13 anos após o assassinato de Isabella Nardoni, sua mãe, Ana Carolina Oliveira, se deparou com outra tragédia muito dolorosa nos noticiários: a morte do pequeno Henry. Em um depoimento à revista Piauí, divulgado nesta terça-feira (13), a administradora revelou ter enviado mensagens de apoio ao pai do garoto, Leniel Borel, e desabafou sobre as semelhanças entre os casos.
De acordo com Ana, ela se sentiu sensibilizada após acompanhar uma entrevista de Leniel na televisão. “A morte brutal, os desdobramentos das investigações e a comoção causada na população são muito parecidos e doloridos”, disse ela. “Vi semelhanças com o ocorrido com a minha filha, Isabella. Por mais que as pessoas ensaiem, criando uma versão falsa para o crime, a verdade não consegue ser escondida nem por elas mesmas”, acrescentou ela, fazendo referência aos primeiros depoimentos de ambos os casos.
A troca de mensagens teve início na última sexta-feira (9). “Meu coração estava pedindo para fazer isso. Eu me coloquei no lugar dele. Escrevi que muitas pessoas estão neste momento mandando mensagens, assim como aconteceu comigo com a morte da minha filha. Recebi mensagens de pessoas que tinham passado por situações difíceis, das mais variadas formas, todas prestando solidariedade. Toda manifestação de solidariedade é bem-vinda, evidentemente, mas tem diferença quando compartilhamos uma história muito parecida”, explicou ela.
“Expliquei para ele que essa comoção enorme que tem causado na vida das pessoas deve ter um propósito, seja para pressionar as autoridades por busca de Justiça e por alguma mensagem que o Henry quer passar. Todo esse caso tem me deixado bastante comovida”, acrescentou Ana. Segundo ela, o pai de Henry respondeu: “Você não sabe como suas palavras são importantes neste momento. Está sendo muito difícil. Não paro de pensar no meu filho. Além do meu filho, eles levaram a minha paz”.
A mãe de Isabella Nardoni também lamentou: “Sabe o que é mais dolorido? Eu e Leniel entregamos os nossos filhos para quem deveria cuidar e zelar. Entregar um filho para nunca mais voltar é o que mais machuca, revolta. Não consigo explicar o tamanho dessa dor. No caso da Isabella o pai foi o culpado. No do Henry, a mãe está presa como suspeita de participar da morte do próprio filho. Justo a mãe, que deu vida à criança. Eu sou da seguinte opinião: as dores não são comparáveis. Mas elas são enormes, imensuráveis”.
Ana ainda refletiu sobre como é chocante que essa brutalidade venha do próprio lar das vítimas. “Logo no início desses dois casos, chegamos a ficar atônitos e confusos. Tanto eu quanto o Leniel. Tentamos procurar algo que justificasse a morte e que não fosse o que de fato é. É natural procurar um assassino, um culpado – e que ele não seja quem deveria proteger e dar amor”, mencionou. “No primeiro momento, você não culpa o pai ou a mãe. Nós simplesmente não queremos acreditar no que está acontecendo. Mas então vêm as notícias, as perícias, os indícios”, completou.
Para ela, a Justiça é capaz trazer um dos únicos confortos possíveis. “Nossos filhos nunca mais voltarão, mas a Justiça conforta de alguma forma o coração. O julgamento e a condenação encerram um ciclo, colocam um ponto final em uma história muito triste. No meu caso, entre o assassinato da minha filha e a condenação, passaram-se dois anos. A imprensa teve um papel importante no caso da Isabella, assim como está tendo no do Henry. Ficar em cima ajuda a colocar uma pressão nas investigações e por justiça”, observou Ana.
“Eu recebi amor e carinho por parte das pessoas que choraram e sofreram comigo, serei grata. É inegável, no entanto, que ver o rosto da sua filha e o caso ser esmiuçado deixa a cabeça muito mexida. Em vários momentos, me sentia sufocada. O luto precisa ser vivido”, acrescentou ela. A mãe de Isabella encerrou dizendo como a dor reverbera, mesmo após todo esse tempo: “A minha filha Isabella completaria 19 anos no dia 18 de abril. Nessas datas, por mais fortes que sejamos, o coração fica muito apertado”.
Em 29 de março de 2008, Isabella Nardoni não resistiu após ser agredida e arremessada do sexto andar do Edifício London, em São Paulo. Dois anos depois, a Justiça condenou o pai da garota, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, por homicídio triplamente qualificado e fraude processual. Os dois cumprem pena em penitenciárias de Tremembé (SP). Assim como sugerem as investigações do caso Henry, a brutalidade aconteceu dentro da própria casa das crianças…
Entenda o caso de Henry
A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga a morte de Henry Borel, filho de Monique Medeiros e enteado do vereador Jairo Souza Santos, na madrugada do dia 8 de março. Laudos do Instituto Médico Legal, divulgados em 12 de abril, descartam a versão contada à polícia pelo padrasto e mãe do menino, de que o óbito teria sido causado após um acidente doméstico, com o garoto caindo da cama.
As autoridades tiveram acesso ao celular de Thayná de Oliveira, babá de Henry, e encontraram trocas de mensagens nas quais a funcionária alertava a professora sobre agressões que o menino sofria por parte do padrasto. Embora o inquérito ainda não tenha sido concluído, a polícia acredita que o menino foi assassinado, e aponta Jairinho e Monique como suspeitos de homicídio duplamente qualificado – com emprego de tortura e impossibilidade de defesa da vítima.
Ainda segundo investigações, Dr. Jairinho teria praticado pelo menos três sessões de tortura contra o enteado, semanas antes da morte da criança, e Monique sabia de agressões, pelo menos, desde fevereiro. No dia 12 daquele mês, o vereador teria se trancado no quarto do apartamento onde o casal vivia e desferido chutes, rasteiras e também golpes na cabeça do menino. A pedagoga, entretanto, pediu que Thayná não denunciasse os atos violentos à polícia. Confira a íntegra das conversas da babá de Henry com a mãe do garoto, clicando aqui.
Na manhã do dia 8 de abril, Jairinho e Monique foram presos, suspeitos não só por homicídio, como também por ameaçarem testemunhas e atrapalharem as investigações. Os mandados foram expedidos pelo 2º Tribunal do Júri, e o padrasto e mãe da vítima permanecerão detidos preventivamente por 30 dias. Até então, o vereador e a professora negavam qualquer envolvimento com o assassinato de Henry e alegavam que o óbito teria sido decorrente de um acidente doméstico. Segundo o jornal Metrópoles, ao chegar na delegacia, o político disse que tudo não passava de uma “injustiça“.
Diante dos desdobramentos, a vereadora Teresa Bergher, membro do conselho de ética da Câmara, pediu ainda na quinta-feira (8) que Jairinho fosse afastado do cargo de vereador do Rio de Janeiro. “[Ele] Precisa ser afastado imediatamente. Pela imagem da casa, pela credibilidade de cada um de nós vereadores e por respeito a esta criança vítima de um cruel assassinato e a toda a população que representamos”, afirmou ela ao G1.