. Eu sei porque experimentei em primeira mão. Repetidamente.

Como suas contínuas ameaças passivo-agressivas de me despedir, o que destrói a autoestima de um jovem ator. E insensivelmente me chamando de “gorda” para os colegas quando eu estava grávida de quatro meses, pesando 57 kg. Ele era mau e mordaz, desprezava os outros abertamente e muitas vezes tinha seus favoritos, colocando as pessoas umas contra as outras para competir e disputar sua atenção e aprovação.

Ele me chamou para uma reunião para me interrogar e repreender a respeito de uma tatuagem do rosário que fiz para me ajudar a sentir-me mais conectada espiritualmente em um clima de trabalho cada vez mais volátil que me afetou fisicamente.

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Joss recusou intencionalmente várias ligações de meus agentes, tornando impossível entrar em contato com ele para contar a notícia de que eu estava grávida. Finalmente, assim que Joss foi informado da situação, ele solicitou uma reunião comigo. Naquela reunião a portas fechadas, ele me perguntou se eu ‘iria manter’ [o bebê] e manipulou minha feminilidade e fé contra mim. Ele começou a atacar meu personagem, zombar de minhas crenças religiosas, acusar-me de sabotar o programa e, em seguida, demitir-me sem cerimônia na temporada seguinte, assim que dei à luz.

Aos seis meses de gravidez, pediram-me para me apresentar ao trabalho à 1h da manhã, depois que meu médico recomendou reduzir minhas horas de trabalho. Nossos dias longos e fisicamente exigentes e o estresse emocional de ter que defender minhas necessidades como uma mulher grávida que trabalhava, comecei a sentir contrações de Braxton Hicks. Ficou claro para mim que o telefonema da manhã foi uma retaliação.

Naquela época, eu me sentia impotente e sozinha. Com outra opção, engoli os maus-tratos e continuei. Afinal, eu tinha um bebê a caminho e era a principal provedora de minha família em crescimento. Infelizmente, tudo isso estava acontecendo durante um dos momentos mais maravilhosos da nova maternidade. Toda aquela promessa e alegria foram sugadas. E Joss era o vampiro.

Apesar do assédio, uma parte de mim ainda buscava sua validação. Eu dei desculpas por seu comportamento e reprimi minha própria dor. Eu até declarei publicamente em convenções que voltaria a trabalhar com ele. Só recentemente, depois de anos de terapia e uma chamada de atenção do movimento Time’s Up, é que entendi as complexidades desse pensamento desmoralizado. É impossível compreender a psique sem suportar o abuso. Nossa sociedade e indústria difamam as vítimas e glorificam os abusadores por suas realizações. A responsabilidade recai sobre o abusado com a expectativa de aceitar e se adaptar para ser empregável. Nenhuma responsabilidade sobre o transgressor que navega ileso. Impenitente. Implacável.

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Essas memórias e muito mais pesaram em minha alma como tijolos por quase metade da minha vida. Eu gostaria de ter dito algo mais cedo. Eu gostaria de ter a compostura e a coragem todos aqueles anos atrás. Mas eu me mudei de vergonha e silêncio condicionado.

Com as lágrimas fluindo, sinto um enorme senso de responsabilidade para com Ray e os outros por permanecer calada sobre minha experiência com Joss e o sofrimento que ela me causou. É bastante evidente que Joss persistiu em suas ações prejudiciais, continuando a criar destroços em seu rastro. Minha esperança agora, ao finalmente apresentar essas experiências, é criar espaço para a cura de outras pessoas que eu sei que experimentaram semelhante abuso de poder serializado.

Recentemente, participei da investigação da Liga da Justiça da WarnerMedia porque acredito que Ray é uma pessoa íntegra que está dizendo a verdade. Sua demissão como Cyborg em The Flash foi a gota d’água para mim. Embora não esteja chocada, estou profundamente magoada com isso. Preocupa-me e entristece-me que em 2021 os profissionais AINDA tenham de escolher entre denúncias no local de trabalho e segurança no emprego.

Levei muito tempo para reunir coragem para fazer essa declaração publicamente. A gravidade disso não passou despercebida. Como uma mãe solteira cujo sustento da família depende do meu ofício, estou com medo. Apesar do meu medo do impacto [desse relato] sobre o meu futuro, não posso mais ficar calada. Isso demorou demais e é necessário. Está na hora”.