Quase quatro anos após receber acusações de abuso sexual, James Franco quebrou o silêncio e falou sobre o caso. Em entrevista ao podcast “The Jess Cagle Podcast”, o ator abriu o jogo e admitiu ter tido relações sexuais com alunas de sua antiga escola de atuação, a Studio 4. O protagonista de “Artista do Desastre” também respondeu por que só está se manifestando agora.
De acordo com a revista People, Franco assumiu que se envolveu com estudantes da Studio 4. “Eu admito que dormi com as alunas. Eu não dormi com ninguém lá [nas aulas de ‘Cenas de sexo’], mas, ao longo do meu ensino, eu dormi com alunas e isso foi errado”, afirmou. O ator disse ter pensado que aquilo era aceitável por ser “consensual”, em seu ponto de vista. Além disso, ele negou que tenha criado a escola para ter acesso às mulheres.
“Como eu disse, não é por isso que eu dei início à escola e não era eu quem selecionava as pessoas que estariam nas aulas. Então, não foi um ‘plano mestre’ da minha parte. Mas sim, houve certas situações em que, você sabe, eu estava numa coisa consensual com alguma aluna e não deveria estar”, acrescentou ele. Após conversar com outras pessoas, Franco disse ter entendido a problemática. “Eu suponho que, na época, o meu pensamento era de que se fosse consensual, OK. É claro que eu soube, conversando com outras pessoas, outros professores, que sim, provavelmente não é algo legal”, defendeu-se.
O artista ainda avaliou esse antigo pensamento. “Na época, eu não estava lúcido, como eu disse. Então eu acredito que tudo se resume que meu critério era tipo, se isso é consensual, eu acho que tudo bem. Nós somos todos adultos, então…”, completou. Segundo o Page Six, James também comentou sobre os impactos de tudo isso: “Eu decepcionei muitas pessoas. Eu desapontei meus alunos. Eu apresentei o Oscar – eu os decepcionei. Eu decepcionei meus colegas de elenco nos meus filmes”.
Por que a demora?
James Franco alegou ter usado esses quase quatro anos para tentar resolver as raízes de seus problemas. “Em 2018, houve algumas queixas e um artigo [do ‘The Los Angeles Times’] sobre mim e, naquele momento, eu só pensei: ‘Eu vou ficar quieto. Eu vou ficar parado’. Não parecia a hora certa para dizer qualquer coisa”, iniciou. “Havia algumas pessoas magoadas comigo e eu precisava ouvir. […] Quando algo assim acontece, o instinto humano natural é de querer fazer com que isso pare. Você só quer chegar na frente disso e fazer o que for preciso para se desculpar. Mas isso não te permite a trabalhar nisso, olhar o que estava por baixo de tudo”, declarou.
Citando o ator Damon Young, James explicou: “Não importa o que você fez, mesmo se foi uma gafe, ou disse uma coisa errada, provavelmente existe um iceberg por trás do seu comportamento, de tornar um padrão, de apenas estar cego sobre si mesmo de que isso não vai ser resolver da noite pro dia”. Depois de tudo isso, o ator falou sobre o esforço nas tais mudanças. “Então, eu tenho trabalhado muito. […] Antes, eu estava me recuperando do abuso de drogas. Havia alguns problemas que eu tive de lidar que também estavam ligados ao vício. Então, eu realmente usei meu histórico de recuperação para começar a examinar isso e mudar quem eu era”, avaliou.
Vício em sexo
Durante a entrevista reveladora com Jess Cagle, James Franco ainda confessou que teria lidado com um vício em sexo logo após lutar contra a dependência de álcool. “É uma droga muito poderosa. Fiquei viciado nisso por mais de 20 anos. E uma parte traiçoeira disso é que fiquei sóbrio de álcool o tempo inteiro. E eu ia em encontros o tempo todo. Eu até tentei agenciar outras pessoas. Então, na minha cabeça, era tipo: ‘Oh, eu tô sóbrio. Estou vivendo uma vida espiritual'”, contou ele, dizendo que não conseguia ver alguns dos problemas.
O ator assumiu uma série de traições antes de seu atual relacionamento, com Isabel Pakzad. “Eu nunca fui fiel a ninguém. Eu traí todo mundo antes de Isabel”, revelou. “Eu não queria machucar as pessoas. Na verdade, eu nem era o cara de uma noite só. As pessoas com quem eu ficava ou namorei, eu ainda as veria por muito tempo, anos. É só que eu não conseguia estar presente para nenhuma delas. E esse comportamento se prolongou ao ponto em que eu estava machucando todo mundo”, admitiu Franco.
Depois de um desabafo de Seth Rogen, que repudiou as ações de James Franco e colocou fim na parceria de longa data deles, o artista também se manifestou sobre o caso. “Eu só quero dizer, eu absolutamente amo Seth Rogen. Eu amo Seth Rogen. Eu trabalhei com ele por 20 anos e nós não tivemos uma briga. Por 20 anos, nenhuma briga. Ele era meu absoluto e mais próximo amigo e parceiro de trabalho. Nós apenas nos unimos… O que ele disse é verdade. Nós não estamos trabalhando juntos agora e não temos planos de trabalharmos juntos. É claro, foi doloroso no contexto, mas eu entendo, você sabe, ele tinha que responder por mim, porque eu estava em silêncio”, declarou Franco.
A entrevista na íntegra vai ao ar nesta quinta-feira (23), no episódio da semana do podcast “The Jess Cagle Podcast”, da rádio SiriusXM.
Relembre o caso
James Franco foi alvo de denúncias de assédio sexual após ganhar um prêmio no Globo de Ouro por sua performance no longa “Artista do Desastre”, no início em 2018. Naquela mesma noite, o ator apareceu no tapete vermelho usando um broche do movimento “Time’s Up”, que marcou a premiação como um protesto aos casos de abuso que vieram à tona na indústria cinematográfica na época.
A atitude de Franco motivou Sarah Tither-Kaplan a se pronunciar pela primeira vez contra o astro, ao lado de outras mulheres, no Los Angeles Times. No entanto, um processo contra o astro de Hollywood só foi oficializado em 2019. À justiça norte-americana, as jovens estudantes da Studio 4 afirmaram que James forçou seus alunos a se apresentarem em cenas de sexo cada vez mais explícitas diante das câmeras, em um “ambiente de orgia que ia muito além do aceitável nos sets de filmagem de Hollywood”.
Uma das jovens também alegou que o ator e cineasta “procurou criar um canal de mulheres jovens que foram submetidas à sua exploração sexual pessoal e profissional em nome da educação”, e que os alunos foram levados a acreditar que papéis nos filmes de Franco seriam disponibilizados para aqueles que participassem.
Mas, em fevereiro de 2021, o ator aceitou pagar a quantia de US$ 2,235 milhões – cerca de R$ 12,6 milhões – para colocar um fim na ação coletiva em que era acusado de exploração sexual. O acordo determina que as atrizes Sarah Tither-Kaplan e Toni Gaal abram mão de acusações de fraude contra o ator. Caso parte do dinheiro não fosse reclamada, a quantia seria doada ao National Women’s Law Center, uma organização sem fins lucrativos que defende os direitos das mulheres por meio de ações judiciais e iniciativas políticas.
Além disso, os envolvidos na ação coletiva concordaram em incluir a seguinte declaração no acordo: “Enquanto os réus continuam a negar as alegações na ação, eles reconhecem que os requerentes levantaram questões importantes; e todas as partes acreditam fortemente que agora é uma hora crítica para focar na abordagem a maus tratos a mulheres em Hollywood. Todos concordam na necessidade de certificar que ninguém na indústria do entretenimento — independente de raça, religião, deficiência, etnia, passado, gênero ou orientação sexual — enfrente discriminação, assédio ou preconceito de qualquer tipo”.