Em audiência realizada na última quarta-feira (9), a jornalista Lívia Braz, ex-apresentadora da Record TV, confessou ter cometido injúria racial contra uma colega de trabalho. Os casos aconteceram entre 2019 e 2020, quando a jornalista integrava a bancada do DF Record, jornal diário da emissora no Distrito Federal. Em março de 2020, ela foi desligada da rede por justa causa.
Em julho deste ano, Lívia foi indiciada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). No inquérito consta que a ex-apresentadora costumava chamar uma colega da emissora de “Patolina”, fazendo referência ao personagem animado do “Looney Tunes”, que é um pato de cor preta. Além disso, em grupo de WhatsApp, a jornalista chegou a afirmar que a vítima parecia um “carvão” em uma foto.
Na última quarta (9), Braz confessou a injúria racial em vídeo, durante uma audiência de acordo de não persecução penal (ANPP). Agora, Lívia precisará pagar indenização de R$ 30 mil à vítima. Além disso, a jornalista deverá fazer um curso-antirracismo do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O MP, entretanto, não denunciará a acusada. Assista à confissão, obtida pelo portal Metrópoles:
Ao hugogloss.com, a vítima afirmou que deseja justiça não só para ela, mas para todos que sofrem com o racismo. “Que isso sirva de medida pedagógica para que as pessoas aprendam com tudo isso. Eu fui em busca de justiça não só pra mim, mas para todo o meu povo preto. Ela cometeu um crime. Precisa pagar por isso dentro da lei”, destacou. Hoje, ela trabalha na Record TV de São Paulo.
“Apesar da confissão e da indenização a ser paga, continuamos defendendo que pela lente de leitura da Constituição Federal – o acordo de não persecução penal, de forma antecipada, não se mostra suficiente para reprovação e prevenção do crime de injúria racial”, defendeu Leonardo Ranna, o advogado da vítima.
O episódio e a denúncia da mulher resultaram em um projeto de lei para endurecer as punições em casos de injúria racial como esse. O PL 2559/2022 já foi protocolado e aguarda a designação do relator na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados. “Eu saio desse processo de cabeça erguida e ainda deixo esse legado para a população preta“, concluiu a vítima.
Indiciamento
O indiciamento ocorreu em julho deste ano. Na ocasião, a delegada responsável por conduzir a investigação, Scheyla Cristina Costa Santos, da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), reproduziu provas de que Lívia Braz teria um comportamento “muito indigno” na emissora.
“Costumava dizer que não gostava de pobre, chegando a dizer que tinha horror a Águas Claras, pois lá só tinha pobre. Em outra oportunidade a declarante testemunhou Lívia maltratando uma estagiária, que chegou a chorar. Diante disso, apesar de Lívia nunca ter se referido diretamente à declarante com esse conteúdo que corria pelo WhatsApp. Diz que Lívia costumava falar também mal de pessoas gordas e das roupas das outras pessoas. Atitudes sempre reprováveis de convívio”, constava em um trecho do documento.
Nos papéis enviados pelo MPDFT à Decrin solicitando a apuração do caso, consta o print de uma conversa no WhatsApp, ocasião em que Lívia teria chamado a vítima de “carvão”. “Desculpa, amiga… Não vai dar pra curtir não. (risos) Ela tá parecendo um carvão nessa foto”, escreveu Braz no aplicativo de mensagens, em um grupo com colegas de trabalho. Confira: