Os novos episódios da série “Pacto Brutal” foram divulgados nesta quinta-feira (28), dando mais detalhes de como Glória Perez foi além e investigou por conta própria o assassinato da filha Daniella Perez. O terceiro episódio da produção revelou como frentistas de um posto foram essenciais para entender o que havia acontecido antes do crime. A escritora e seus amigos relatam como foram atrás das testemunhas para que prestassem depoimentos.
Após a confissão de Guilherme de Pádua, a polícia já estava concluindo as apurações sobre o caso, mas a mídia ainda especulava se havia algo entre Daniella e seu colega de elenco na novela “De Corpo e Alma” – até então, havia a hipótese de que teria sido um “crime passional”. Porém, novas informações começaram a chegar para Glória já na noite do enterro de sua filha. “Eu recebi o primeiro telefonema. Era um telefonema anônimo, uma mulher dizendo: ‘Se quiser saber o que aconteceu com a sua filha, vá ao Posto Alvorada, do lado da Tycoon’. E desligou. Foi o primeiro sinal”, recordou ela.
Com isso, a escritora pediu que seu amigo, Paulo Fernando, fosse até o posto para averiguar essa história. “Ele foi no posto e quando ele voltou, ele disse: ‘Olha, aconteceu alguma coisa mesmo, porque ninguém quer falar nada. Todo mundo foge pra todo lado'”, recordou Perez. Em meio a tudo isso, advogados de Pádua alegaram que os frentistas só viram os carros dos envolvidos passando longe. “Aquilo me bateu mal. Como assim? Primeiro que o posto era longe da estrada. Depois, como você vai saber que carro tá passando, quem é que tá dirigindo o carro que tá passando? Tudo vinha pra confirmar a história de que realmente tinha acontecido alguma coisa no posto”, suspeitou a escritora.
Coincidências em relatos
Momentos antes de sua morte, Daniella tirou fotos com algumas crianças na saída dos estúdios da Tycoon. Após a tragédia, seu marido, Raul Gazolla, fez um apelo para que levassem essas imagens até eles, na tentativa de descobrirem mais informações. Foi quando familiares de Marcela Nunes – uma das meninas atendidas pela atriz – levaram os registros até Glória e seus amigos.
Os pais disseram que as crianças não seriam levadas para depor na polícia, mas também contribuíram com algumas informações. Assim que saíram da Tycon, elas seguiram Guilherme até o acostamento do tal posto, mas tiveram que seguir viagem visto que já estava tarde. “Ele entrou no posto e ficou parado lá, esperando. Eu falei: ‘Vamos ficar aqui no posto esperando pra ver se ela vem'”, relatou Marcela à produção.
Dias depois, Glória foi procurada por um cozinheiro que frequentava o posto de gasolina, que também confirmou como as pessoas que trabalhavam ali tinham informações preciosas sobre o que houve. “Logo nesses primeiros dias de janeiro, eu fui procurada por um cozinheiro que costumava ficar ali conversando, tinha alguns amigos ali. Esse cozinheiro me contou que a Dani tinha sido agredida, desmaiada no posto, e colocada dentro do carro”, mencionou a mãe da vítima.
Glória ainda expôs o áudio de um telefonema com o cozinheiro, no qual ele revela como Daniella reagiu a esse encontro no posto. “Foi: ‘Que brincadeira é essa?’. Foi uma coisa assim”, disse o homem, chamado Eliseu. “Mas ela saltou do carro ou não?”, quis saber a escritora na ligação. “Quando ela percebeu que era ele, ela saltou”, respondeu ele. “Então ele bateu nela fora do carro?”, perguntou a autora. “Foi”, completou Eliseu, que ainda abordou como Guilherme teria dirigido o carro da atriz até a cena do crime: “Só pode ter sido ele, porque depois com ela desmaiada, não tem condição”.
Busca por frentistas
Nesta altura, Glória já sabia que o posto foi cenário do embate entre Guilherme e Daniella, mas ainda não conseguia um depoimento oficial dos que estavam lá naquela noite. “Comecei a ir ao posto todo dia e quando eu chegava lá todos corriam, cada um pra um lado”, contou a escritora. Segundo ela, todos os frentistas que presenciaram a cena foram demitidos pelo estabelecimento. Enquanto os outros negavam se pronunciar, Perez também notou como haviam arrancado duas páginas do livro de registros, para não revelarem os homens que trabalhavam no posto na ocasião.
“O cheque que a Daniella pagou a gasolina, eles despacharam para outro posto. Quiseram apagar a presença dela naquele posto”, pontuou Glória. O promotor Maurício Assayag explicou como, posteriormente, o tal cheque foi encontrado em um outro posto de um concorrente, na região do Leblon. O proprietário do estabelecimento até confirmou que o cheque não havia sido usado em um abastecimento ali, e sim, em outro lugar.
Numa dessas idas ao Posto Alvorada, um vigia mais velho contou que os frentistas moravam em comunidades próximas da Barra, e afirmou que um deles se chamava algo como Daniel, enquanto o outro era “gago”. Isso foi a deixa para que Glória e os amigos saíssem rodando toda a região em busca de informações. “Viramos detetives. No dia seguinte, o grupo todo dia tinha uma missão pra fazer. Eu lembro que fui fazer as contas e em um dia tinha andado 300 km na cidade do Rio de Janeiro. A gente andou, andou, andou, perguntava aqui, perguntava ali”, relatou Nilson Raman, amigo da escritora.
Enquanto seguia nessa busca, um dia Glória fez uma parada para beber água e questionou se alguém conhecia o “frentista gago”. A dramaturga recebeu um endereço e foi até lá para averiguar… e chegou até o lugar certo. “Batemos na porta, Dona Dagmar abriu. Quando ela viu, ela bateu a porta na nossa cara. Aí eu vi que tinha chegado no lugar certo. Passei a ir lá todo dia, sentada na soleira dela, pedindo por tudo”, disse Perez.
Frentista depõe e polícia conclui que caso foi premeditado
Dagmar de Almeida Bastos, mãe do ex-frentista Flávio Bastos, assumiu que ficou com medo ao ver a famosa em sua porta, preocupada pelo que o filho havia testemunhado. “Eu fiquei assustada, com medo, porque a parte fraca era eu”, afirmou a senhora, que assumiu o receio de sofrerem alguma represália se falassem sobre esse caso. “Com os outros é fácil, comigo não. A gente que não entende as coisas de Justiça, é muito difícil de confiar”, explicou ela quanto à demora em atender Perez.
Glória também entendeu os motivos de preocupação daquela senhora. “Ela dizia pra mim: ‘fizeram isso com a sua filha, sendo a senhora quem é, imagine o que não farão com o meu, e não sai nem no jornal’. Eu sabia que ela tava certa, né?”, ponderou a escritora. Até que ela conseguiu chamar a atenção de Dagmar e fazê-la se compadecer do caso. “Um dia eu vi que ela tinha uma filha, eu levei as fotos da perícia. Ela bateu a porta na minha cara de novo, aí eu botei as fotos por baixo da porta. Aí ela abriu. Eu implorei pra Dona Dagmar”, completou. “Vou falar a verdade, no fundo chegou a me bater pena dela. Tive pena. Pena porque eu também sou mãe, né?”, admitiu Dagmar.
Depois de chegar até a mãe, Glória conseguiu conversar com Flávio Bastos, que também se sentiu tocado e resolveu dar seu depoimento, apesar de todo o medo. “Eu lembro que a dona Glória se ajoelhou na sala. Aquilo pra mim foi algo determinante. Nesse momento, eu me senti muito mal, muitíssimo. Ela abriu o álbum com as fotos [da perícia]. Eu tinha 18, 19 anos, era meu primeiro emprego. A minha dicção me levou a ser uma pessoa tímida. Eu fiquei na retaguarda, fui na defensiva”, lembrou ele, que acabou cedendo e foi ouvido pela polícia. “Ainda que eu venha a ter essa dificuldade, foi um alívio para mim”, comentou o ex-frentista.
O relato, por fim, foi uma das peças-chave para que a Polícia Técnica concluísse que o crime havia mesmo sido premeditado, ao invés da suspeita de um “crime passional”. As autoridades chegaram à conclusão de que Daniella chegou à cena do crime completamente inconsciente, devido a esse encontro anterior com de Pádua no posto de gasolina.
Frentistas narram detalhes da noite do crime
Flávio recontou os momentos que antecederam o assassinato e lembrou como Guilherme deu um soco em Daniella antes de colocá-la em seu carro. “Eu era frentista, eu reparo que entra um Santana azul e fica nesse acostamento. O Daniel, ele atende ao Escort, quando ele observa que é a Yasmin da novela. Ela vai em direção à Barra. Nesse momento, o Santana cerca o Escort. Eu fiquei olhando. É nesse momento em que surge o Bira da novela”, narrou o ex-frentista sobre a intervenção do ator contra a colega de elenco.
Apesar de não ter visto Paula Thomaz, cúmplice de Guilherme, no carro, Bastos entendeu que era impossível que não houvesse uma terceira pessoa na cena. “O Bira sai, a Yasmin também sai e fica entre os dois carros. De longe a gente vê que não é um bate-papo amigável. Eu vi o momento que ele dá um soco. Segura ela pelo pescoço e a põe no banco do Santana. Esse banco era o do carona. Ele toma a direção do Escort. Eu não vi uma outra pessoa, mas é impossível o Santana ir sem ter alguém ali na direção. E a forma que a Yasmin foi posta no carro, ela não tinha nenhuma condição”, declarou ele.
A outra testemunha assumiu tudo o que viu para Glória Perez, disse que sabia que tinha que falar à polícia, mas que não podia por estar trabalhando muito exposto na praia. Contudo, ele contribuiu com a investigação passando o nome de outra testemunha, o de Antônio Clarete, que havia lavado o carro de Guilherme após o assassinato. “Ele me contou tudo, mas contou que na polícia não ia de jeito nenhum”, recordou a escritora sobre o papo com o funcionário do lava-jato.
Glória já havia percebido que Clarete era um homem religioso, então pediu ajuda para a deputada federal Benedita da Silva, que era da mesma religião da testemunha. Por fim, eles chegaram até o pastor da igreja, mas Antônio estava se escondendo, com medo de ser preso por ter se envolvido com o caso. Após muita persistência, a mãe de Daniella conseguiu se aproximar do vizinho de Clarete, que a ajudou a chegar até o homem. Contudo, ele seguia fugindo, até que a dramaturga chamou a polícia para levá-lo a depor.
Muito nervoso, Clarete foi amparado pela deputada e por seu pastor, que o teria feito até mesmo jurar diante da Bíblia. Depois de muitas orações, ele também deu sua declaração à polícia. “A mulher [Paula] não deixava se olhar, ela tava de costas, e ele [Guilherme] naquela agitação, você vê que alguma coisa não tava normal. Eu peguei xampu, tipo um sabão, ia lá, esfregava, limpava, meu interesse era que o freguês visse, desse caixinha”, lembrou o ex-frentista.
De acordo com Antônio, o assassino lhe deu uma boa gorjeta depois da lavagem. “Ele deu uma grande [caixinha]. Três vezes a mais o valor da lavagem”, declarou. Segundo a testemunha, a água até saía vermelha depois da higienização. “Lavava e quando eu passava a espuma, eu passava o pano. Sujava, torcia ali, e geralmente, seja uma pessoa que vomita, alguma coisa, a água vai ficar de alguma cor. A água aparecia toda meio avermelhada”, completou ele.
Como não assistia à novela, Clarete disse não ter reconhecido de Pádua na hora que o atendeu. Contudo, quando soube do crime no dia seguinte, percebeu que era ele o dono do carro em questão. Na Polícia, a testemunha também reconheceu o assassino, mesmo que Guilherme estivesse diferente e com barba. De acordo com os relatos, muitos tentaram desmerecer os depoimentos dos frentistas na época, mas os horários e detalhes dos acontecimentos batiam, tornando a narrativa dos fatos muito plausível.
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