Na última semana, o ator Javier Bardem viu seu nome pipocar na mídia internacional. Isso porque, em entrevista recente ao The Guardian para promover o longa “Being the Ricardos”, ele reafirmou seu apoio ao diretor Woody Allen, mesmo com as acusações de abuso sexual que acompanham o profissional desde a década de 90.
Javier trabalhou com Allen no filme “Vicky Cristina Barcelona”, em 2008, e já havia deixado claro que não se arrepende disso. O diretor foi acusado por sua filha adotiva com Mia Farrow, Dylan, que alega ter sido molestada pelo cineasta quando tinha apenas 7 anos. Ele, no entanto, sempre negou a história, e foi considerado inocente em duas investigações diferentes.
Para Javier Bardem, “apontar dedos” não é certo, até que se prove a culpa. “Apontar o dedo a alguém é muito perigoso, se ainda não foi provado legalmente. Se isso não acontecer, são apenas fofocas”, afirmou. “Tento seguir a lógica, que é: vamos seguir as regras que existem para determinar se alguém é culpado ou inocente. Se o caso for reaberto e for provado que ele é culpado, serei o primeiro a dizer: ‘Que coisa horrível’. Mas até agora, não vi isso acontecer”, acrescentou.
De acordo com o Daily Mail, o ator já havia manifestado sua opinião sobre os rumores que cercam a vida de Woody Allen e dito que não concordava com o “tratamento” que o cineasta vinha recebendo em Hollywood: “Se houvesse provas de que Woody Allen era culpado, então sim, eu teria parado de trabalhar com ele, mas tenho dúvidas. Estou muito chocado com este tratamento repentino. Julgamentos nos estados de Nova York e Connecticut o consideraram inocente. A situação legal de hoje é a mesma de 2007”.
Na entrevista, o ator espanhol revelou ainda que dá “créditos” a Allen por lhe ter dado a oportunidade de conhecer Penélope Cruz, com quem ele se casou em 2010 e tem dois filhos, Leonardo, de 10 anos, e Luna, de 8. O casal se aproximou nos bastidores de “Vicky Cristina Barcelona” e engatou um romance pouco depois. No entanto, eles já haviam trabalhado juntos antes, em 1992, no filme “Jamón, Jamón”.
“Claro que tínhamos sentimentos um pelo outro, mas tínhamos sentimentos por tudo o que se movia na época! Ela tinha 16 anos, eu tinha 21, tipo, sacos de hormônios! Era a primeira vez que íamos fazer um filme, era o primeiro filme dela. A própria vida estava se abrindo diante de nós. Depois seguimos caminhos diferentes e ela fez coisas incríveis. Então acho que esses sentimentos foram guardados em uma caixa até serem abertos”, explicou.
“É claro que nós o [Woody] creditamos. Ele nos uniu — muito crédito!”, garantiu. No entanto, o diretor não foi convidado para o casório… “Não, não! Mas eu não acho que ele teria vindo. Não sei quão sociável ele é”, disse.
Relembre o caso
Em fevereiro deste ano, Woody Allen foi o convidado do programa global “Conversa com Bial”. Na ocasião, antes do início da entrevista, o apresentador Pedro Bial fez um resumo das denúncias contra o cineasta. Segundo a reportagem, o caso de violência sexual surgiu na mídia em 1992, durante o processo de separação entre Allen e a atriz Mia Farrow, com quem o cineasta compartilhou a adoção de Dylan e Moses, além do filho biológico do casal, Ronan. Na época, Dylan acusou o pai de tê-la violado.
A investigação teve início em 1992, mas foi considerada “sem indício de suspeita”, já que a polícia afirmou que a denúncia havia sido motivada pelo envolvimento do cineasta com Soon-Yi, na época com 22 anos, filha adotiva de sua ex-mulher, Mia, com o compositor André Previn. O diretor é casado com Soon desde 1997.
Nos anos seguintes, Allen acusou Dylan de ter sido manipulada pela mãe, porém, o caso voltou à tona em 2014, quando, já adulta, a filha do cineasta escreveu uma carta aberta ao The New York Times, detalhando o episódio. Segundo o programa de Bial, ela também foi apoiada por Ronan, que não conversa com Allen até hoje. Moses, por outro lado, reforçou o argumento do diretor de que a mãe manipulava a irmã.
No mesmo ano, Woody foi inocentado, porém, as acusações ressurgiram durante o ápice do movimento feminista #MeToo, que tomou Hollywood em 2017, o que resultou na “expulsão” definitiva do diretor da lista dos queridinhos da indústria cinematográfica.
Woody fala sobre acusações
Sobre o caso, Allen revelou ao talk-show da TV Globo, que as acusações geraram grandes impactos em sua vida pessoal e profissional, principalmente no momento em que sua autobiografia “Apropos of Nothing” (em português, “A propósito de Nada”) seria publicada pela editora francesa Hachette.
Segundo ele, seu livro foi sabotado pela empresa. “Hachette deveria ter publicado o meu livro, mas pessoas na organização eram contra”, disse Allen. “Eu fui boicotado, mas eles estão cometendo um erro”, alfinetou o diretor. Após a polêmica e mesmo abandonada pela editora francesa, a obra literária chegou ao público em março de 2020, quando foi publicada pela Arcade Publishing.
À Pedro Bial, o cineasta explicou que o conteúdo do livro aborda, de maneira inusitada, sua versão dos fatos em relação às acusações de abuso sexual, já que a narrativa sobre o assunto foi construída por meio de depoimentos de outras pessoas envolvidas no processo.
“Estava escrevendo a história da minha vida, e quando chegou a esse ponto, escrevi conforme aconteceu. Quando era hora de estabelecer os fatos da narrativa, eu tentei usar as palavras de assistentes sociais, testemunhas, empregadas, pessoas que podiam falar e descrever a situação. E eu tentei não me meter nisso, a menos que fosse preciso”, disse ele.
“Tentei ser o mais fiel possível, e se alguma coisa podia ser vista como ambivalente, tentei usar a perspectiva de outra pessoa. Citava psiquiatras, juízes, investigadores, todos os envolvidos, para que não parecesse que era eu dizendo algo. Queria apenas contar uma história sem que as pessoas achassem que, por ser a minha versão, sou uma pessoa maravilhosa e tal”, pontuou Allen.