Pernambucano de 36 anos constrói o próprio jazigo em cemitério, com direito a foto e recado: “Em breve”

Cleyton Melo de Sousa já tem o seu lugar onde cair morto no interior de Pernambuco

Cleyton Melo de Sousa

Um morador de Limoeiro, em Pernambuco, ganhou notoriedade nas redes sociais por uma atitude inusitada. Cleyton Melo de Sousa, de 36 anos, construiu o próprio túmulo no Cemitério São José, no interior do estado. O motivo? Apesar do comerciante não pensar em partir “tão cedo“, ele começou a planejar seu jazigo “do jeito que queria” depois da pandemia.

Nunca tinha pensado em fazer um túmulo para mim antes de morrer, mas de tanto acompanhar os enterros dos que faleceram aqui na vila, fui observando como eram os jazigos. Daí veio na minha cabeça que eu poderia deixar o meu pronto, do jeito que eu queria“, explicou ao TAB, do Uol.

O túmulo, explica Sousa, ficou pronto no segundo semestre do ano passado. O local ficou famoso em junho deste ano depois de uma pessoa compartilhá-lo nas redes sociais. “Ele fez um vídeo e botou nas redes sociais, mas nem sei quem é a pessoa“, destacou. Veja o vídeo:

No total, o padeiro gastou R$ 3.800,00 no projeto, incluindo terreno, mão de obra e materiais. Tudo foi escolhido à dedo pelo futuro defunto. “Mandei botar minha foto para que as pessoas façam homenagens enquanto eu estiver vivo, porque depois de morto eu não vou ver mais nada“, brincou. Sem querer dar pitacos sobre sua própria longevidade, a placa com o dia de sua morte tem apenas um singelo recado: “Em breve“.

Nas fotos, ele ainda deixou uma mensagem: “Seja humilde, faça o bem“. Para a reportagem, ele explicou o pensamento. “Não devemos devolver maldade a quem fez algum mal com a gente“, declarou.

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De início, Cleyton revelou que os parentes não gostaram muito da ideia. “Não teve ninguém da família que não achasse esquisito no começo, mas agora todo mundo já acha normal“, recordou. Casado e pai de três filhos, Melo ainda contou que a esposa “não deu muita importância” à iniciativa de primeira. “Não tinha dito a ela que, além de comprar o túmulo, eu iria fazer o que fiz“, admitiu.

Depois que já estava tudo pronto, ele me contou da foto no túmulo e sobre o que estava escrito nele“, acrescentou Tatiane Melo. “No Dia de Finados, muita gente conhecida que foi ao cemitério me telefonou, dizendo que algumas pessoas estavam acendendo vela na cova dele“, completou. Em julho deste ano, a família foi toda visitar a sepultura. “A gente sorri de tudo isso“, contou Luciana, filha mais velha de Tatiane e enteada de Cleyton.

Cleyton Melo de Sousa
Cleyton começou a planejar o jazigo depois da pandemia. (Foto: Reprodução / Youtube)

A coisa só mudou, no entanto, quando o comerciante pensou em colocar uma foto da companheira no local. “Como cabiam dois caixões, iria botar logo a foto dela junto da minha. Ela ficou muito braba“, recordou. Apesar disso, o comerciante ainda não vê nada incomum em sua atitude. “Tem gente me chamando de Cleyton da Tumba, mas o apelido não pegou muito, não. As pessoas passam por mim e brincam com toda essa situação, mas eu acho normal“, reiterou.

Seu irmão, Jorge, no entanto, não pensa do mesmo jeito. “As pessoas chegam aqui sorrindo e brincam muito com toda essa história. Os que vêm de fora da vila olham para mim e depois pra Cleyton, até ter a certeza de qual dos dois está na foto do cemitério. Não tenho nada contra a ideia que ele teve, mas não faria para mim“, admitiu. Cliente da padaria, Wellington Soares concorda: “Como é que uma pessoa viva bota uma foto no túmulo como se estivesse morta? Eu mesmo não quero um negócio desses“.

Vida no sítio

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Em vida, por outro lado, Cleyton gosta de curtir o local em que mora. “Aqui é muito bom para morar, é tranquilo. Meus pais plantam milho, macaxeira, jerimum. Não tem nada que pague você abrir a porta de casa de manhã cedo e ver muito verde na sua frente“, declara sobre a Vila Mendes – distrito de Limoeiro com quase sete mil habitantes.

A gente já se acostumou com essa vida tranquila. Aqui nós criamos três cachorros, dois gatos, algumas galinhas e também periquitos. Não quero sair daqui de jeito nenhum. Daqui eu só vou para o cemitério“, frisou o comerciante, cuja padaria fica há apenas cinco minutos, de carro, da fazenda.

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