Edson Cardoso, mais conhecido como Jacaré, ex-dançarino do “É o Tchan”, participou de uma live no Instagram no último sábado (21), e abriu o coração sobre como eram os bastidores da época em que integrava o grupo de axé. Hoje morando no Canadá, o artista confessou que chorava no camarim porque, segundo ele, as emissoras de televisão davam destaque somente para Carla Perez, sendo que o grupo era composto por quatro pessoas negras.
Em entrevista ao dançarino Yves Lorrhan, do perfil “Men Do Not Dance”, Jacaré revelou que essa situação causava uma frustração grande, não só nele, mas nos outros integrantes também. “Dentro da TV, todo mundo ia só em cima da Carla Perez. Quando a gente assistia [às gravações], não aparecia a gente, pois queriam mostrar só a Carla”, disse.
Ele reforçou, porém, que isso não era culpa da colega. “É culpa do sistema, da sociedade, que quer mostrar sempre a mulher. Eram quatro negros, eu, Beto [Jamaica], Compadre Washington e Débora [Brasil]. Chamavam sempre a loura, não a Débora. A gente ficava muito triste. Todo o grupo ficava muito triste, não só eu. A gente batalha tanto, ensaia, cria, e os caras fazem isso, jogam só para uma pessoa. Teve programas que não queria fazer. Chegava no camarim e chorava muito”, relembrou.
“Eu só queria dançar, só queria que as pessoas vissem a dança. Eu não quero que as pessoas olhem pro meu órgão genital, pra minha bunda, pra minha barriga, eu quero que vejam o movimento do corpo inteiro. A coreografia que eu passei horas tentando criar, contando. É muito difícil você criar, contar, parar, pensar… Por mais que seja simples, mas era um desafio sempre. E a gente tinha que fazer uma coreografia que todo mundo repetisse“, desabafou o coreógrafo.
Jacaré ainda revelou que ficava triste ao ser rotulado como homossexual, apenas pelo fato de dançar. “Quando fiquei famoso, teve muito o fato de acharem que era gay por estar rebolando. Fere pelo fato de as pessoas acharem que só o homem gay pode rebolar e remexer”, disse. O artista foi dançarino do “É o Tchan” durante 12 anos. Em 2016, ele, a esposa Gabriela Mesquita e os dois filhos do casal se mudaram para o Canadá.
Aposentado da vida artística, Jacaré trabalha agora como garoto-propaganda de uma agência de imigração, onde ajuda brasileiros que sonham em morar no exterior. “Tivemos a oportunidade de vir para a Terra gelada. Sabíamos que lá íamos começar do zero, e estamos aqui, na luta. Não vivo mais essa vida artística, não danço mais, não atuo mais. A vida aqui em Toronto é um desafio. A língua, por exemplo. O inglês é uma barra pra mim“, contou. Assista à entrevista na íntegra: