Antes mesmo de assumir o trono de “Rainha dos Baixinhos”, Xuxa Meneghel já era alvo de uma série de críticas. Nesta sexta-feira (07), em sua coluna na revista “Vogue Brasil”, a apresentadora abriu o coração sobre o preconceito que sofreu ao longo da vida — como nas vezes em que afirmaram que ela era uma garota de programa, ou descreditaram seus relacionamentos amorosos.
O preconceito surgiu logo cedo em sua vida, quando deixou o Rio Grande do Sul e partiu para o Rio de Janeiro, onde zombavam de seu sotaque e de suas origens. “Achavam graça do jeito como eu falava, riam do lugar onde eu nasci, diziam que eu era caipira. Depois, aos 16 anos, quando comecei a trabalhar, me chamavam de suburbana”, disse Xuxa, recordando as críticas pelas horas que passava no transporte público.
O auge dos haters veio aos 17 anos, quando engatou em um namoro com Pelé, que vivia seu ápice no futebol. “Foi aí que eu conheci a maldade real das pessoas. Fui chamada de p*ta, interesseira que queria aparecer às custas de um rico famoso, garota de programa de luxo e muitos outros nomes”, recordou ela.
Sua ascensão na TV também veio acompanhada de preconceito e uma série de boatos. “Quando comecei a trabalhar para crianças, aos 20 anos, fui taxada de loira burra, despreparada. Disseram que eu tinha relações com as Paquitas, com minha diretora e que eu não poderia trabalhar com o público infantil”, continuou Xuxa. Quando veio o namoro com Ayrton Senna, não foi nada diferente: “Comecei outro relacionamento, com o segundo maior ídolo desse país, o que incomodou muita gente. Diziam que era um relacionamento de fachada”.
Maternidade também foi alvo de críticas
Até mesmo figuras públicas, como o político José Serra, teriam criticado Xuxa quando ela engravidou de Sasha sem se casar com Luciano Szafir, pai da sua filha. “Depois, resolvi ter minha filha aos 35 anos sem me casar e disseram que eu era mau exemplo para os públicos infantil e adolescente. O então ministro José Serra, na época, disse até que eu estava incentivando as jovens a seguir o meu exemplo”, pontuou Meneghel.
“Será que trabalhar muito, ter uma conta bancaria alta, ser uma mulher independente, resolver ter filho aos 35 anos, cuidar da saúde, não fumar, não beber, são maus exemplos?”, indignou-se Xuxa. A ocasião favoreceu novos e dolorosos ataques: “Não ter o pai da Sasha ao meu lado fortaleceu o que sempre falavam: que eu gostava de mulheres, não prestava, era uma prostituta de luxo, etc”.
Xuxa mencionou que até mesmo sua vida sexual tem incomodado o público. “Aos 50 resolvi ‘casar’ sem cartório ou festa e, novamente, não sou bom exemplo, já que digo que estou feliz e com cara de bem comida ao lado do homem que escolhi. Isso choca? Sim, choca, porque para muitos, eu não tenho direito de ter uma vida sexual depois dos 50”, continuou ela.
“Amor, Estranho Amor”
Em sua coluna, Xuxa ainda tocou num tópico que tem voltado à tona cada vez mais: sua participação no polêmico filme “Amor, Estranho Amor”, no qual interpreta uma menina traficada de 15 anos, que se envolve com um garoto de 12. “Eu fazia o papel de uma menina de 15 anos comprada no interior para ser dada a um político. Nada a ver com a minha biografia, mas amam dizer que sou eu, a ‘Xuxa dos Baixinhos’ e não a personagem, menina que foi vendida para um prostíbulo – que aliás é um tema tão atual”, avaliou ela.
Xuxa aproveitou para rebater as frequentes críticas quanto ao assunto, incentivando que as pessoas realmente promovam alguma mudança nesse sentido ao invés de apenas a atacarem. “Infelizmente, o tráfico de meninas e meninos para exploração sexual é enorme no nosso país. Eu proponho então que todos, ao falarem desse filme, coloquem nos comentários: ‘se vir algo parecido, denuncie ao Disque 100’, porque acredite, essa é uma realidade muito grande no Brasil. Veja bem, é a realidade de muitas meninas, não a minha”, escreveu.
Livro infantil
Prestes a lançar um livro infantil sobre uma criança que tem duas mães, Xuxa desabafou: “Agora, aos 57, quase 60 anos, com a bagagem que tenho — e que não é pouca — estou sendo criticada por escrever livros para crianças. Um em especial, que ainda nem saiu, inspirado na minha afilhada Maya, onde conto a história de uma menina que quer tanto ser amada, quer tanto alguém especial ao seu lado, que Deus lhe dá duas mães. Sim, o meu Deus não é preconceituoso, o meu Deus aceita todos como são”.
Xuxa ainda criticou os que pregam o preconceito, a LGBTfobia, o racismo, o machismo e as discriminações “em nome de Deus”. “Aliás, nós somos a semelhança Dele, então Deus é menino? É menina? É gordo? É magro? É preto? É branco? É surdo? É cego? O meu Deus é tudo isso, menos preconceituoso, homofóbico, racista, gordofóbico, machista”, defendeu ela.
“Deus é simplesmente amor. Onde houver amor, Ele estará: em cada sorriso da Maya, meu bebê arco-íris, que está representando tantos outros bebês que são discriminados por não se encaixarem no que resolvemos dizer que é ‘normal’ ou ‘certo'”, completou a apresentadora do “The Four Brasil”. “Eu quero muito que vocês conheçam a história desse anjo”, acrescentou Xu, sobre o livro inspirado na bebê Maya.
Renda de livros infantis será doada
Com a arrecadação obtida em seus livros — tanto o da bebê arco-íris, quanto dos próximos —, Xuxa fará doações a uma aldeia evangélica na Angola, e também a uma instituição voltada aos animais. “Não ganharei dinheiro algum com esses livros. Todos os meus royalties serão doados para santuários que resgatam animais vítimas de maus-tratos por todo Brasil, e ainda para a Aldeia Nissi, em Angola, que inclusive é evangélica. Sim, minha mãe também era”, declarou.
“Não posso admitir que algumas pessoas que se intitulam cristãs, evangélicas, venham falar em nomes de todas as pessoas que realmente têm Deus no coração. Aliás, conheço muitos pastores, bispos, padres, espíritas, budistas que amam Deus e entendem que só Ele pode melhorar o mundo, porque Ele é amor”, argumentou a Rainha dos Baixinhos.
Por fim, Xuxa dá de ombros para as críticas, e ora para livrar-se desse mal. “Sei que ainda serei muito criticada na vida, mas todas as noites eu peço a Deus para me mostrar o caminho onde eu possa ajudar alguém de alguma forma. Agora, eu peço aos intolerantes. Não querem ajudar? Não atrapalhem! O mundo não precisa da sua ignorância, do seu desamor. E eu? Vou continuar rezando meu pai nosso “afastai-me de todo mal, amém”, finalizou.
Leia a íntegra da coluna de Xuxa na “Vogue Brasil”, clicando aqui.