Após passar quase cinco décadas trabalhando na roça, Dona Ana Maria Mendes, de 55 anos, comoveu o Brasil ao receber a notícia de sua aposentadoria. A mulher do interior do Maranhão, que trabalhava desde os 6 anos de idade, não conteve a emoção ao descobrir que receberia esse direito, até então, tão distante. Um vídeo divulgado por seu advogado, Alexandre Pereira, tocou milhares de internautas com esse respiro em meio a uma trajetória de tanta luta.
As câmeras de segurança do escritório registraram o momento em que Ana, acompanhada de sua filha, descobre que conseguiu sua aposentadoria. O advogado lhe entrega um presente de aniversário junto da notícia do benefício aprovado. Em resposta, a senhora “quebra o protocolo” do tratamento formal e se levanta para dar um abraço de gratidão no seu representante jurídico. Além de não conter os sorrisos, ela não segura as lágrimas.
“Como é bom poder contribuir para encerrar uma vida inteira de trabalho duro na roça, para sustentar 9 filhos e sozinha, sem companheiro. Meus honorários não pagam esse abraço de gratidão. Aposentada. Muita gente perguntando o que tem na sacola: é um presente de aniversário, pois minha cliente completou aniversário semanas atrás, e entreguei junto com a notícia da aprovação do beneficio”, escreveu o advogado no Instagram. Só até o momento, o vídeo já teve mais de 55 mil visualizações. Assista abaixo:
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50 anos de trabalho braçal
Em entrevista ao portal BHAZ nesta quarta-feira (29), o advogado Alexandre Pereira deu mais detalhes da história de Ana Maria, que vive numa comunidade quilombola de Apicum-Açu, no interior maranhense. Segundo ele, a senhora, que é analfabeta, trabalhou desde muito cedo na infância para ajudar a mãe, e depois para criar os filhos sozinha. “Em cidades aqui do interior, a história se repete. Assim como a mãe, ela trabalha desde criança, criando os nove filhos sozinha. E tem muito a questão do machismo, das agressões. Ela chegou a me contar que se casou três vezes, mas os maridos partiam para cima dos filhos e ela se rebelou, preferiu ficar sozinha”, relatou.
De acordo com Pereira, a mãe de Ana Maria não conseguiu se aposentar, e teve de trabalhar até perder a visão. Para não viver a mesma situação, Ana decidiu correr atrás do benefício, contando com a ajuda de sua filha. Mas depois de não conseguir a aposentadoria por outros meios, ela teve recorrer a um advogado particular – ocasião em que chegou até Alexandre, através de uma indicação. Com os trâmites legais e seu cadastro no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), eles tiveram de passar por algumas burocracias, mas chegaram ao resultado positivo passados quatros meses de processo.
O advogado explicou que entendia como essa aposentadoria era importante para sua cliente, por isso, fez questão de dar a notícia pessoalmente. “Geralmente, quando sai o resultado, mando uma mensagem para avisar. Mas, nesse caso, foi especial, porque pode ser só mais uma cliente para mim, mas pra ela é uma mudança de vida. Chamei ela e a filha e preparei o presente de aniversário, mas sabia que o melhor presente mesmo seria o resultado do benefício”, comentou.
Mesmo assim, a calorosa reação de Ana Maria foi uma surpresa para Alexandre. “Eu não esperava essa reação partindo dela. Às vezes, o cliente agradece de outras formas, presenteando com peixe, por exemplo. Porque aqui no interior o advogado é uma figura de autoridade, né? Mas ela foi tão natural, levantou pra me abraçar. Foi um momento único”, emocionou-se ele ao falar como essa situação já marcou sua carreira.
Pereira admitiu que teve medo da repercussão de seu vídeo, batendo na tecla de que não queria se promover com aquilo – o advogado disse até ter recusado atender pessoas que o consultaram apenas por causa do post. No entanto, ele ficou feliz e surpreso com a recepção positiva dos colegas de profissão. “Tive medo de que outros advogados interpretassem como publicidade, mas fiquei contente quando outros me parabenizaram e entenderam. Até um juiz de Santa Catarina ficou sabendo, o que achei muito bacana. Na área previdenciária existe muito preconceito, tem profissional que cobra o máximo que pode dos clientes. Então fiquei feliz em ajudar”, declarou.