Hugo Gloss

Boate Kiss: Advogado bate-boca com testemunha, e julgamento tem treta generalizada após acusações; assista

Boate Kiss Briga Advogado Testemunha

O terceiro dia de julgamento do caso da Boate Kiss foi marcado por um bate-boca. (Fotos: Reprodução/TJRS; Divulgação/Polícia Civil do RS)

Bate-boca e gritaria marcaram o terceiro dia do julgamento do caso da boate Kiss. Nesta sexta-feira (3), o administrador Daniel Rodrigues da Silva discutiu com os advogados de defesa de Luciano Bonilha, ex-produtor musical da banda Gurizada Fandangueira. A sessão ainda teve de ser interrompida após os ânimos se exaltarem no Foro Central de Porto Alegre.

De acordo com o Uol, em 2013, Daniel trabalhava na loja que vendeu os artefatos pirotécnicos que foram utilizados na noite do incêndio. Luciano era quem havia comprado os objetos que, posteriormente, foram repassados ao vocalista da banda, Marcelo de Jesus dos Santos. Além de Luciano e Marcelo, também são réus no processo os sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann.

Daniel foi convocado a depor na audiência, e o primeiro momento de tensão foi quando ele se recusou a responder a uma pergunta dos advogados de Bonilha. A defesa do ex-produtor queria saber se a loja dele havia sido fechada pela Polícia Civil depois da tragédia. “No que isso é relevante?”, questionou a testemunha, que ainda falou: “Não vou responder, não sou obrigado“.

Daniel da Silva, que trabalhava na loja em que os artefatos pirotécnicos foram comprados, protagonizou uma tensão com a defesa. (Foto: Reprodução/TJRS)

O advogado Jean Severo bateu o pé e afirmou que, sim, ele era obrigado a responder. “Claro que tu é obrigado, sim! Não começa, tu tem que responder! Tu botou esse rapaz aqui”, gritou o integrante da defesa ao falar de seu cliente. “Ele colocou esse inocente aqui, ele colocou”, disparou Severo. O juiz do caso, Orlando Faccini Neto, até tentou acalmá-los, mas não teve sucesso. “Vamos ter um pouco de contenção, que é isso?”, afirmou.

Quando a gritaria tomou conta novamente, o magistrado logo repreendeu o advogado: “Só um minuto, doutor. Aqui não é competição de quem grita mais alto. Se for, eu falarei mais alto. O senhor aguarde, o senhor aguarde, por favor, a pergunta vai ser formulada. Eu considero a pergunta relevante, só vamos esperar um pouco”, pediu ele. Então, o juiz explicou que a testemunha tinha de responder. “Sim, é obrigado porque existe um tipo penal, um crime, que é o falso testemunho, que diz que, se a testemunha faltar com a verdade, ou também omitir, isso pode dar problema”, justificou Neto.

O incêndio da boate Kiss foi provocado após o uso de artefatos pirotécnicos dentro da casa noturna. (Foto: Divulgação/Polícia Civil do Rio Grande do Sul)

Diante da explicação, Daniel assumiu que a loja foi multada em 2015 por armazenamento inadequado de produtos. “Eu recebi uma mercadoria, que não pode ser remetida a minha loja. Ela foi direcionada a uma garagem, houve uma denúncia por parte dos vizinhos e essa mercadoria foi devolvida para a empresa que me forneceu”, disse a testemunha.

Treta generalizada

20 minutos depois, o julgamento saiu do controle novamente, quando os advogados perguntaram se a loja vendia um tipo de fogos de artifício de forma avulsa, sem caixa e sem instruções de uso. Daniel afirmou que não. Entretanto, ele foi desmentido pela defesa de Bonilha, que apresentou uma nota fiscal de fevereiro de 2013, mostrando a venda de uma unidade avulsa do foguete do tipo Sputnik por R$ 2,50. O administrador disse desconhecer como tal venda ocorreu.

O juiz perguntou quem fez a compra, quando Severo explicou que havia sido um antigo advogado de defesa. O magistrado seguiu o questionando sobre a nota fiscal, quando o advogado se exaltou novamente. “Só que ele [antigo advogado] comprou, né. É ilegal vender assim. A loja é ilegal, tudo é ilegal, tudo é ilegal, tudo é ilegal, a loja é ilegal, explosivo é ilegal”, esbravejou Severo. Daniel, por sua vez, defendeu-se e disse que não era acusado no caso, mas foi rebatido. “Deveria estar sentado aqui [no banco dos réus]”, gritou o representante de Bonilha.

O advogado do ex-produtor da Gurizada Fandangueira se exaltou e gritou contra a testemunha. (Foto: Reprodução/TJRS)

A situação virou uma briga generalizada quando até mesmo o promotor David Medina da Silva se envolveu. “Todo mundo deveria estar sentado aí”, retrucou ele, recebendo uma represália do advogado, que afirmou que o próprio Ministério Público deveria ser réu no caso. “Vocês querem desvirtuar o julgamento”, criticou outro integrante do MP. Mais uma vez, o juiz precisou intervir no barraco. “Vamos parar, nós não vamos caminhar desse trecho. Chega, chega, vamos parar dez minutos. Doutor Jean, hoje não tá legal, hein? Hoje não tá legal, hoje não tá legal”, lamentou o magistrado.

Severo alegou que seu cliente seria inocente, quando a testemunha questionou: “Inocente, doutor?”. Novamente, o advogado não deixou barato. “É inocente, sim. É inocente sim, tu sabe! Tu sabe”, retrucou ele. “Deixa a ignorância falar sozinha”, devolveu Daniel. Por fim, Faccini Neto voltou a puxar a orelha da defesa. “Doutor, eu vou lhe dizer uma coisa. A próxima que o senhor fizer, não vai ficar aqui. A bancada de defesa é muito grande, o senhor me respeite”, pediu o juiz. Severo ameaçou deixar o julgamento, até que o magistrado decidiu por dar início a um intervalo. É muita tensão…

O julgamento

O Tribunal do Júri sobre o caso da Boate Kiss teve início nesta quarta-feira (1º), no Foro Central de Porto Alegre (RS). Os réus são os dois sócios do estabelecimento, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, o músico Marcelo de Jesus dos Santos, além do ex-produtor da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Bonilha Leão.

Luciano Bonilha Leão, um dos réus do caso da Boate Kiss, chorou e se desesperou ao chegar no julgamento. (Foto: Reprodução)

Eles já ficaram presos por quatro meses, mas agora respondem pelo caso em liberdade. Os réus serão julgados pelos crimes de 242 homicídios simples com dolo eventual – por todas as vítimas fatais da tragédia –, e 636 tentativas de homicídio – referentes a todos os que saíram feridos do episódio, que abalou a cidade de Santa Maria (RS) em janeiro de 2013.

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