Na manhã desta segunda-feira (4), um homem morreu baleado perto da Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro. Segundo o que relatou a família ao Uol, Marcelo Guimarães voltava de moto para pegar o celular em casa e seguir para o trabalho, quando foi atingido por uma bala de fuzil disparada pela Polícia Militar — que teria omitido socorro ao homem.
Em imagens que começaram a circular nas redes sociais, é possível ver um veículo blindado deixando o local, enquanto uma moradora afirma que a PM não ajudou Marcelo: “Não prestaram socorro, nós moradores tivemos que prestar”.
Feliz 2021? Pra quem?
Um homem Negro, TRABALHADOR e morador da Cidade de Deus morto pelas mãos de quem deveria nos proteger
O Estado segue matando gratuitamente pic.twitter.com/awtnIeyLsl
— André Dread (@andredread) January 4, 2021
A mãe da vítima, Angélica Francisca Guimarães, chegou a falar com a publicação sobre sua perda: “Eu estou muito abalada, o que eu vou falar para o meu netinho? Eles mataram meu filho à queima-roupa. Ele trabalhava muito para construir a vida dele. Foi uma covardia o que eles fizeram. Nós moradores de comunidades vivemos no medo, eu perdi meu filho, mas sei que outras mães também vão passar por isso”.
Ela completou: “Meu filho tinha acabado de matricular o filho na escolinha de futebol, no sábado, eles estavam muito animados. Ele esqueceu o celular em casa e voltava para pegar e ir trabalhar. Eles [Polícia Militar] nem pararam para ver quem ele era. As pessoas aqui da Cidade de Deus reclamam todos os dias do medo que tem de passar por aqui. Isso não pode ficar assim, eu quero justiça”.
A filha de Marcelo também lamentou a morte do pai pelo Twitter. “Tão novo, 38 anos, cheio de vida, coração bom!!!! Eu, minha mãe, meu irmão (que tem apenas 5 anos), famílias e amigos NÃO ESTAMOS AGUENTANDO COM TANTA DOR”, escreveu Vitória Guimarães.
https://twitter.com/guuimaraess/status/1346117468213792769
Ao G1, a viúva de Marcelo, Carla Roberta da Silva Cruz, contou que viu o marido de bruços no chão na Linha Amarela. Ela também reforçou que não havia confronto no momento em que Marcelo foi atingido. “Foram os policiais que tiraram a vida do meu marido. Isso eu sei porque não teve confronto na Cidade de Deus. Infelizmente eu cheguei lá e meu marido estava no chão”, disse.
“Ele não era bandido, não gostava nem de cigarro, de beber. Trabalha há mais de 20 anos com mármore. Tiro no peito, meu Deus do céu, tiro no peito”, repetia ela. “Só quero justiça, só isso que eu quero. Eu não sei o que eu vou falar pro meu filhinho de cinco, falar que o pai dele foi viajar pra muito longe, nunca mais vai voltar”, desabafou.
Em nota, a PM confirmou a morte, mas alegou que o homem foi atingido durante uma troca de tiros entre policiais e bandidos, iniciada pelos criminosos. Além das investigações por parte da Polícia Civil, a Polícia Militar informou que um Inquérito Policial Militar foi aberto.
Moradores se revoltam
Em protesto, moradores fecharam a Linha Amarela, a poucos metros do local do incidente. Foram colocadas barricadas feitas com móveis por lá. O Centro de Operações do Rio informou que a Linha Amarela permaneceu fechada no sentido Fundão por alguns minutos, deixando o trânsito caótico na região. Por volta das 12h50, a Linha já estava liberada.
https://twitter.com/ARebeliaodoPovo/status/1346145490405097481
Nas redes sociais, a hashtag #justicapormarcelo chegou a entrar nos assuntos mais comentados do Twitter. O deputado estadual do Rio, Marcelo Freixo, exigiu a investigação do crime. “Mais um pai de família, mais um trabalhador covardemente assassinado no Rio”, escreveu.
Mais um pai de família, mais um trabalhador covardemente assassinado no Rio. Segundo a família de Marcelo Guimarães, ele foi baleado no peito por um PM na Cidade de Deus quando estava indo de moto para o trabalho. Vamos exigir a investigação do crime e #justicapormarcelo.
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) January 4, 2021
Confira a repercussão:
2021 mostrando que o genocídio negro vai continuar a todo vapor. Mais uma pessoa negra assassinada. #justicapormarcelo https://t.co/3R6nBAfugT
— Tati Nefertari (@TatiNefertari) January 4, 2021
Mais um trabalhador assassinado em uma favela do Rio de Janeiro, logo na primeira segunda-feira do ano. Isso é um absurdo! Precisamos de investigações e #JustiçaPorMarcelo. #BeneditadaSilvadeputada https://t.co/EKXZxikd2F
— Benedita da Silva (@dasilvabenedita) January 4, 2021
Confronto??? Tá de sacanagem!!!! Isso é incapacidade e despreparo da PMRJ, Isso sim. Infelizmente mais uma vida inocente se vai por conta desses vermes 😤🤬 #JustiçaPorMarcelo
— Conrado 🤴🏻 (@WesleyConrado10) January 4, 2021
4/01/2021, Marcelo, morto pela polícia em plena luz do dia, aqui na Cidade de Deus, à caminho do seu trabalho…
até quando? #JusticaPorMarcelo.— Duda Almeida (@cachosdeduda) January 4, 2021
No Brasil de 2021, a execução brutal e covarde do Marcelo – 38 anos, ASSASSINADO PELA POLÍCIA MILITAR, hoje, nos acessos da Cidade de Deus, é um recado a nós, pessoas negras, faveladas e periféricas.
O ano é novo, a regra, a mesma.
Vamos nos cuidar! #JustiçaPorMarcelo ✊🏽😣— Santiago, Raull. 🤓🏹🇵🇸 (@raullsantiago) January 4, 2021