Já faltam palavras para descrever a revolta com os casos de racismo que se proliferam diariamente… Nesta semana, um jovem negro identificado como Matheus, de 18 anos, foi agredido dentro do Ilha Plaza Shopping, no Rio de Janeiro, ao tentar trocar o relógio que havia comprado para dar de presente no Dia dos Pais. Em entrevista para o “Jornal Nacional” ontem (7), ele deu detalhes dos momentos horríveis que viveu.
Nas imagens do circuito de segurança da loja Renner, onde Matheus tentava trocar o relógio, é possível ver que ele foi seguido por dois homens vestindo roupas comuns. Em seguida, ele já começa a ser arrastado agressivamente pelo indivíduo que vestia uma camisa vermelha até saírem do estabelecimento. “Eu comecei a gritar que eu não sou ladrão, que você estava me confundindo, que eu estou aqui todo dia trabalhando. Eu não era ladrão e eles estavam me tratando como um”, relatou o rapaz para o JN.
Já na saída de emergência do shopping, o jovem começou a ser agredido, sendo que, neste momento, um segurança uniformizado acompanhou tudo e não prestou qualquer socorro. “O de camisa vermelha me deu uma banda e me imobilizou. Nisso que ele me imobilizou, ele sacou a arma e botou na minha cabeça”, recordou Matheus. Felizmente, um amigo do rapaz, que também trabalha como entregador de um restaurante do shopping, o encontrou e mobilizou clientes sobre o que estava acontecendo ali.
Nas gravações amadoras é possível ouvir a voz de uma mulher: “Solta ele! Tem que esperar. Não é assim que vocês têm que tratar ele não!”. Apenas quando o caso ganhou essa proporção que o jovem finalmente foi liberado. Matheus chegou a mostrar a nota fiscal do presente e falou que nunca teve esse tipo de problema no shopping quando entrava com a mochila do aplicativo de delivery para o qual trabalha. Ao aparecer como um cliente comum e com a embalagem do relógio nas mãos, viveu um grande trauma…
E os detalhes da história são ainda mais revoltantes. O entregador que ajudou Matheus afirmou que o Ilha Plaza Shopping e o restaurante o proibiram de voltar lá para trabalhar. A polícia tenta identificar os agressores, mas depoimentos dos funcionários já afirmaram que os dois homens trabalham como seguranças do centro de compras. Inclusive, um deles é policial.
DELEGADO DEVE ENQUADRAR COMO CRIME DE RACISMO CASO DO JOVEM AGREDIDO NO ILHA PLAZA
O jovem Matheus Fernandes, de 18 anos, que denunciou, na quinta (6), ter sido agredido por dois homens no Ilha Plaza quando ele teria ido na loja Renner trocar um relógio que havia comprado (+) pic.twitter.com/kCqX3scBA1— Ilha Notícias (@ilhanoticias) August 8, 2020
Matheus prestou queixa na delegacia e deu depoimento durante uma hora. “Tudo indica que o Matheus sofreu essa violência em razão da cor da sua pele. Por isso, a polícia tipificou esse fato como crime de racismo, pena de reclusão de um a três anos”, afirmou o delegado Marcus Henrique Alves. Para o “Jornal Nacional”, Dona Alice, mãe do jovem, desabafou sobre o caso e a dor de ver o sofrimento do filho.
“Eu posso ir no shopping, eu posso mexer em todas as roupas, eu posso comprar o que eu quiser. Eu posso, inclusive, provar as coisas de graça. Agora, se ele está sozinho, ele não pode fazer nada disso, como foi o que aconteceu. Ele sozinho não pode comprar um relógio. Será que sempre vai ter que estar com a mãe do lado? Tem que estar com alguém do lado, alguém branco?”, indagou.
Posicionamentos
O Ilha Plaza Shopping enviou uma nota para o telejornal dizendo que “repudia qualquer tipo de violência ou discriminação, lamenta profundamente o ocorrido e se solidariza com Matheus”. A empresa declarou que os homens no vídeo não fazem parte do seu quadro de funcionários e o comportamento inerte do segurança uniformizado no vídeo foi uma tentativa de contornar a situação pacificamente.
A Renner lamentou o episódio e afirmou que entrou em contato com Matheus e sua família para prestar apoio. Eles garantem que os dois agressores também não são funcionários da loja e nem prestadores de serviço. A Polícia Militar declarou que não compactua e pune, com rigor, qualquer desvio de conduta ou abuso de autoridade. Assista à matéria completa do “Jornal Nacional” clicando aqui.