Mulher da Casa Abandonada: Margarida Bonetti fala pela primeira vez sobre acusações de explorar e agredir empregada; ouça

História da mulher e sua mansão na região de Higienópolis, na cidade de São Paulo, ficou famosa após o podcast de Chico Felitti

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No episódio de “A Mulher da Casa Abandonada”, desta quarta (20), Margarida Bonetti, acusada de ter mantido uma funcionária em condições análogas à escravidão entre o fim da década de 1970 e o começo dos anos 2000 nos Estados Unidos, deu uma entrevista exclusiva sobre o caso. Desde que fugiu e se isolou na mansão da família, a mulher já foi procurada por veículos como Globo, Veja e Folha de S. Paulo, mas nunca aceitou falar nada.

Para o feito inédito, o jornalista Chico Felitti chegou a acampar por 72 horas em frente à mansão de condições precárias em Higienópolis, São Paulo. Quando ele finalmente conseguiu contato, a mulher fugiu para dentro de casa, dizendo que precisava escovar os dentes. Chico chegou a desistir, no entanto, um tempo depois, Margarida ligou e eles ficaram no telefone por duas horas.

Margarida se declara inocente

A mulher se declarou inocente de todas as acusações e disse que não tinha conhecimento do que acontecia com a vítima. Segundo o jornalista, parecia que ela havia decorado um texto. “Eu quero que você saiba que a minha missão nessa vida, e isso é importante pra mim, em tudo que eu faço, que eu falo, que eu penso, onde eu consigo estender minha mão pra agir é pra fazer prevalecer o que é bom, e o bem, o que é certo, o que é justo e o que é correto”, afirmou ela.

Na entrevista, Margarida jogou a culpa em Renê Bonetti e disse que se divorciou do engenheiro, que foi condenado a seis anos e meio de prisão pelo crime e cumpriu pena em solo norte-americano. “Esse homem não é meu marido, eu me divorciei dele por causa dessa ‘porcariada’ toda, dessa imundice toda. Porque eles pensam que a pessoa que é casada, sabe do que o outro está fazendo. E eu não sabia de nada que ele fazia!”, alegou.

A mulher disse que se separou em 2007, mesma data em que Renê saiu da prisão. Acusada de maus-tratos, como puxões de cabelo e até arremesso de sopa quente no rosto da vítima, Margarida diz que tudo não passa de uma invenção. “Eles criaram um personagem, quem criou esse rolo tinha um interesse. Essa história começou porque eles pegaram três bobos – eu, ele e a senhora (‘funcionária’). Nunca na minha vida eu a agredi.”, declarou.

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Suposta amizade com a vítima

Margarida também perguntou como está a senhora que foi sua ‘empregada’. Anteriormente, a mulher havia dito que mantém uma amizade com a ex-funcionária, no entanto, a história foi desmentida por Chico Felitti. O jornalista viajou para os Estados Unidos e conversou com a vítima, que afirmou não ter mantido qualquer tipo de contato com os Bonetti desde que foi resgatada.

Quando Chico respondeu que a vítima não quer mais contato com Margarida, ela a chamou de mentirosa: “Nem eu quero [contato com ela], porque ela foi uma mentirosa, uma traidora. Eu não quero falar nada com ela, mas como eu gostava muito dela, eu a via como uma amiga de infância, então eu tenho curiosidade de saber se ela está bem de saúde, se está sendo bem tratada”.

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Margarida Bonetti sem pomada no rosto na sala de sua casa (Foto: Reprodução/Arquivo)

Salário e condições análogas à escravidão

Ao ser questionada sobre as denuncias de trabalho em condições análogas à escravidão, Margarida se esquivou e falou que a empregada tinha “liberdade, saía a hora que queria, passeava com o cachorro e tinha a chave de casa”. No entanto, a mulher não tinha condições financeiras de voltar para o Brasil caso quisesse. “Ela tinha uma andar inteiro pra ela, todo arrumadinho”, contou, se referindo ao porão. Eu ficava de seis a oito meses no Brasil e ela ficava lá sozinha. Aqui no Brasil eu tratava com as empregadas, mas nos Estados Unidos, como eu não queria ter ido, eu não fazia nada, nunca soube de nada”, se defendeu.

“Eu estava doente, tinha meus problemas de saúde e estava indo pra lá sem querer ir. Eles pensavam que eu tinha obrigação de saber das coisas, mas eu não sabia. É como se o Renê fosse meu pai, ele não era como um marido, ele mandava em mim, falava o que eu podia ou não fazer. Ele que mexia com o dinheiro. Era isso a minha vida. Ela era livre e fazia o que queria, isso tudo foi inventado. Ela era minha melhor amiga”, acrescentou.

Margarida disse que pediu para que o marido legalizasse a situação da empregada no país, o que nunca foi feito: “Eu avisei, pedi, implorei, cheguei a brigar com ele e ele não quis fazer. Olha no que deu! Ele (Renê) era muito burro, muito imbecil! Eu não tinha como resolver o assunto”.

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Culpa da Máfia

Margarida afirmou que o caso foi uma conspiração, organizada por uma máfia de advogados, congressistas e membros do FBI que queriam ganhar dinheiro. “Existia, não sei se ainda existe, como se fosse uma máfia, uma organização de advogados que queriam ganhar dinheiro através do caso das empregadas que iam para os Estados Unidos e queriam se desvincular dos seus patrões”, elaborou.

Como o próprio podcast já havia narrado, foi a partir do caso da vítima do casal Bonetti, que uma lei entrou em vigor, permitindo que funcionárias ficassem legalmente em solo norte-americano durante investigações, mesmo que denunciassem seus patrões por trabalho abusivo ou agressão.

Na conversa, Bonetti afirmou que as evidências que existem no caso são “invenções” e que ela nunca fez nada de ruim para vítima: “Eles criaram essa personalidade falsa, que é essa Margarida que você está falando. Aquela pessoa não sou eu, eu sou uma pessoa da paz, do bem. Nunca fiz nada de ruim para aquela senhora, eu gostava demais dela”.

Sobre o tratamento médico negado para a funcionária, e contrariando a investigação da polícia federal norte-americana, Margarida afirmou que a vítima foi sim ao médico. De acordo com Margarida, eles teriam entregue os prontuários das consultas para o FBI, que por sua vez, teria dado um sumiço nos papéis para incriminá-la. “Ele (Renê Bonetti) deu todas as provas para o FBI. E o FBI pegou e fez isso, sumiu com tudo e depois disse que não existia. O que é uma grande mentira”, alegou.

A Casa Abandonada. (Foto: Reprodução/Google Maps)
A Casa Abandonada. (Foto: Reprodução/Google Maps)

Vic Schneider

Segundo a mulher, a vizinha Vic Schneider, que ajudou a vítima dos Bonetti, tinha “antipatia” dela. Margarida alegou que o casal comprou a casa nos EUA antes de uma amiga de Vic, o que a teria deixado magoada. “Eu nunca fiz nada. Eu não sou essa pessoa que inventaram. Eles in-ven-ta-ram uma pessoa, porque essa Vic Schneider, por vingança, ela começou a fazer as coisas de raiva da gente, e depois porque ela queria a amiga dela pertinho dela. Ela é uma pessoa voluntariosa, essa Vic Schneider, ai de quem passe na frente dela e faça o que ela não quer”, disse.

“Nós compramos a tal da casa, ela não queria porque ela queria a amiga dela lá. Passamos na frente dela fazendo uma coisa que ela não queria, e ela nos castigou.”, completou.

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Publicação do podcast

Perto do fim da entrevista, Margarida se desesperou e pediu para que Chico não publicasse os áudios. Ela chegou a perguntar, inclusive, quanto ele estaria recebendo da Folha de S. Paulo para concluir o podcast.

Depois de mudar de assunto, a mulher pediu mais uma vez para que ela fosse retirada do programa, dizendo que o jornalista estaria “chutando cachorro morto e que deveria colocar a mão na consciência”. Ainda assim, Felitti finaliza a ligação, afirmando que publicaria o podcast, com o lado de Margarida contemplado na produção.

Ouça o episódio mais recente do podcast:

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O podcast

O podcast “A Mulher da Casa Abandonada” do jornalista Chico Felitti, publicado pela Folha de S. Paulo, conta a história de Margarida Bonetti que vive na “mansão abandonada”. Ela e o marido, Renê Bonetti, são acusados de manter uma funcionária em condições análogas à escravidão quando moravam nos Estados Unidos.

Enquanto Renê era investigado, Margarida – que se apresenta como Mari – conseguiu fugir para o Brasil e não foi julgada. O homem foi condenado a seis anos e meio de prisão e cumpriu pena em solo norte-americano.

Segundo os relatos ouvidos por Felitti, a empregada foi proibida de deixar a residência do casal por cerca de 20 anos, não tinha salário, nem auxílio médico e sofria agressões. A produção tem gerado muito debate nas redes sociais e atualmente é uma das mais ouvidas do Spotify.