Durante o julgamento da ex-deputada Flordelis, acusada de mandar matar o marido Anderson do Carmo em 2019, uma das testemunhas afirmou que foi intimidada pelos familiares da pastora. O julgamento teve início nesta segunda-feira (7), e deve durar pelo menos mais dois dias. Em depoimento, segundo o UOL, Regiane Ramos Cupti Rabello contou que expôs supostos crimes da família e passou a ser perseguida por eles.
Regiane é ex-patroa de Lucas César dos Santos, filho adotivo de Flordelis, condenado a nove anos de prisão por envolvimento no assassinato. O jovem é suspeito de ter conseguido a arma do crime. Para o júri, a mulher contou que descobriu o que acontecia na casa da ex-deputada após se aproximar do jovem na oficina em que ele trabalhava.
De acordo com a testemunha, bombas foram jogadas em sua casa após a prisão dos reús, durante a segunda fase da investigação. Para Regiane, isso aconteceu quando a família descobriu que ela impediu Lucas de assumir a culpa pela morte do pai adotivo. “Eles estavam com muita raiva porque a Flordelis não podia visitar o Lucas e eu era essa barreira. É uma família perigosa. Eu nem sei o que os netos dela podem fazer comigo quando eu sair daqui. Mas não posso me calar porque daqui a pouco estão me matando igual fizeram com o pastor“, disse ela.
No tribunal, Regiane confirmou que Flordelis tentou aliciar Lucas para cometer o crime ou para encontrar alguém que o fizesse. Além disso, a testemunha disse que, com o andamento da investigação, a pastora pediu que o jovem assinasse uma carta assumindo a responsabilidade. A ex-deputada chegou a apresentar a correspondência à polícia, mas as autoridades encontraram indícios de fraude e desvalidaram o documento.
“O pretinho pobre que não tinha família para brigar por ele ia pegar 30 anos para arcar com os crimes deles. Como eu ia deixar isso acontecer? Estavam tentando fazer a cabeça do Lucas preso para assumir uma culpa que não era dele. Estou me sentindo coagida para não falar a verdade. Tive uma bomba jogada na minha casa, que sempre teve paz. Os carros da minha oficina foram todos rabiscados pela senhora Lorraine [dos Santos, neta de Flordelis]. Quem é a família de bandidos são eles”, desabafou Regiane.
Segundo a testemunha, alguns filhos tinham “privilégios”, diferente de Lucas, que era maltratado pela matriarca. Com o tempo, Regiane contou que ela e o marido passaram a cuidar do jovem, na época com 14 anos. “Ele (Lucas) não tinha sandália, andava sujo, maltrapilho. Lucas não foi ensinado nem como usar um desodorante. Foi meu marido que ensinou como homem. O Lucas fedia”, contou.
Cupti também narrou um episódio quando o jovem teria mostrado a ela uma conversa em que Flordelis pedia para ele simular um assalto contra Anderson e, em troca, poderia ficar com relógios do pastor.
De acordo com o UOL, a ex-deputada federal ficou de cabeça baixa, demonstrando que estava abalada com as palavras da testemunha. Além de chorar ao ver a mãe, Flordelis também teria chorado com o depoimento de Regiane, quando foi consolada por um de seus advogados.
Flordelis é acusada de ser a mandante do assassinato de Anderson do Carmo. Na época, ela afirmava que o marido tinha sido vítima de um roubo seguido de morte. A pastora responde por homicídio triplamente qualificado – por motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima -, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.
Além da pastora, a filha biológica dela Simone dos Santos, a neta Rayane dos Santos e os filhos adotivos André Luiz e Marzy Teixeira, também estão sendo julgados. Por causa do número de réus, a expectativa é de que o julgamento ocorra por pelo menos mais dois dias. Os delegados Bárbara Lomba e Allan Duarte, responsáveis pela investigação do caso, já foram ouvidos. Clique aqui para conferir os detalhes do primeiro dia.