No interesse de obter recursos, muitas propostas de alianças têm sido apresentadas ao governo em razão da queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro. De acordo com o jornal Estadão, uma delas vem dos padres e leigos conservadores que controlam o sistema de emissoras de TV e rádio, com a promessa de “mídia positiva” para ações governamentais no enfrentamento à pandemia do coronavírus. A contrapartida seriam anúncios estatais e outorgas para expansão de suas redes de comunicação.
No dia 21 de maio, em videoconferência entre Bolsonaro, sacerdotes, parlamentares e representantes dos grupos católicos de comunicação, houve solicitação de acesso, por parte dos interessados, ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e também à Anatel (Agência de Telecomunicações) e à Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), que é dona do quinto maior orçamento do Executivo, dispondo de R$ 127,3 milhões em contratos com agências de publicidade.
O pedido veio enfaticamente do padre Welinton Silva, da TV Pai Eterno (GO), que declarou que espera que a aproximação com a Secom possibilite a oferta de “uma pauta positiva às ações do governo” sobre a pandemia da Covid 19, uma vez que a população católica é ampla maioria no país. Bolsonaro prometeu empenhar-se pessoalmente no assunto.
O padre e cantor Reginaldo Manzotti, da Associação Evangelizar é Preciso, cobrou agilidade na ampliação das outorgas, dizendo que os católicos podem estancar o desgaste de imagem atual do presidente e de seu governo, contra as mídias negativas.
Já o empresário João Monteiro de Barros Neto, da Rede Vida, reivindicou mais investimentos, para viabilizar o crescimento dos veículos católicos, para que esses sejam “verdadeiramente prestigiados”.
No ano passado, emissoras de TV ligadas a grupos religiosos receberam R$ 4,6 milhões em pagamentos da Secom, por veiculação de comerciais institucionais e de utilidade pública, sendo divididos em R$ 2,2 milhões aos protestantes e R$ 2,1 milhões ao católicos.
A Rede Católica de Rádio possui oito geradoras que distribuem conteúdo para mais de mil emissoras, e nove geradoras de conteúdo para TV. São elas: Aparecida, Nazaré, Imaculada, Horizonte, Pai Eterno, Rede Vida, Canção Nova, Século 21 e Evangelizar – as três últimas ligadas a movimentos da Renovação Carismática Católica.
A investida do Planalto recai na divisão latente na Igreja, que de um lado tem conservadores alinhados ao governo (principalmente os ligados à Renovação Carismática Católica), e de outro, os progressistas e críticos do Bolsonarismo ligados à CNBB. Recentemente, esta elevou o tom contra o presidente, com a defesa de seu impeachment por parte do episcopado, alegando que sua presença em manifestações antidemocráticas e contrárias ao combate da pandemia da Covid-19, fizeram do governo de Jair Bolsonaro, uma ameaça à saúde e permitiram seu descrédito social.
O encontro virtual foi intermediado pelo líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), com a Frente Parlamentar Católica. A CNBB alegou não ter participado do encontro.