Thayná Oliveira Ferreira, babá de Henry Borel, morto no dia 8 de março, voltou atrás e admitiu à polícia que mentiu em seu primeiro depoimento, prestado à 16ª DP (Barra da Tijuca). Em mais de oito horas de declarações feitas na noite dessa segunda (12), a funcionária confirmou que sabia das agressões praticadas contra o menino por Dr. Jairinho, afirmando que omitiu a informação a pedidos da mãe da criança, Monique de Medeiros. A testemunha declarou ainda que a empregada da casa, Leila Rosângela, a Rose, também mentiu.
As autoridades sabem que no dia 12 de fevereiro, quando o vereador teria agredido o menino no final da tarde, as duas estavam dentro do apartamento onde vivia o casal. Na ocasião, Thayná enviou mensagens para Monique relatando os ataques. No dia seguinte, a professora levou o filho ao Real D’Or, unidade pediátrica em Bangu, mas essa ida ao hospital não foi mencionada nos depoimentos prestados e a polícia investiga o porquê.
Além disso, a babá, contratada desde o dia 18 de janeiro deste ano, teria presenciado outras duas sessões de tortura ao menino só em fevereiro. O primeiro deles, no dia 2 daquele mês. Monique estava no futevôlei quando Henry começou a chamar pela mãe em seu quarto. Segundo Oliveira, Jairinho, que havia chegado mais cedo em casa, saiu de seus aposentos e foi até o encontro do enteado, chamando a criança de mimada e o levando até o quarto do casal. Eles teriam ficado lá cerca de 30 minutos com a porta fechada.
“A declarante foi até Henry e perguntou o que havia acontecido, especificamente o que Jairinho havia falado, ocasião em que Henry respondeu que: ‘tinha esquecido, que estava com soninho'”, afirma o relatório, obtido pelo UOL. Depois disso, o menino foi para escola e, quando voltou, Thayná o levou para a brinquedoteca do prédio, mas ele não quis brincar com as outras crianças, alegando estar com dor no joelho.
![](https://media.hugogloss.uol.com.br/uploads/2021/03/henryborel-500x499.jpg)
Dez dias depois, dia 12 de fevereiro, Thayná relatou que Jairinho ficou cerca de 10 minutos no quarto com Henry e assim que a porta se abriu, o menino foi em sua direção, “amuadinho” e reclamou de dor no joelho. Quando a empregada perguntou por que ele estava mancando, o garoto disse que tinha sido por causa da “banda” (rasteira), sem dar detalhes. Depois que o vereador saiu, a criança relatou as agressões e disse que isso sempre acontecia, mas que o padrasto mandou não contar, se não “ia pegar ele“.
Após receber as mensagens das funcionárias, Monique pediu à babá que ligasse por vídeo para ela e então Henry contou à mãe o que tinha ocorrido. Alguns minutos depois, porém, Jairinho apareceu e teria se exaltado com o enteado: “Você gosta de ver sua mãe triste com o tio? Você mentiu para a sua mãe?“. “Thayná disse que pediu para que Jairinho se acalmasse, momento em que o mesmo começou a tentar tirar Henry do colo da declarante, estendendo as mãos e o chamando insistentemente, mas o menino não quis ir, se encolhendo no colo da declarante”, relatou ela.
O terceiro episódio ocorreu na última semana de fevereiro. Segundo a babá, Jairinho chegou antes do previsto em casa e chamou Henry até o quarto do casal. Quando o menino saiu de lá, relutou a contar o que havia acontecido, parecendo intimidado, mas logo depois disse que havia caído da cama e que estava com a cabeça doendo. Thayná disse então que levou a criança até a cozinha para comer um bolo. “Enquanto Henry comia, a declarante viu que ele estava com uma marca roxa no braço e, novamente, perguntou o que tinha acontecido; Henry disse, novamente, que havia caído da cama”, informou o documento.
Monique pediu para mentir
Thayná contou que antes de prestar o primeiro depoimento à polícia, se encontrou com a mãe de Henry no escritório do advogado dela. Na ocasião, a professora não só pediu que a babá mentisse em sua declaração, como também apagasse todas as mensagens enviadas e não mencionasse as brigas do casal.
![](https://media.hugogloss.uol.com.br/uploads/2021/04/monique1-617x304.jpg)
Entenda o caso
Em coletiva de imprensa realizada na última quinta-feira (8), a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que a babá do menino Henry Borel, morto no dia 8 de março, avisou à mãe da criança, a professora Monique Medeiros, que o garoto vinha sofrendo uma “rotina de violência” por parte do vereador Dr. Jairinho, namorado dela.
As autoridades tiveram acesso ao celular de Thayná de Oliveira e encontraram trocas de mensagens, nas quais a funcionária alertava a professora sobre as agressões. Embora o inquérito ainda não tenha sido concluído, a polícia acredita que Henry foi assassinado, e aponta Jairinho e Monique como suspeitos de homicídio duplamente qualificado – com emprego de tortura e impossibilidade de defesa da vítima.
A polícia afirma que Dr. Jairinho teria praticado pelo menos uma sessão de tortura contra o enteado, semanas antes da morte da criança. Ainda segundo as investigações, Monique sabia de agressões, pelo menos, desde fevereiro. No dia 12 daquele mês, o vereador teria se trancado no quarto do apartamento onde o casal vivia e agredido o menino com chutes, rasteiras e golpes na cabeça. Confira a íntegra das conversas da babá de Henry com a mãe do garoto, clicando aqui.
![](https://media.hugogloss.uol.com.br/uploads/2021/03/henry-borel1.jpg)
Na manhã do dia 8 de abril, Jairinho e Monique foram presos, suspeitos não só por homicídio, como também por ameaçarem testemunhas e atrapalharem as investigações. Os mandados foram expedidos pelo 2º Tribunal do Júri, e o padrasto e mãe da vítima permanecerão detidos preventivamente por 30 dias. Até então, o vereador e a professora negavam qualquer envolvimento com o assassinato de Henry e alegavam que o óbito teria sido decorrente de um acidente doméstico. Segundo o jornal Metrópoles, ao chegar na delegacia o político disse que tudo não passava de uma “injustiça“.
![](https://media.hugogloss.uol.com.br/uploads/2021/04/fotojet-12-617x370.jpg)
Diante dos desdobramentos, a vereadora Teresa Bergher, membro do conselho de ética da Câmara, pediu ainda na quinta-feira (8) que Jairinho fosse afastado do cargo de vereador do Rio de Janeiro. “[Ele] Precisa ser afastado imediatamente. Pela imagem da casa, pela credibilidade de cada um de nós vereadores e por respeito a esta criança vítima de um cruel assassinato e a toda a população que representamos”, afirmou ela ao G1.