Jair Bolsonaro saiu em defesa das Forças Armadas nesta quarta-feira (13), durante um café da manhã com ministros, parlamentares e pastores evangélicos no Palácio da Alvorada. O presidente da República criticou a polêmica acerca da compra de 35 mil unidades de sildenafila – medicamento conhecido como Viagra, usado para o tratamento de disfunção erétil.
O caso ganhou repercussão nesta segunda-feira (11), quando o deputado federal Elias Vaz (PSB) pediu explicações ao Ministério da Defesa sobre a aquisição. O processo licitatório prevê a compra de 35 mil comprimidos de Viagra, incluindo as doses de 25 mg e de 50 mg de sildenafila. A pasta, por sua vez, afirmou que os remédios seriam empregados no tratamento de hipertensão pulmonar arterial (HPA).
Diante dessa história, Bolsonaro reclamou de as Forças Armadas estarem “apanhando” por esse caso, e criticou a imprensa por falar sobre isso. Suas falas foram transmitidas nas redes sociais pelo deputado federal Major Vitor Hugo (PL). “As Forças Armadas compram o Viagra para combater a hipertensão arterial e, também, as doenças reumatológicas. Foram 30 e poucos mil comprimidos para o Exército, 10 mil para a Marinha, e eu não peguei da Aeronáutica, mas deve perfazer o valor de 50 mil comprimidos”, afirmou ele.
O presidente ainda deu seu ponto de vista de que essa nem era uma grande quantidade de comprimidos. “Com todo o respeito, isso é nada. A quantidade para o efetivo das três forças, obviamente, muito mais usado pelos inativos e pensionistas”, declarou. Bolsonaro ainda lembrou da polêmica do leite condensado, quando R$ 15,6 milhões dos cofres públicos foram gastos para a compra do item. “Como ano passado eu apanhei muito por ter gasto alguns milhões com leite condensado”, recordou ele, citando que a narrativa era de que só a presidência teria gasto isso, quando as despesas diziam respeito a todos os órgãos do Executivo Federal. Assista:
Bolsonaro minimiza compra de Viagra por Forças Armadas: 'Não é nada'
➡️ Segundo ele, o montante de 35.320 comprimidos é pequeno em comparação com o efetivo das três Forças Armadas pic.twitter.com/4sBcHbnZ6z
— UOL (@UOL) April 13, 2022
Especialistas avaliam justificativa do governo
Apesar da justificativa do Ministério da Defesa, especialistas explicaram ao G1 que os comprimidos da licitação tinham doses de Viagra indicadas para disfunção erétil, e não para HPA. No caso da HPA, o padrão é se utilizar comprimidos de 20 mg, ao passo que a compra prevê doses a partir de 25 mg. Alguns especialistas, inclusive, afirmaram que a hipertensão pulmonar arterial é uma doença incomum, e que atinge mais mulheres do que homens.
“É uma doença incomum, que depende de diagnóstico relativamente sofisticado e que acomete gente mais jovem, entre 20 e 40 anos, principalmente, mulheres”, pontuou a pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz. De acordo com Marcelo Bandeira, médico da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o uso de dosagens maiores – como as do processo licitatório das Forças Armadas – só é admitido quando há falta do medicamento de 20 mg.
Questionado pelo G1 sobre o número de militares que têm HAP, o governo federal afirmou que as Forças Armadas dizem não ter esse dado.