Pela primeira vez, Dani Calabresa veio a público falar sobre acusações de assédio que fez contra Marcius Melhem, ex-diretor da TV Globo. Nesta quarta-feira (3), a humorista participou do “Saia Justa”, do GNT, e abriu o coração sobre os momentos difíceis que enfrentou após os relatados abusos. A loira confessou que se virou ao trabalho e à família para conseguir se salvar.
“Eu acho que tive que colar os caquinhos nos dois momentos mais difíceis da minha vida: depois do divórcio e nesse episódio horrível de assédio. O que me ajudou a colar os pedaços foi o trabalho, o trabalho me salvou. Eu tenho por que acordar. Eu tenho por que tomar banho. Eu tenho que lembrar quem sou. Os amigos, família, terapia, também. Mas o trabalho foi o que mais salvou“, contou a humorista, que se prepara para a estreia de seu novo programa, “Dani-se”, às sextas-feiras no GNT.
Apesar de amar seu ofício, Calabresa atribuiu ao próprio trabalho um pouco da culpa de não ter denunciado Melhem mais cedo. “Hoje, analisando, por causa do trabalho eu não reagi antes. Tinha tanto medo de sofrer algum boicote, ser prejudicada, que não reagi antes. Assédio é tão assustador que a gente tenta negar para a gente mesma. Tenta fingir que aquilo que está acontecendo é normal“, pontuou.
“Você segue do jeito que consegue, fingindo normalidade, tentando ser legal, dizendo que tá tudo bem, que não está brava. Mas chega uma hora que isso começa a fazer tão mal que você tem que arrebentar a tampa desse caldeirão. A gente precisa se salvar“, afirmou.
Ela ainda rebateu, indiretamente, a defesa de Marcius, que usou mensagens e conversas amigáveis entre os dois para tentar invalidar a denúncia da atriz. “Nada autoriza assédio. Nenhuma brincadeira, nenhuma mensagem autoriza assédio. ‘Ah, mas naquele dia foi carinhosa, riu, bebeu’, não interessa. Ninguém tem o direito de forçar o contato físico com ninguém. É preciso permissão. É muito difícil lidar com tudo isso, organizar o pensamento. Estou com meus pedaços colados, estou leve. E na terapia“, desabafou.
A apresentadora Astrid Fontenelle elogiou a coragem da humorista. “Chore, mas chore de alegria e de orgulho da mulher que você reconstruiu“, destacou. A jornalista disse ainda que, graças a Dani, diversas mulheres que estavam assistindo ao programa tomariam coragem de “quebrar o vaso” e “se reconstruir“.
Entenda o caso
Em dezembro de 2019, denúncias de assédio feitas por funcionárias da Rede Globo contra Marcius Melhem vieram à tona pela primeira vez. Em agosto do ano passado, depois de uma longa investigação do caso, o humorista foi desligado da emissora, na qual trabalhava há 14 anos. Até então, nenhum detalhe sobre os relatos das vítimas ou sobre o processo iniciado pelo canal, havia sido divulgado.
Em uma extensa reportagem da revista Piauí, publicada no final de novembro (30), o jornalista João Batista Jr. trouxe depoimentos reveladores de algumas das testemunhas de Dani Calabresa. Por anos, a atriz teria sido vítima de assédio sexual por parte de Melhem. Segundo a publicação, o primeiro deles aconteceu ainda em novembro 2017, durante uma festa de celebração ao 100º episódio do “Zorra”, após a reformulação do humorístico.
Durante o evento, Melhem teria tentando beijar a atriz à força, assim como também teria exibido suas partes íntimas para a colega. Esse, entretanto, foi apenas o primeiro dos episódios de assédio praticados, apontados na matéria. Leia os relatos na íntegra, clicando aqui.
Processo contra Dani Calabresa
Em um novo capítulo do escândalo, o ator decidiu buscar reparação e agora move um processo de calúnia e difamação contra a atriz, protocolado no dia 14 de janeiro, na Vara Civil de São Paulo. A ação pede que a loira seja condenada ao pagamento de uma indenização de R$ 200 mil por danos morais, valor que seria doado para instituições, caso o ex-diretor ganhe o processo.
Além disso, a defesa do humorista exige que Dani faça uma retratação pública e arque com todas as cifras desembolsadas por Marcius com tratamentos psiquiátrico e psicoterápico, desde que ela o denunciou. Segundo o UOL, a quantia gasta somada chega aos R$ 46.400.
Ainda para embasar o pedido, Marcello de Camargo Teixeira Panella, advogado de Melhem, anexou áudios e prints de mensagens que ambos artistas trocaram entre 2017 e meados de 2019, buscando demonstrar que o tratamento de Calabresa seria “absolutamente incompatível com aquele esperado de uma sedizente vítima de assédio“.
Em uma das conversas, que aconteceu no dia 1º de junho de 2017, os dois falavam sobre uma foto íntima que a atriz teria mostrado ao autor do processo. “Te amo sem você me mandar um nude, olha que puro!”, comentou o carioca. “Ahaha mostrei sem você pedir”, respondeu a loira. “Mostrou e eu lembro de cada detalhe”, replicou Marcius.
No final do mesmo mês, o ator agradece pelas supostas fotos nuas que recebeu da colega: “Te amo, sou seu fã. Agradeço pela confiança, pelo carinho, pelo talento… e ok, pelos nudes que você me mostrou. Ou seja, talentosa e gostosa”. Dani apenas riu, usando emojis em seu texto.
Outras mensagens, enviadas após a fatídica festa de celebração do “Zorra”, também foram apresentadas. No dia 2 de dezembro de 2017, Calabresa teria enaltecido os dotes físicos do humorista. “Deus te deu vários dons”, escreveu, em tom de piada, se referindo ao pênis do ator, com um emoji de ‘beringela’.
“Era rotineira a troca de mensagens, tanto pessoais como profissionais entre ambos: Daniella enviava matérias que queria ver comentadas pelo Autor (Melhem), reclamava do conteúdo de outras produções, desabafava sobre insatisfações diversas – profissionais e pessoais. O tom jocoso e íntimo era constante no tratamento entre ambos. Entre Autor e Ré eram comuns as brincadeiras, inclusive de natureza sexual. Mas nada aí havia de constrangedor, abusivo ou imposto”, sustentou o advogado, no documento, que traz ainda uma série de outros registros.
“Tais manifestações, com efeito, se davam no âmbito da livre esfera de vontade de dois adultos, solteiros, maiores e capazes. Sob essa ótica nada há a ser recriminado ou censurado; frise-se, não sendo cabíveis quaisquer juízos de valor a respeito”, completou o profissional.
Melhem, por vezes, negou as acusações de assédio sexual e moral. “Ora, fosse verdade o veiculado na Piauí, não seguiria a ré requisitando conselhos pessoais e profissionais ao autor. Fosse verdade, não teria a ré encaminhado dezenas de áudios carinhosos ao autor, enaltecendo-o nos âmbitos pessoal e profissional. Fosse verdade, não teria enviado áudios e mensagens para comentar e divertir-se com situações inusitadas por ela vivenciadas”, encerrou Marcello de Camargo.
Confira mais algumas das supostas conversas entre os ex-colegas de trabalho:
Em 17 de dezembro, Mayra Cotta, advogada que representa Calabresa e outras funcionárias da Globo, entrou com pedido de investigação de Melhem no Ministério Público. A profissional prometeu processar criminalmente o ator – pelo fato de ele ter divulgado áudios de uma conversa com sua cliente – e anunciou que solicitaria indenização por danos morais à atriz.