Hugo Gloss

Vaticano se posiciona sobre declaração de Papa Francisco a respeito da união homoafetiva: ‘Descontextualizada’

Foto: Getty

Após a repercussão causada pela declaração do Papa Francisco sobre união homoafetiva divulgada no mês passado, o Vaticano emitiu, nesta segunda-feira (3), uma nota dizendo que a fala teria sido manipulada e tirada de contexto, o que criou diversas interpretações e reações consideradas equivocadas.

As afirmações do pontífice de que “homossexuais têm o direito de estar em uma família” e de que “é preciso existir uma lei de união civil” fazem parte do documentário “Francesco”, que estreou nos cinemas italianos no dia 21 de outubro. Segundo a agência Reuters, logo na semana seguinte, a Secretaria do Estado do Vaticano redigiu uma nota, que circulou internamente pela Igreja Católica até ser divulgada nas redes sociais do biógrafo papal Austen Ivereigh.

Há mais de um ano, o Papa Francisco respondeu a duas perguntas distintas em momentos diferentes que, no documentário em questão, foram editadas e publicadas como uma só resposta sem a devida contextualização, o que gerou confusão“, pontuou.

De acordo com a nota, enquanto a primeira parte falava sobre a necessidade de que pessoas homossexuais não sejam discriminadas pela família, a segunda tratava de uma pergunta posterior sobre a oposição do papa na época em que se discutia leis de união civil na Argentina, há 10 anos. No entanto, o trecho da resposta em que o papa afirmava que “é uma incongruência falar de casamento homossexual” teria sido cortado.      

O Vaticano reforçou ainda que o posicionamento do Papa permanece alinhado ao da Igreja, conforme o próprio Francisco expôs em uma entrevista de 2014: “O casamento é entre um homem e uma mulher. Os Estados laicos querem justificar as uniões civis para regular diversas situações de convivência entre as pessoas. Trata-se de pactos de convivência de diferentes naturezas“.

É evidente que o Papa se refere a disposições estatais, certamente não à doutrina da Igreja, reafirmada diversas vezes ao longo dos anos“, concluiu a nota.

Confira a íntegra:

Para entender algumas expressões do papa no documentário “Francisco”

Algumas afirmações contidas no documentário “Francisco”, do roteirista Evgeny Afineevsky, despertaram, nos últimos dias, diversas reações e interpretações. Por isso, trazemos argumentos úteis, à disposição Dele, com o desejo de favorecer uma compreensão adequada das palavras do Santo Padre.

Há mais de um ano, durante uma entrevista, o Papa Francisco respondeu a duas perguntas distintas em momentos diferentes que, no documentário mencionado, foram editadas e publicadas como uma só resposta sem a devida contextualização, o que gerou confusão. O Santo Padre havia feito em primeiro lugar uma referência pastoral acerca da necessidade de que, no seio da família, o filho ou a filha com orientação homossexual nunca sejam discriminados. A eles se referem as palavras: “As pessoas homossexuais têm o direito de estar em uma família; são filhas de Deus, têm o direito a uma família. Não se pode expulsar da família ou tornar a vida impossível por isto”.

O seguinte parágrafo da Exortação apostólica pós-sinodal sobre o amor na família Amoris Laetitia (2016) pode iluminar tais expressões: “Com os Pais sinodais, foi levada em consideração a situação das tendências homossexuais, uma experiência nada fácil para pais e filhos. Por isso, desejamos antes de tudo reiterar que toda pessoa, independentemente de sua tendência sexual, deve ser respeitada em sua dignidade e acolhida com respeito, procurando evitar ‘todo sinal de discriminação injusta’, e particularmente qualquer forma de agressão e violência. No que se refere às famílias, para que aqueles que manifestam uma tendência homossexual possam contar com a ajuda necessária para compreender e realizar plenamente a vontade de Deus em sua vida.

Uma pergunta posterior na entrevista se referia a uma lei local de dez anos atrás na Argentina sobre os “matrimônios igualitários entre pessoas do mesmo sexo” e a oposição do então Arcebispo de Buenos Aires a respeito. Sobre esse propósito, o Papa Francisco afirmou que “é uma incongruência falar de matrimônio sexual”, agregando que, no mesmo contexto, havia falado do direito destas pessoas a ter certa cobertura legal: “O que temos que fazer é uma lei de convivência civil, (eles) têm o direito de ter proteção jurídica. Eu defendi isso”.

O Santo Padre havia se expressado assim durante uma entrevista de 2014: “O casamento é entre um homem e uma mulher. Os Estados laicos querem justificar as uniões civis para regular diversas situações de convivência entre as pessoas, movidos pela exigência de regular aspectos econômicos entre as pessoas, como por exemplo assegurar assistência sanitária. Trata-se de pactos de convivência de diferentes naturezas, dos quais eu não saberia elencar de distintas formas. É necessário ver os diversos casos e avaliá-los em sua variedade”.

Portanto, é evidente que o Papa se refere a disposições estatais, certamente não à doutrina da Igreja, reafirmada diversas vezes ao longo dos anos.

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