A HBO Max liberou ontem (28), os últimos episódios de “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez“. Na série documental baseada no crime que ocorreu há quase 30 anos, vários artistas relataram “confusões” causadas por Guilherme de Pádua, condenado por matar a colega de profissão. Entre os depoimentos, Fábio Assunção lembrou de quando foi agredido por Pádua em cena.
Ao lado de Fabio, Mauricio Mattar e Alexandre Frota, Guilherme de Pádua integrou o elenco da peça “Blue Jeans”, sucesso dirigido por Wolf Maya. No documentário, Assunção recordou de uma cena específica, quando pensou que ficaria com alguma sequela após levar um soco. “Ele fazia um policial, então ele me prendia, tinha que me bater, mas era ensaio. E ele me deu um soco em cena. Foi na minha garganta, aquilo deu uma discussão enorme. Achei até que ia ficar com algum problema na voz”, relatou.
O ator Maurício Mattar completou a fala do colega, afirmando que Pádua vivia “aéreo” e confundia as pessoas à sua volta. “Guilherme era meio over, era meio fora da casinha. Ele falava umas coisas que todo mundo ficava… [com expressão de interrogação, sem entender]“, disse.
Os produtores da peça também aparecem na série e todos garantem que a agressão não foi a única desavença protagonizada por Guilherme de Pádua nos bastidores. “Onde tinha discussão, Guilherme estava envolvido. Numa cena de morte, ele quis fazer uma manobra diferente e machucou um ator em cena”, lembrou Marcos Montenegro.
“Teve um dia que teve um acidente com um canivete com outro ator, foi ele que fez o acidente. O contrarregra comprava uns dez canivetes, e uma das minhas maiores preocupações era o contrarregra tirar o fio do canivete. Até que o Guilherme se ofereceu pra ajudar o contrarregra. A gente descobriu que de um dos canivetes não foi tirado o fio. O Guilherme queria ser protagonista, o coro pra ele era muito pouco”, acrescentou.
Segundo Wolf Maia, o ator se demitiu “em grande estilo”, através de uma carta, assim que conseguiu seu papel em uma novela: “Eu agora não posso mais estar aqui. Vou me tornar outro tipo de ser humano. Agora chegou a minha vez de fazer sucesso. Eu não posso mais expor minha bunda no ‘Blue Jeans’, porque minha bunda vai valer alto”.
O diretor, inclusive, se arrepende de ter jogado a carta fora, já que, em sua opinião, a fala mostrava muito de quem Guilherme era realmente. “Mostrei [a carta] pra Gloria. Eu fiquei com raiva e rasguei a carta. Foi uma grande bobagem, porque essa carta seria útil pra conhecê-lo melhor”, afirmou.
Fama de michê
Guilherme de Pádua chegou no Rio de Janeiro em 1988 e, antes da fama, participou da peça “A Noite dos Leopardos”, no teatro Alaska. Na época, os jovens se apresentavam cantando e dançando, vestindo sungas pequenas e estampadas. No final, eles ficavam nus e, alguns deles, saíam das coxias para a apresentação final com os pênis eretos. Também existiam rumores de que os “leopardos” trabalhavam como michês, fazendo programas com clientes homossexuais.
O documentário mostra o ator bravo, negando a informação com veemência e garantindo não se passar de “mais um boato envolvendo seu nome”. “Eu não fui leopardo. Também não vejo nada demais, mas eu não fui. A imprensa sabe que eu não fui”, disparou ele.
No entanto, a série também apresenta relatos de pessoas que afirmam ter trabalhado com Guilherme no mesmo teatro. “Conheço [o Guilherme]. Ele fazia os programas michês e tudo mais. E é óbvio, todo mundo sabe. Agora não adianta mais esconder”, disse a moça chamada Valéria.
Glória Perez, mãe de Daniella e uma das peças centrais do documentário, criticou a postura de Pádua. “Se trata de uma pessoa que, a gente sabe, casou com quem lhe interessou para subir na vida. Ser assassino tudo bem, ele tá perfeitamente cômodo nesse papel. O que é inadmissível é ser homossexual. Impressionante. É assustador”, disse. “É uma pessoa que nega, tenta negar o passado, e não tem como. Uma pessoa que tem problemas seríssimos em relação ao homossexual”, acrescentou Carlos Loffer, que atuou com Pádua em “Blue Jeans”.
Pacto Brutal
Filha da autora Gloria Perez, Daniella foi assassinada, aos 22 anos, por Guilherme de Pádua e sua esposa, Paula Thomaz. A jovem foi morta com 18 perfurações no corpo, em 1992, quando saia de uma gravação da novela “De Corpo e Alma”, da Globo, da qual era protagonista. O autor do crime interpretava Bira na mesma trama. Na época, ele alegou que matou a colega por “acreditar que seu papel estava sendo reduzido, enquanto a jovem ganhava destaque“.
Guilherme aguardou o julgamento na prisão, e foi condenado em 1997. Em 1999, no entanto, recebeu a liberdade condicional e abandonou a carreira artística, levando uma vida longe dos holofotes. Hoje, atua como pastor em uma igreja evangélica, em Belo Horizonte.