No domingo (5), uma reportagem do “Fantástico” causou grande revolta no público ao mostrar um casal humilhando um vigilante sanitário. Na ocasião, ele tentava fazer seu trabalho e garantir a segurança das pessoas na reabertura dos bares e restaurantes no Rio de Janeiro. Em entrevista ao jornal Extra nesta segunda (6), o homem que aparece na filmagem enfrentando o profissional afirmou estar sofrendo ameaças e disse que não houve agressão física.
Superintendente de Educação e Projetos da Vigilância Sanitária, Flávio Graça tinha acabado de avaliar que um estabelecimento não cumpria as exigências de distanciamento social e regras de higiene, por isso devia ser fechado. Eis que o casal o abordou com grosserias e, ao serem respondidos por ele, a mulher decidiu ofendê-lo pelo simples fato do seu marido possuir uma graduação. “Cidadão não, engenheiro civil, formado, melhor do que você”, disparou.
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O discurso arrogante definitivamente surtiu efeito, mas não o esperado pela dupla. “Estamos hoje com medo da nossa integridade física. Desde o momento em que a reportagem foi ao ar as pessoas na internet começaram a nos ameaçar. Há 24 horas não dormimos, não comemos e só bebemos água. Estamos apavorados com tudo isso”, revelou o engenheiro, que preferiu manter sua identidade em sigilo.
“Estamos recebendo ameaças por telefone. Estão nos xingando, nos ameaçando, estamos apavorados. Eu não esperava essa repercussão. Estamos com medo de sair na rua. Não queremos nem pensar em sair às ruas”, relatou. Ele aproveitou para salientar que não houve agressão física. “Em nenhum momento houve agressão ou intimidação. Eu não tinha essa intenção. Como a mídia estava lá gravando, estávamos cansados e havíamos acabado de ser expulsos do restaurante, ficamos exaltados. Volto a dizer: em nenhum momento houve agressão”, falou.
O homem ainda disse o porquê de ter se sentido no direito de cobrar explicações de Flávio Graça naquele momento. “Classifiquei que eu tinha direito de falar com ele (superintendente) porque sou pagador dos meus impostos. Quis questionar a metodologia da medição e o fiscal disse que era para eu procurar a superintendência para ver como era o método estabelecido. Então, eu me exaltei e disse que eu era o chefe dele, porque pagava meus impostos”, alegou.
O engenheiro acrescentou que, assim como o “Fantástico” registrou o momento, ele tem toda a conversa na íntegra gravada em seu celular, confirmando, inclusive, que não agrediu o superintendente. “Tinham dois PMs à minha direita. Eu nunca vou agredir alguém. Ele não me fez nada. Agressão é uma resposta a uma agressão”, opinou. Para o Extra, ele contou que estuda a possibilidade de fazer um boletim de ocorrência e pedir proteção para o estado, no programa de proteção à testemunha.
Ainda hoje, o jornal Extra também conseguiu ter acesso ao Portal de Transparência da Controladoria-Geral da União (CGU) e descobriu que o “engenheiro formado” recebeu o benefício do programa “Auxílio Emergencial”. Na entrevista, ele confirmou que fez o cadastro. “Eu recebei, sim, os R$ 600 porque estava desempregado. Consegui emprego no meio da pandemia. Se for necessário, eu devolvo. Entendo que essa medida emergencial se aplica a pessoa que precisa. Naquele momento era o meu caso”, argumentou.
Repercussão gerou demissão
O casal que aparece dirigindo a ofensa aos fiscais começou a sofrer consequências de seus atos. A empresa de energia elétrica Taesa anunciou hoje a demissão da mulher, afirmando que o comportamento da funcionária não condizia com as normas da corporação.
“A companhia não compactua com qualquer comportamento que coloque em risco a saúde de outras pessoas ou com atitudes que desrespeitem o trabalho e a dignidade de profissionais que atuam na prevenção e no controle da pandemia”, disse a Taesa em nota.