Victor Bonato, influenciador evangélico acusado de estuprar três fiéis, foi preso em um esquema que contou com policiais disfarçados. Victor estava em um “retiro espiritual” em Cesário Lange, interior paulista, quando foi capturado. Nesta quinta-feira (19), o Metrópoles divulgou informações da operação montada pela Polícia Civil, que foi discreta e cuidadosa. Bonato já tinha um mandado de prisão expedido quando foi detido. Ontem (18), a Justiça também negou o uso de tornozeleira eletrônica para o religioso.
A ação aconteceu em 20 de setembro e foi realizada por agentes da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Barueri, na Grande São Paulo, responsável pelo caso. De acordo com o relatório, os investigadores receberam a informação de que Victor estava hospedado em um acampamento na Rodovia Presidente Castello Branco.
O local contava com capela, cozinha, caiaques, pedalinhos e atendia até 200 pessoas. O espaço também é usado por diferentes igrejas para “encontros com Deus“. “Nossas investigações deram conta de que Victor estaria participando de um encontro de cunho religioso nesse local, contudo não tínhamos a certeza de quando ele voltaria e se é que ele voltaria para sua residência, por essa razão decidimos detê-lo“, dizia o relatório policial.
A operação manteve a discrição para “não constranger as pessoas” ou “o local onde ele se encontrava“. Segundo o documento, os policiais usaram viaturas descaracterizadas. Os carros chegaram ao local como se tratassem de fiéis. Antes de abordar e prender o religioso, os agentes entraram em contato com a equipe de segurança do acampamento. De acordo com os policiais, o influenciador estava assistindo a uma palestra e era possível vê-lo “pois as paredes do auditório eram revestidas de vidros”. “Decidimos por esperar a palestra terminar e, no momento que Victor se levantou em direção à porta, ele foi interceptado por nós e conduzido para um local isolado”, informaram.
No relatório, os policiais também registraram que “muito provavelmente Victor já suspeitava de que algo estaria acontecendo”. O influenciador não ofereceu resistência e foi levado para a Cadeia Pública de Carapicuíba, na Grande São Paulo.
A polícia encontrou 70 gigabytes de arquivos do celular de Victor, que serão analisados. Os investigadores também pediram a lista de todas as pessoas que foram autorizadas a entrar no apartamento alugado por Bonato em Alphaville, bairro nobre de Barueri, entre os dias 22 de junho e 23 de setembro deste ano. A casa do influenciador é considerada pela investigação, o cenário onde os crimes teriam ocorrido.
Justiça nega tornozeleira eletrônica e renova prisão temporária
Nesta quarta-feira (18), a Justiça negou o uso de tornozeleira eletrônica e renovou a prisão temporária do suspeito por mais trinta dias. O juiz Fabio Calheiros do Nascimento, da 2ª Vara Criminal de Barueri, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), destacou que a liberdade provisória de Victor poderia expor as vítimas. “Existem, ademais, indícios de agressividade do suspeito contra as vítimas, o que justifica o temor de que a liberdade dele possa não ser benéfica para a investigação livre”, escreveu o magistrado. O religioso se declarou inocente e afirmou que as relações sexuais foram consentidas.
Samara Batista Santos, uma das advogadas de Victor, havia entrado com um pedido de revogação da prisão temporária. Ela também foi quem sugeriu o uso da tornozeleira. A defesa dele ainda argumentou que o suspeito não apresenta risco de fuga ou prejuízo para a investigação. O passaporte dele também foi entregue para a polícia. “O requerente é absolutamente réu primário e possui bons antecedentes, bem como residência e emprego, fixos, sendo investigado somente nesse inquérito”, escreveu.
No entanto, o Ministério Público de São Paulo concordou com a renovação da prisão temporária. “A prisão se faz necessária para resguardar a ordem pública, haja vista que o crime pelo que responde o acusado é hediondo, revelando o infrator incontrolável inaptidão para o convívio social, já que é tido como um líder religioso, cercado por inúmeros jovens, o que poderá ensejar a reiteração do crime, já que goza de grande influência entre eles”, registrou o promotor Estêvão Luís Lemos Jorge.
As acusações
Victor Bonato é fundador do movimento religioso Galpão, em Alphaville, Barueri. Ele foi acusado de se aproveitar da posição de liderança para abusar sexualmente de três fiéis. Os crimes teriam ocorrido entre janeiro e setembro deste ano. Em depoimento à Polícia Civil, elas contaram que nas primeiras abordagens, eram convidadas para a casa dele para assistir a um filme. Ele passava a mão nos corpos delas, sem consentimentos, e as forçava a encostar em seu pênis, segundo os relatos.
Em dois casos, Victor teria coagido as mulheres a fazerem sexo oral, esfregando o órgão sexual no rosto de uma delas. Antes de colocar o pênis no rosto da jovem, Victor Bonato teria dito: “Quão brava você vai ficar comigo se eu colocar [o pênis] na sua boca?”. Outra mulher afirmou que Bonato “sempre exigiu” que ela “não falasse nada para ninguém e que sempre agia de forma agressiva, utilizando-se da autoridade que ele tem como líder espiritual”. Uma das jovens também disse em depoimento que ele ficou agressivo enquanto mantinha relações sexuais com ela.
Para a Polícia Civil, uma das suspeitas contra Victor é um vídeo publicado pelo influenciador um dia antes da prisão. Nele, Bonato disse que cometeu “pecados” e pediu “perdão às meninas”. “Eu magoei pessoas, feri pessoas e trouxe vergonha pra um ministério lindo nas mãos de Deus é que o Galpão. Estou vindo publicamente confessar porque eu resolvi deixar isso pra trás e quero construir certo, na luz. Eu vim confessar pra que fique claro que eu falhei”, disse. “Eu errei como homem e estou aqui confessando e pedindo perdão como homem. Quero pedir perdão às meninas com quem eu falhei, que eu defraudei, que eu magoei, com quem eu não tive atitude de homem”, revelou. Assista:
Em nota divulgada nas redes sociais do influenciador, as advogadas dele afirmaram que vão trabalhar para “provar a inocência” do cliente. Elas também disseram que compreendem “a sensibilidade do caso” e destacaram “o respeito ao devido processo legal”.