Atenção: O texto a seguir contém relatos gráficos e perturbadores de violência
As investigações da morte do pequeno Henry Borel, de apenas 4 anos, têm trazido mais relatos sobre o vereador Dr. Jairinho, principal suspeito, de acordo com a polícia, das agressões que resultaram no falecimento do garotinho. Ontem (16), Débora Mello Saraiva, ex-companheira do político, prestou um novo depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca), e deu detalhes dos ataques que ela e o filho, na época com 3 anos, teriam sofrido nas mãos do parlamentar.
De acordo com o UOL, a testemunha apontou um caso ocorrido em 2015, quando estava no apartamento do vereador em Jacarepaguá. No relato, Débora disse que enquanto ela dormia, os dois filhos foram na cozinha pegar um copo de água e no caminho encontraram Jairinho. Ele mandou a menina, na época com 6 anos, ir dormir, e alegou que iria cuidar do irmão, que ainda não tinha completado 3 anos. Os acontecimentos teriam sido contados pelo garotinho para a mãe.
“Jairinho colocou um papel e um pano na boca do enteado e disse que ele não poderia engolir. Deitou o garoto no sofá da sala e apoiou todo o peso do corpo com pé em cima dele. Num certo momento, ele conseguiu se desvencilhar do vereador e foi correndo para o quarto chamando pela mãe, que foi sacudida, porém não se mexia”, relatou Débora nos documentos do processo. Sem conseguir ajuda, o garotinho enfrentou mais uma rodada de torturas. No estacionamento do prédio, o parlamentar teria feito com que a criança entrasse no carro, colocou um saco plástico em sua cabeça e ficou dando voltas com o automóvel.
A irmã de Saraiva teria dito ainda que, no dia seguinte, Débora estava com “voz de dopada” no telefone. Quando a mãe dela chegou no apartamento para buscar os netos, notou uma espécie de pó branco na taça utilizada pela mulher à noite. A ex-namorada chegou a questionar Dr. Jairinho sobre a possibilidade de algum remédio ter sido colocado em sua bebida, “porém ele negou”. Ainda em 2015, o filho dela sofreu uma outra agressão grave enquanto estava com o padrasto.
A ex-namorada do vereador relembrou o dia em que ele ofereceu para levar o enteado numa festa junto com seu filho, já que a mãe de seus herdeiros, Ana Carolina Netto, não autorizava que o político saísse sozinho com as crianças. Mais tarde, Débora recebeu uma ligação para ir até um centro médico, onde encontrou o filho “amuadinho” após ter sofrido uma torção no joelho. A mãe chegou a estranhar o fato do menino não estar chorando com uma lesão tão delicada.
Sobre a necessidade de um segundo depoimento, Débora admitiu para as autoridades que omitiu informações anteriormente porque estava sendo ameaçada por Jairinho. Ao questionar o parlamentar por qual motivo ela foi chamada na delegacia, ele teria dito que “era para ela ficar tranquila”. “É só você falar a verdade, amor”, acrescentou Jairinho, em um tom que Débora descreveu como “intimidador”.
Violências físicas
Débora Mello Saraiva e Jairinho tiveram uma relação que durou seis anos. No segundo ano, de acordo com Débora, ela teria passado a sofrer agressões do vereador recorrentemente, a ponto de não ser “capaz de contabilizar as violências sofridas, pois foram inúmeras, ao longo do relacionamento, e mesmo após o fim deste”. A primeira vez teria ocorrido em 2016, após ela mexer no celular do parlamentar e descobrir uma troca de mensagens dele com a ex-mulher Ana Carolina Netto. Nos documentos, a mulher explicou que o político “se transformou” ao vê-la com o aparelho e a pegou pelo braço com força.
Jairinho ainda teria ameaçado “sumir” com Débora e simular que foi um assalto. No depoimento, Saraiva relatou que o vereador ainda a empurrou contra o sofá, subiu nela e a enforcou. Depois de conseguir dizer que ele iria matá-la, “subitamente, a feição de Jairinho mudou e ele largou o pescoço, falando ‘vamos dormir'”. O parlamentar continuou a procurá-la em 2019. Quando Saraiva afirmou que iria ligar para Ana Carolina Netto e revelar tudo que estava acontecendo, ele fez novas ameaças contra ela e os filhos. “Faz isso que eu te machuco onde mais te machuca”, teria dito o político.
Neste mesmo ano, Débora fraturou um dedo do pé após um chute do então namorado. Ainda de acordo com ela, em 2020, Jairinho aplicou um mata-leão e a arrastou pela casa de praia em que eles estavam hospedados, em Mangaratiba, na Costa Verde Fluminense. Na ocasião, a mulher havia negado mostrar o conteúdo do próprio celular. Posteriormente, quando questionado sobre toda a violência que estava cometendo, o parlamentar teria afirmado: “Tá maluca, eu não fiz isso. Eu não fiz nada”.
Entenda o caso
Em coletiva de imprensa realizada no dia 8, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que a babá do menino Henry Borel, morto no dia 8 de março, avisou à mãe da criança, a professora Monique Medeiros, que o garoto vinha sofrendo uma “rotina de violência” por parte do vereador Dr. Jairinho, namorado dela. Em um primeiro depoimento, Thayná de Oliveira omitiu informações a pedidos da pedagoga, mas voltou atrás após as autoridades encontraram trocas de mensagens, nas quais ela alertava a patroa sobre as agressões.
Além da babá, Leila Rosângela de Souza Mattos, doméstica que trabalhava para o casal, também sabia de episódios de agressão a Henry. Embora o inquérito ainda não tenha sido concluído, a polícia acredita que o menino foi assassinado, e aponta Jairinho e Monique como suspeitos de homicídio duplamente qualificado – com emprego de tortura e impossibilidade de defesa da vítima.
A polícia afirma que Dr. Jairinho teria praticado pelo menos uma sessão de tortura contra o enteado, semanas antes da morte da criança. Ainda segundo as investigações, Monique sabia de agressões, pelo menos, desde fevereiro. No dia 12 daquele mês, o vereador teria se trancado no quarto do apartamento onde o casal vivia e agredido o menino com chutes, rasteiras e golpes na cabeça. Confira a íntegra das conversas da babá de Henry com a mãe do garoto, clicando aqui.
Na manhã do dia 8 de abril, Jairinho e Monique foram presos, suspeitos não só por homicídio, como também por ameaçarem testemunhas e atrapalharem as investigações. Os mandados foram expedidos pelo 2º Tribunal do Júri, e o padrasto e mãe da vítima permanecerão detidos preventivamente por 30 dias. Até então, o vereador e a professora negavam qualquer envolvimento com o assassinato de Henry e alegavam que o óbito teria sido decorrente de um acidente doméstico. Segundo o jornal Metrópoles, ao chegar na delegacia o político disse que tudo não passava de uma “injustiça“.
Diante dos desdobramentos, a vereadora Teresa Bergher, membro do conselho de ética da Câmara, pediu que Jairinho fosse afastado do cargo de vereador do Rio de Janeiro. “[Ele] Precisa ser afastado imediatamente. Pela imagem da casa, pela credibilidade de cada um de nós vereadores e por respeito a esta criança vítima de um cruel assassinato e a toda a população que representamos”, afirmou ela ao G1.