Amigo de sem teto que morreu após madrugada de frio em SP chora ao falar sobre dificuldade para conseguir vaga em abrigo; assista

Nesta madrugada, capital paulistana registrou sensação térmica de -4 graus

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Nesta semana, as temperaturas caíram pra valer no estado de São Paulo e castigaram as pessoas que estão em posição de vulnerabilidade. Na madrugada de hoje (18), Isaías de Faria, de 66 anos, morreu enquanto aguardava para tomar café quente em um dos pontos assistenciais disponibilizados pela prefeitura da capital paulistana. Tiago Pereira, colega da vítima, fez um desabafo tocante a respeito das dificuldades enfrentadas nessa época do ano, e até mesmo a burocracia para ter acesso aos serviços de auxílio oferecidos pelos governantes.

Durante entrevista exibida no “SP TV”, Tiago explicou que ele e Isaías dormiram na calçada durante a noite, quando a cidade registrou média de 7 graus de temperatura e sensação térmica de -4 graus. “Eu fiquei surpreso [com a morte]… a rua não é fácil, mano. A rua é difícil”, começou Pereira, sem conseguir conter as lágrimas. Ele também explicou que ainda é “novo” nesse tipo de situação.

Ao ser questionado pelo repórter se ele e o colega tinham feito inscrição para terem um lugar nos abrigos municipais, Tiago foi bem franco ao falar do que é necessário fazer, mas que não condiz com as condições que as pessoas vivendo nas ruas possuem. “Para conseguir vaga em albergue, precisa ligar no 156 e geralmente a gente não tem telefone. Tem que ficar pedindo pra um, pra outro. O pessoal acha que a gente vai roubar, a gente não rouba. Ou tem que procurar um orelhão lá no metrô pra ligar. A espera é de 3 horas [na chamada telefônica]. Enquanto isso, a gente fica aí no frio, né?!”, explicou.

Tiago trabalha com reciclagem durante o dia e contou que ele e o amigo só tinham duas cobertas. Também afirmou que durante a noite, não foram abordados por nenhuma equipe de assistência social. “Só ouvimos o vento frio no ouvido”, lamentou Pereira.

Isaías de Faria morreu na fila do café oferecido pelo núcleo de convivência São Martinho, ponto conveniado com a Prefeitura de São Paulo e administrado pelo Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto. O padre Júlio Lancelotti, da pastoral do Povo da Rua de São Paulo, contou à reportagem que o local só oferece alimentação diariamente, e que apesar de ter pedido autorização para abrigar a população em situação de rua, recebeu uma resposta negativa.

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Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que a Polícia Civil investigava a morte de homem, definida a princípio como “morte súbita”. “O caso foi registrado como morte suspeita pelo 8º Distrito Policial. Foi solicitado exame necroscópico à vítima para esclarecer todas as circunstâncias relacionadas ao fato”, declarou o órgão. A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento (SMADS) alegou que esta foi a segunda vez que Isaías esteve no local, que ele recebeu os primeiros-socorros ao passar mal, e destacou que a vítima “não tinha registro de passagem pela rede de acolhimento socioassistencial”.