Um menino de 7 anos viralizou nas redes sociais recentemente ao dar a melhor resposta sobre o que aprendeu em uma oficina de um projeto de educação sexual na sua escola, em Ibirama, Santa Catarina. Após a atividade comandada pela pedagoga Shirlei Silva para os alunos do 2º ano do Ensino Fundamental, Caio disse na frente da classe o que deve ser feito quando alguém tenta tocar nas partes íntimas de uma criança. Em entrevista ao hugogloss.com, a educadora falou mais sobre essa iniciativa.
No vídeo, postado pela profissional no Instagram, ela perguntou ao garoto qual atitude deve ser tomada no caso de uma possível violência sexual. Então, ele respondeu em voz alta: “Não mexe nas minhas partes íntimas”. Contente com a fala firme do menino, a pedagoga afirmou que a resposta estava correta. “Muito bem, Caio! Tem que ser assim, bravo”, comentou ela, enquanto os outros alunos o aplaudiam. Assista ao vídeo completo abaixo:
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Ao g1, a mãe de Caio, Tatiana Kloth Gubler, detalhou a situação. Os estudantes participaram de uma série de atividades lúdicas, incluindo esta na qual a educadora mostrava os sinais verde, amarelo e vermelho para indicar em quais partes dos corpos das crianças o toque é adequado. Tatiana ainda comentou que toda a família está orgulhosa da atitude do menino. “Eu achei o máximo, porque a gente sempre ensina bastante, deixamos claro que ninguém pode tocar neles e nem eles, principalmente por serem meninos, não podem tocar em ninguém”, comentou.
Segundo a mãe, educação sexual sempre foi um assunto que ela e o marido abordaram com os dois filhos – além de Caio, eles também têm uma criança de 12 anos. Para Gubler, o vídeo foi uma maneira de levar conhecimento para outras pessoas. “[O vídeo] foi importante para entenderem que educação sexual na escola é isso. Não é ensinar sexo. Eu fico feliz que foi meu filho a ir lá na frente [da turma] falar, porque sei que muitos alunos não conversam sobre isso em casa”, frisou ela.
Apesar do caso ter acontecido há cerca de um mês, a publicação só começou a ser compartilhada na web nos últimos dias. Até a tarde desta terça-feira (30), o vídeo contava com mais de 1 milhão e 300 mil visualizações, além de 122 mil curtidas. Nos comentários, os internautas elogiaram bastante também o método de ensino de Shirlei. “Muito bom, parabéns pelo trabalho mega importante”, escreveu um deles. “Que profissional exemplar”, parabenizou outro. Espia só as reações abaixo:
Educadora ressalta importância da educação sexual
Segundo Shirley Silva, o projeto de educação sexual foi aplicado em toda a rede escolar do município de Ibirama, atingindo mais de 4 mil estudantes do pré ao ensino médio. “Com as séries iniciais, nós fizemos a questão do lúdico. Eu dou orientação, eu contei história, eles assistem a um vídeo, eles fazem um jogo de semáforo, para depois chegar nesse resumo”, explicou ela ao hugogloss.com. “Nas séries finais, a gente trabalhou com um estudo de caso. O ensino médio elaborou uma proposta para trabalhar essa temática anualmente, e essas propostas foram entregues ao prefeito”, acrescentou a educadora.
Quanto ao vídeo de Caio, Shirley ressaltou que a dinâmica veio na parte final do projeto. “Aquele corte do Caio é o final, porque eu sempre pego três ajudantes e faço um resumo da aula, porque eu preciso entender que eles entenderam. Daí eu vou na prática: ‘O cabelo eu posso tocar?’. Daí eles vão dizer sim ou não. ‘Agora vamos treinar: como que a gente faz se alguém chega perto da tuas partes íntimas? Tenho que fechar a cara, tem que falar bravo, tem que falar alto, tem que constranger o abusador’, que isso é crime”, detalhou.
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A profissional destacou como o foco da educação sexual é proteger as crianças de abusos. “Os três pilares desse trabalho são a prevenção, proteção, e ensinar as crianças a denunciar com responsabilidade”, declarou. “A gente precisa ensinar as crianças a pedir socorro. Eu acho que isso que é o básico. Porque quando bate lá no conselho tutelar, a desgraça já aconteceu. O trabalho tem que ser antes. Porque é na escola que acontece todas as demandas da sociedade. É lá que o aluno vai ficar estranho, é lá que o aluno vai reagir e é lá que a gente tem que estar preparado para acolher e socorrer essas crianças e adolescentes”, mencionou Silva.
Em meio ao crescimento das estatísticas de violência sexual, Shirley pontuou como é vital tratar este assunto com sua devida seriedade. “A gente tem que colocar isso nas escolas de forma séria, porque eu sou uma profissional de educação há 20 anos, eu não vou para a escola para ensinar sexo com as crianças, e é isso que essa sociedade louca, hipnotizada, acredita. O trabalho de educação sexual é esse que eu fiz: de prevenção e proteção”, observou.
A visibilidade das ações em sala de aula também teve um impacto em vítimas de violência sexual, que mencionaram como esse tipo de ensinamento teria sido de ajuda para prevenir ou denunciar abusos. “Eu recebo diariamente de 10 a 200 relatos de pessoas que foram abusadas e o quanto seria importante ter aprendido na escola, porque saberia se defender na hora h. Iam pedir socorro, entender que aquilo era um abuso”, afirmou Shirley.
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