Nessa quarta-feira (14), Leila Rosângela de Souza Mattos, funcionária de Monique Medeiros e Dr. Jairinho, prestou um novo depoimento na 16ª DP do Rio de Janeiro, responsável por investigar a morte de Henry Borel. Em seu mais recente testemunho à polícia, a doméstica voltou atrás e admitiu ter visto o menino mancando e com “cara de apavorado” ao sair do quarto do casal no dia 12 de fevereiro, após ficar trancado com o padrasto no local por 10 minutos.
Na ocasião, Thayná de Oliveira, babá da criança, também estava na casa e narrou à Monique, em tempo real, uma sessão de tortura praticada pelo político contra Henry. O episódio veio à tona graças a uma troca de mensagens descoberta pelas autoridades ao apreenderem o celular da governanta. Rosângela, por sua vez, deu mais detalhes sobre o ocorrido do dia 12.
Segundo o relato da doméstica, assim que a porta do quarto se abriu, o garotinho saiu correndo em direção ao colo da babá. Rose, como é apelidada Leila Rosângela, ainda disse ter ouvido Henry falar para Thayná que “não queria mais ficar sozinho na sala” e observou que “ele estava com cara de apavorado”, quando chegou aos braços de Oliveira. Questionado sobre o que havia acontecido, o menino não teria respondido. Momentos mais tarde, Jairinho saiu de casa, mas Henry teria se recusado a se despedir do padrasto. “Henry não quis ir “bater na mão” de Jairinho, então Thayná levou Henry em seu colo até Jairinho para que Henry, então, batesse a mão na mão de Jairinho, o que foi feito“, disse a empregada
Leila afirmou aos policiais que, depois que o patrão deixou o local, ela notou que Henry estava mancando. Ela não indagou ao garoto a causa, entretanto “ouviu quando Thayná perguntou a Henry a razão dele estar mancando, tendo ouvido também ele responder que havia caído da cama”.
No entanto, Thayná reiterou, em depoimento prestado no início da semana, o conteúdo das mensagens enviadas a Monique Medeiros, nas quais relatou que Henry havia dito que levou uma rasteira – ou “banda” – do vereador e que também estava com dores na cabeça devido a agressões. Thayná, inclusive, relatou outros dois episódios de possíveis agressões contra a criança.
“Surto” no carnaval
Rose também mencionou em seu depoimento que no domingo de carnaval, ligou para Monique para saber quando deveria voltar a trabalhar. A mãe do menino, por sua vez, respondeu que quase retornou de viagem no dia anterior, ou seja, no sábado, porque “Henry teve um surto com Jairinho” e “foi a maior discussão“, mas ela conseguiu acalmar o menino e, portanto, ficaria fora até a segunda-feira. O “surto” aconteceu após, pelo menos, duas agressões de Jairinho a Henry, segundo depoimentos da babá.
O delegado responsável pelo caso questionou o porquê da doméstica não ter mencionado tais episódios em sua primeira conversa com a polícia, e a testemunha alegou que “só não contou porque não se recordava” dos acontecimentos. Ela ainda negou tomar remédios controlados e ter problemas de memória, assim como disse não ter recebido qualquer orientação sobre como deveria prestar depoimento.
Remédios para Henry
Ainda no relato, a doméstica afirmou que tanto Monique como Jairo “tomavam muitos remédios”, mas ela não sabia dizer o motivo do uso. Segundo Leila, a professora também dava remédio para ansiedade a Henry três vezes ao dia, assim como “xarope de maracujá”, sob a justificativa de que o menino não dormia direito e passava muito tempo acordado. A polícia não informou se havia prescrição para os medicamentos dados à criança.
De acordo com Rose, Henry chorava muito e a funcionária chegou a presenciar episódios nos quais o menino vomitou. Certa vez, ela teria escutado a criança aos prantos e ouvido Monique dizer que o filho era “muito mimado”, ameaçando que se ele continuasse chorando à toa, “o levaria para morar com o pai”.
Entenda o caso
Em coletiva de imprensa realizada na última quinta-feira (8), a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que a babá do menino Henry Borel, morto no dia 8 de março, avisou à mãe da criança, a professora Monique Medeiros, que o garoto vinha sofrendo uma “rotina de violência” por parte do vereador Dr. Jairinho, namorado dela. Em um primeiro depoimento, Thayná de Oliveira omitiu informações a pedidos da pedagoga, mas voltou atrás após as autoridades encontraram trocas de mensagens, nas quais ela alertava a patroa sobre as agressões.
Além da babá, Leila Rosângela de Souza Mattos, doméstica que trabalhava para o casal, também sabia de episódios de agressão a Henry. Embora o inquérito ainda não tenha sido concluído, a polícia acredita que o menino foi assassinado, e aponta Jairinho e Monique como suspeitos de homicídio duplamente qualificado – com emprego de tortura e impossibilidade de defesa da vítima.
A polícia afirma que Dr. Jairinho teria praticado pelo menos uma sessão de tortura contra o enteado, semanas antes da morte da criança. Ainda segundo as investigações, Monique sabia de agressões, pelo menos, desde fevereiro. No dia 12 daquele mês, o vereador teria se trancado no quarto do apartamento onde o casal vivia e agredido o menino com chutes, rasteiras e golpes na cabeça. Confira a íntegra das conversas da babá de Henry com a mãe do garoto, clicando aqui.
Na manhã do dia 8 de abril, Jairinho e Monique foram presos, suspeitos não só por homicídio, como também por ameaçarem testemunhas e atrapalharem as investigações. Os mandados foram expedidos pelo 2º Tribunal do Júri, e o padrasto e mãe da vítima permanecerão detidos preventivamente por 30 dias. Até então, o vereador e a professora negavam qualquer envolvimento com o assassinato de Henry e alegavam que o óbito teria sido decorrente de um acidente doméstico. Segundo o jornal Metrópoles, ao chegar na delegacia o político disse que tudo não passava de uma “injustiça“.
Diante dos desdobramentos, a vereadora Teresa Bergher, membro do conselho de ética da Câmara, pediu ainda na quinta-feira (8) que Jairinho fosse afastado do cargo de vereador do Rio de Janeiro. “[Ele] Precisa ser afastado imediatamente. Pela imagem da casa, pela credibilidade de cada um de nós vereadores e por respeito a esta criança vítima de um cruel assassinato e a toda a população que representamos”, afirmou ela ao G1.