Na última terça-feira (19), Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, foi homenageada pelo “Prêmio São Sebastião”. A médica, que foi uma das profissionais mais atuantes durante a pandemia, não conteve as lágrimas ao falar sobre como o atraso no envio das vacinas contra Covid-19 ao país aconteceu por “absoluta incompetência diplomática do Brasil”.
O discurso certeiro de Margareth viralizou nas redes sociais. Nas falas, ela expressou seu incômodo: “É absolutamente inaceitável que, nesse momento, no Brasil, a gente tenha acabado de receber a notícia de que as vacinas não virão da China e da Índia”. Na ocasião, a pesquisadora reforçou que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estava pronta para produzir mais doses da vacina de Oxford, mas lamentou que as “gestões diplomáticas tenham fracassado” e atrasado esse planejamento de meses.
“O que é que pode justificar nesse momento que o Brasil não tenha as vacinas disponíveis para a sua população? Isso é absolutamente injustificado, não há nada, nenhuma explicação, que pode justificar isso”, declarou Margareth. Apesar da alegria em ser homenageada, a pneumologista não escondeu a frustração dos atrasos na vacinação e na entrega dos imunizantes.
“Eu lhes digo, não há nada neste momento que justifique, a não ser a desídia absoluta, a incompetência diplomática do Brasil que não permita que cada um dos senhores aqui presentes, as suas famílias e aqueles que vocês amam estejam amanhã ou nos próximos meses, de acordo com o cronograma elaborado, recebendo a única solução que há para uma doença como a Covid-19”, acusou Dalcolmo, sobre o governo federal.
“Não há nenhuma outra justificativa que não a nossa incapacidade de resolver algo que nós teríamos toda a obrigação”, complementou. Ela também desabafou em seus agradecimentos finais: “Adoraria estar aqui para dizer a todos os senhores: ‘Nosso cronograma será cumprido, todos nós, cada um de acordo com sua faixa etária, poderá receber a única solução para o problema’. Mas, pelo visto, isso não poderá ser cumprido independentemente de todo nosso esforço”.
Margareth ainda comentou como a pandemia tem moldado e sensibilizado profissionais de saúde. “Nós que acompanhamos pacientes desde o primeiro momento, quantas coisas nós vivemos, quantos testamentos vimos ser trocados, quantos casamentos ajudamos a ser feitos, quantas pessoas ajudamos a morrer, quantas notícias tristes nós demos as famílias, quando aquela porta se fecha e nunca mais aquela pessoa verá ninguém, a não ser os nossos olhos atrás de óculos e máscaras. Essa vivência nos tornou não mais poderosos, não mais sábios. Nos tornou mais humildes, mais atentos com o outro”, ponderou.
Assista ao vídeo aqui:
"É absolutamente inaceitável q, neste momento, nós tenhamos acabado de receber a notícia de que as vacinas não virão da 🇨🇳 ou da 🇮🇳 (…) Não há nada que justifique, a não ser a desídia absoluta, a incompetência diplomática do 🇧🇷", diz, indignada, Dra. Margareth Dalcolmo pic.twitter.com/tu4DXMpV2W
— Jeff Nascimento (@jnascim) January 20, 2021
A forte mensagem da pesquisadora ecoou pelas redes sociais e foi compartilhada por diversas personalidades, dos mais variados espectros políticos, que endossaram o discurso. “Ver a Margareth Dalcolmo chorando ao saber do atraso no calendário de entrega das vacinas da Fiocruz é tocante. E revolta”, escreveu a jornalista de ciências, Luiza Caires. “Quando uma médica e pesquisadora da envergadura de Margareth Dalcolmo, da Fiocruz, chega às lágrimas pela impotência em produzir vacinas salvadoras de vidas pela incompetência diplomática do governo Bolsonaro, é hora de desafiar o abismo à nossa frente e redobrar a luta!”, disse Renato Simões.
Ver a Margareth Dalcolmo chorando ao saber do atraso no calendário de entrega das vacinas da Fiocruz é tocante.
E revolta. https://t.co/TVFR4mBn6N
— Luiza Caires – jornalista de ciências (@luizacaires3) January 21, 2021
Qdo uma médica e pesquisadora da envergadura de Margareth Dalcolmo, da @fiocruz, chega às lágrimas pela impotência em produzir vacinas salvadoras de vidas pela incompetência diplomática do gov. Bolsonaro, é hora de desafiar o abismo à nossa frente e redobrar a luta! #VacinaJa pic.twitter.com/qm9gJLLO30
— Renato Simões (@renatosimoespt) January 20, 2021
Assim como eles, lamentou o jornalista da CBN, Brunno Melo: “‘Falta de vacinas é absoluta incompetência do governo Bolsonaro’. Quem está dizendo é uma das pesquisadoras mais renomadas do país, eleita personalidade do ano de 2020. Margareth Dalcolmo me representa”. A deputada federal Joice Hasselmann (PSL) e a cantora Daniela Mercury também compartilharam o desabafo tocante de Dalcolmo.
"FALTA DE VACINAS É ABSOLUTA IMCOMPETÊNCIA DO GOVERNO BOLSONARO"
Quem está dizendo é uma das pesquisadoras mais renomadas do país, eleita personalidade do ano de 2020. Margareth Dalcolmo me representa. https://t.co/E0zdRsmghm— Brunno Melo (@BrunnoMeloCBN) January 20, 2021
Margareth Dalcolmo (FioCruz) indignada e abalada como todos nós.
“O que é que pode justificar, nesse momento, que o Brasil não tenha as vacinas disponíveis p/ a sua população.
Isso é injustificável. (…) .
A não ser a absoluta incompetência diplomática do Brasil. pic.twitter.com/5YTPMOLRZ5— Joice Hasselmann🇮🇱 (@joicehasselmann) January 21, 2021
Dr Margareth Dalcolmo pneumologista e pesquisadora da Fiocruz. #margarethdalcomo pic.twitter.com/xgQTuUbC3C
— Daniela Mercury 🎤🌹🌈👑 (@danielamercury) January 20, 2021
Vacina de Oxford deve chegar ao Brasil amanhã
Finalmente, após muita frustração de todos, a Índia autorizou nesta quinta-feira (21) as exportações comerciais das vacinas de Oxford produzidas nos Intituto Serum. De acordo com o G1, o Brasil deve receber 2 milhões de doses do imunizante até a tarde desta sexta-feira (22).
Isso se deu depois de uma série de atrasos e problemas logísticos para recolher vacinas na Índia. O noticiário nacional também demonstrou o risco de adiamento da produção de vacinas no Brasil por conta de empecilhos impostos pela China para a exportação dos insumos da CoronaVac. Os entraves diplomáticos renderam críticas – até mesmo internas no governo federal – ao Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, graças aos vexames nas negociações com os países em um momento de tanta crise.
Seja como for, o Brasil precisa urgente de insumos para continuar a vacinação do país, que é uma das únicas esperanças no combate à pandemia.