Nos últimos episódios de “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez“, série documental da HBO Max, Gloria Perez se emocionou ao relembrar os atos de vandalismo no túmulo da filha. Segundo a autora, em certo momento ela pediu que o caixão fosse aberto, porque precisava comprovar que aquele era mesmo o corpo da jovem.
“Constantemente, desde que o fato aconteceu, praticamente toda semana a gente era chamado porque tinham tentado abrir o túmulo. Você não tem respiro, você não tem descanso nem no túmulo”, disse Gloria.
Quando a família resolveu mudar os restos mortais de lugar, por causa das tentativas frequentes de destruição, o túmulo foi aberto. No entanto, segundo a autora, o caixão estava com uma cor diferente do original. “Tinha uma cor diferente e eu comecei a cismar que não era o caixão dela, que tinham trocado. Eu dizia: ‘Não é! Abre! Eu quero ver se é ela’. Gritei tanto que eles abriram. Eu me joguei lá em cima do caixão, olhei e vi que era ela”, lembrou.
“Não vi nada. Só vi ela. E vi igualzinha como no dia que eu enterrei. Eu lembro de ter dito pra Sandra: ‘Ela tá igualzinha’. E a Sandra disse: ‘Não, não está’. Eu disse: ‘Está, eu vi!’. E eu nunca mais falei sobre isso e nem quero falar. Eu vi igualzinha. Eu peguei a sapatilha dela, mandei para uma escultora, e coloquei lá [no túmulo]“, continuou.
Sandra Regina, coreógrafa da novela “De Corpo e Alma”, estava com a autora e afirmou que aquele foi o momento mais sofrido que já presenciou: “Foi o momento que eu vi mais dor nela (Gloria). Ela se agarrou no caixão e deu um grito. Chorava e deu um grito muito forte”.
Apesar da mudança, os atos de vandalismo não pararam e, no fim de 1999, alguém deixou um bilhete avisando que tirariam o corpo da jovem a qualquer momento. No desespero, a autora decidiu mover os restos mortais da filha para um cofre na Santa Casa, antes de levá-lo para um outro local. O translado só podia ser concluído após a virada do ano.
“Então isso pra mim foi muito doído, porque era o réveillon do ano 2000. É o réveillon que a minha geração inteira sempre fantasiou, como estaríamos nos anos 2000 e a Dani também. E ela passou o ano 2000 no cofre da Santa Casa”, desabafou.
Gloria Perez também detalhou o dia em que foi buscar a urna com os restos de Daniella. “Era uma urna, uma caixinha. Eu fiquei sentada na cadeira com a urna, enquanto eles cuidavam dos papéis. E quando eu vi, eu estava embalando a urna, porque era ela, mesmo naquela forma, era ela”, disse a novelista, chorando, imitando os movimentos de quem segura um bebê.
Guilherme de Pádua na prisão
Daniella Perez foi morta com 18 perfurações no corpo, em 1992, quando saia de uma gravação da novela “De Corpo e Alma”, da Globo, da qual era protagonista. Guilherme de Pádua, autor do crime, interpretava Bira na mesma trama. Na época, ele alegou que matou a colega por “acreditar que seu papel estava sendo reduzido, enquanto a jovem ganhava destaque“.
Guilherme aguardou o julgamento na prisão, e foi condenado em 1997. Segundo depoimentos, no entanto, o ator acabou virando uma “celebridade”. “Todo mundo queria autógrafo, todo mundo vinha conversar com ele. Ele tinha visita de fãs, pastores, políticos querendo, de alguma forma, tirar vantagem dele. Elr falava: ‘Cara, eu recebo umas 50 cartas por dia, eu não consigo nem ler’. Pedido de casamento de mulher, de homem, porque ele era ‘Leopardo’, né?! A coisa que mais tinha era mulher querendo casar com ele, uma coisa surreal. Ele nunca falava da família, só dele”, contou Julio Barroso, produtor cultural.
A jornalista Gloria Maria também lembrou de quando entrevistou o ator na prisão: “Eu lembro que uma das coisas que eu perguntei era como estava sendo a permanência dele ali, porque aquela era considerada uma das piores cadeias do Brasil. Ele me respondeu com a maior tranquilidade do mundo: ‘Eu estou muito bem aqui. Acordo todos os dias e faço meu exercícios, estou sendo muito bem tratado. Pra falar a verdade, eu encontrei o meu ambiente'”.
Em 1999, Guilherme de Pádua recebeu a liberdade condicional e abandonou a carreira artística, levando uma vida longe dos holofotes. Hoje, atua como pastor em uma igreja evangélica, em Belo Horizonte.
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